Chapada dos Veadeiros perdeu 87% da superfície de água em 38 anos
Assim como a Chapada dos Veadeiros, demais áreas protegidas do Cerrado são as mais afetadas pela redução da superfície de água
atualizado
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As áreas protegidas do Cerrado tiveram uma redução de 66% em suas regiões hidrográficas nos últimos 10 anos, segundo levantamento divulgado pelo MapBiomas Água na quarta-feira (15/2). Entre as localidades mais afetadas está o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, com uma retração de 87% na sua superfície de água, cerca de 200 hectares.
Entretanto, os reservatórios para geração de energia elétrica instalados no Cerrado tiveram um aumento em sua superfície de água entre 2012 e 2022, o índice está 16,2% acima da média histórica, sendo que 7 das 10 mais afetadas estão no Tocantins-Araguaia.
Além do Parque da Chapada dos Veadeiros, a Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins, que fica próxima, também apresentou uma retração acentuada na superfície de água, uma redução de 81% ou 1.200 hectares.
“A perda de água em áreas protegidas afeta principalmente a vazão dos rios de importância local e ecossistemas como os campos úmidos e as veredas. É um tipo de desmatamento silencioso, pois, além de diminuir a disponibilidade hídrica, altera a estrutura da vegetação e torna essas áreas mais vulneráveis a incêndios destrutivos e à arenização”, explica Dhemerson Conciani, pesquisador no Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) um das organizações parceiras do MapBiomas.
Uma das grandes preocupações em relação a impactos no ciclo hidrológico na região é que o Cerrado é conhecido como o berço das águas. As principais bacias hidrográficas da América do Sul nascem no bioma e também têm nele os principais pontos de recarga.
Desta maneira, se ocorre redução nas superfícies de água da região, isso pode se refletir em outras regiões.
Perdas
Entre 1985 e 2022, a cobertura de água no bioma teve uma perda balanceada na maioria das áreas protegidas causada pela cheia nos reservatórios de hidrelétricas. Apesar disso, o resultado do ano passado apresenta um aumento de 11% na média histórica das superfícies de água dentro do Cerrado.
A área total ocupada pela água dentro do Cerrado atingiu 1,6 milhões de hectares no último ano.
“Na última década, as áreas de agricultura irrigada no Cerrado cresceram em torno de 85% e, apesar do pico mapeado em 2022, a superfície de água esteve abaixo da média histórica em todo esse período”, explica o pesquisador no Ipam Joaquim Pereira.
“O avanço da agropecuária sobre os remanescentes de vegetação nativa e a intensificação na demanda por recursos hídricos podem afetar negativamente a recarga dos aquíferos e da maior parte das regiões hidrográficas do Brasil”, acrescenta o pesquisador do Ipam.
Entre os reservatórios com maior ganho de superfície de água nos últimos 37 anos na região Tocantins-Araguaia são Usina Hidrelétrica Serra da Mesa (com mais 50,6 mil hectares); UHE Luís Eduardo Magalhães (mais 24,8 mil ha) e UHE Estreito (mais 18,9 mil ha).
O aumento da superfície de água dentro do Cerrado está ligada diretamente ao maior volume de chuvas no último ano, explicam os pesquisados. Em 2022, a precipitação no Cerrado ficou acima da média histórica em 5 das 9 regiões hidrográficas.
As regiões hidrográficas Atlântico Nordeste Ocidental e Parnaíba tiveram os maiores aumentos, respectivamente, 17,8% e 11,9% acima das médias históricas anuais.