Brumadinho: Vale omitiu informações sobre mina, diz agência
ANM avalia que dados importantes sobre barragem não foram repassados pela mineradora e isso impediu o alerta ao seu corpo técnico
atualizado
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Relatório técnico sobre o histórico da barragem do Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), apresentado nesta terça-feira (05/11/2019) pela Agência Nacional de Mineração (ANM), atesta que informações fornecidas pela mineradora Vale, responsável pela barragem, não condizem com as que constam nos documentos internos da mineradora e que informações sobre falhas na mina foram omitidas.
No dia 25 de janeiro deste ano, a barragem da mina Córrego do Feijão rompeu, deixando, além do rastro de destruição no município de Brumadinho, cerca de 250 mortos e mais de 20 desaparecidos.
A agência afirma que se “tivesse sido informada corretamente [pela Vale], poderia ter tomado medidas cautelares e cobrado ações emergenciais da empresa, o que poderia evitar o desastre”.
O diretor da ANM, Eduardo Leão, informou que, ao serem detectadas situações que comprometem a segurança da barragem, os responsáveis devem dar inicio às inspeções para monitorar possíveis danos.
“De imediato, a ANM envia técnicos para o local onde podem ser feitos exigências, notificações e até interditar a estrutura a fim de aumentar o nível de segurança”, explicou o diretor.
Análise
De acordo com a portaria 70.389/17, que trata de segurança de barragens de mineração, os responsáveis devem encaminhar para a ANM, quinzenalmente, informativos sobre a situação das barragens via Sistema Integrado de Gestão de Segurança de Barragem de Mineração (SIGBM).
Após o rompimento da barragem de Brumadinho, técnicos da AMN foram a campo e identificaram que “algumas informações importantes que constavam no sistema interno e nas fichas de inspeção em campo da Vale não eram as mesmas inseridas no SIGBM, o que impediu que o sistema alertasse os técnicos de situação com potencial comprometimento da segurança da estrutura”.
Drenos
Os Drenos Horizontais Profundos (DHP), tubos para direcionar a água para fora da estrutura de maneira controlada, foram instalados pela Vale em julho de 2018.
Os técnicos da ANM concluíram que “utilizar DHP em barragens à montante é algo que deve ser pensado com cuidado, pois a pressão gerada na instalação pode provocar o início de um processo de instabilização localizada do maciço”.
Um dos drenos apresentou problemas para efetuar o escoamento da água da chuva. Em outro DHT, foi encontrada a saída de sedimentos, o que pode indicar um problema mais grave.
Piezômetro
Segundo a ANM, o piezômetro, aparelho utilizado para medir a pressão das águas na barragem, apresentou alteração no dia 10 de janeiro
“Os níveis de dois piezômetros subiram e entraram em nível de emergência. O aumento da pressão dos piezômetros compromete a estabilidade da barragem. A ANM não foi informada”, diz o relatório.