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Aquecimento global aumentou intensidade de chuvas no Nordeste

Alagoas, Pernambuco e Rio Grande do Norte estão entre estados afetados por enchentes; desastres retiraram quase 70 mil pessoas de casa

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1 de 1 chuvasalagoas - Foto: Reprodução

Tempestades continuam a castigar estados no Nordeste do país, deixando um rastro de destruição pelas regiões atingidas. Alagoas, Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Paraíba estão entre os locais que enfrentam consequências como enchentes, deslizamentos e transbordamentos.

O cenário de devastação é agravado, segundo especialistas, pelo aquecimento global.

As mudanças climáticas impulsionadas pelas ações humanas resultaram em um aumento, tanto na probabilidade quanto na intensidade, das chuvas que atingiram a região do país no fim de maio e no início de junho. É o que aponta o estudo da World Weather Attribubution, divulgado esta semana.

Apesar de o período ser tradicionalmente considerado a temporada de chuvas na região do país, de acordo com a pesquisa, “esses eventos, agora, são mais prováveis ​​de acontecer do que teriam sido em um clima que não tivesse sido aquecido pelas atividades humanas”. Sem o aquecimento gobal, as precipitações teriam sido um quinto menos intensas.

A situação continua grave: segundo levantamento da Defesa Civil dos estados, mais de 70 mil pessoas foram obrigadas a deixar seus lares. No Rio Grande do Norte, choveu o esperado para o mês de julho inteiro em quatro dias. Alagoas, no entanto, é o estado com a situação mais preocupante no momento, com mais de 56 municípios em situação de emergência.

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Segundo a Confederação Nacional de Municípios (CNM), só entre 2017 e janeiro de 2022, as chuvas já causaram inúmeros prejuízos aos cofres públicos, além das tragédias familiares
No início de 2022, chuvas intensas atingiram diversas regiões de São Paulo e causaram desmoronamentos, alagamentos, deslizamentos de terras e a morte de sete crianças e 14 adultos. Segundo o governo do estado, a tragédia ainda deixou 500 mil famílias desabrigadas ou desalojadas
Também em 2022, intensas chuvas causaram o rompimento do dique da barragem da Mina de Pau Branco, localizado no município de Nova Lima, Minas Gerais, e fez com que grande bloco de pedra se desprendesse de cânion do Lago de Furnas, localizado em Capitólio, e atingisse lanchas turísticas. Quatro embarcações foram atingidas e duas delas afundaram com o impacto. Ao menos 10 pessoas morreram e dezenas ficaram gravemente feridas
Em fevereiro de 2022, chuvas intensas atingiram a região de Petrópolis, no Rio de Janeiro, e causaram desmoronamentos, alagamentos e deslizamentos de terras. Pelo menos, 152 pessoas morreram
Em dezembro de 2021, fortes chuvas causaram inundações em diversas regiões da Bahia. De acordo com a Defesa Civil do estado, os temporais deixaram mais de 20 mortos e pelo menos 3,7 mil pessoas desabrigadas
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Não é novidade a ocorrência de tragédias provocadas por tempestades no Brasil. Embora o grande volume de chuva não seja atípico no país, principalmente na Região Sudeste, alguns estados ainda sofrem com deslizamentos de terras e alagamentos

Luciano Belfort/Especial Metrópoles
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Segundo a Confederação Nacional de Municípios (CNM), só entre 2017 e janeiro de 2022, as chuvas já causaram inúmeros prejuízos aos cofres públicos, além das tragédias familiares

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No início de 2022, chuvas intensas atingiram diversas regiões de São Paulo e causaram desmoronamentos, alagamentos, deslizamentos de terras e a morte de sete crianças e 14 adultos. Segundo o governo do estado, a tragédia ainda deixou 500 mil famílias desabrigadas ou desalojadas

Divulgação/Prefeitura de Franco da Rocha
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Também em 2022, intensas chuvas causaram o rompimento do dique da barragem da Mina de Pau Branco, localizado no município de Nova Lima, Minas Gerais, e fez com que grande bloco de pedra se desprendesse de cânion do Lago de Furnas, localizado em Capitólio, e atingisse lanchas turísticas. Quatro embarcações foram atingidas e duas delas afundaram com o impacto. Ao menos 10 pessoas morreram e dezenas ficaram gravemente feridas

Reprodução/ Vídeo
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Em fevereiro de 2022, chuvas intensas atingiram a região de Petrópolis, no Rio de Janeiro, e causaram desmoronamentos, alagamentos e deslizamentos de terras. Pelo menos, 152 pessoas morreram

Luciano Belfort/Especial Metrópoles
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Em dezembro de 2021, fortes chuvas causaram inundações em diversas regiões da Bahia. De acordo com a Defesa Civil do estado, os temporais deixaram mais de 20 mortos e pelo menos 3,7 mil pessoas desabrigadas

Facebook/ Reprodução
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Em 2020, fortes chuvas atingiram o litoral paulista, deixaram 45 mortos por deslizamento de terra e dezenas de famílias sem moradia. Além de civis, dois bombeiros que ajudavam no resgate das vítimas também morreram soterrados. Essa foi considerada uma das maiores tragédias do estado

Fábio Vieira/Especial Metrópoles
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Em 2019, intensas chuvas causaram deslizamentos nas cidades de Recife, Lima, Abreu e Olinda, em Pernambuco. Cerca de 1,6 mil pessoas ficaram desabrigadas ou desalojadas e 11 foram mortas. Uma jovem grávida de 8 meses estava entre as vítimas

Divulgação/ Prefeitura de Camaragibe
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Em 2011, a chuva na Região Serrana do Rio de Janeiro causou a morte de ao menos 900 pessoas. A tragédia foi considerada a maior catástrofe natural do país

Reprodução/ TV Globo
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Durante o Réveillon de 2010 em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, ao menos 53 pessoas morreram soterradas devido a intensas chuvas na região

Reprodução TV Globo
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Em 2008, temporais tomaram 60 municípios de Santa Catarina e deixaram mais de 150 mortos vítimas de soterramentos ou enchentes e ao menos 80 mil pessoas desalojadas

Reprodução/ TV Globo

“Esses são eventos climáticos extremos, que têm se tornado cada vez mais frequentes em todo o mundo num contexto de aquecimento global. Trata-se, portanto, de resultado direto da influência antrópica (dos humanos) sobre a atmosfera terrestre”, aponta o geólogo Rafael Rodrigues da Franca, professor da Universidade de Brasília (UnB) e doutor em climatologia.

Além disso, devido às condições impostas à natureza, outros fatores, como o aumento do nível do mar e as marés mais altas, podem aumentar a vulnerabilidade às chuvas fortes, levando a mais inundações urbanas em Recife, por exemplo.

Situação tende a se agravar

O cenário havia sido anunciado no último relatório Mudanças Climáticas 2022: Impactos, Adaptação e Vulnerabilidade, do Painel Intergovernamental de Mudança do Clima (IPCC), divulgado no início deste ano.

Entre as conclusões do estudo, a população afetada por enchentes e deslizamentos de terra no Brasil pode dobrar, ou até triplicar, nas últimas décadas, em um cenário de aquecimento global de 1,5ºC. Atualmente, o planeta já aqueceu 1,1ºC em relação aos níveis pré-industriais.

A projeção para o cenário brasileiro inclui os seguintes alertas:

  • A região Norte tem a expectativa de ter um aumento de 2 °C a 6 °C em todas suas estações e consequente aumento na frequência de eventos de extremo calor e uma diminuição da precipitação média, sendo uma das regiões da América do Sul mais vulnerável;
  • A região Centro-Oeste teve um aumento no tamanho de suas épocas de seca, com 90% dos espaços analisados registrando uma diminuição em seu índice pluviométrico, além de ter tido um aumento de eventos de extremo calor. Uma das consequências esperadas é o aumento do déficit hídrico do pantanal;
  • Plantações de soja e milho na região do Cerrado vão sofrer impactos significativos, necessitando de altos investimentos em adaptação;
  • No Nordeste, há expectativa de aumento de cerca de 2 °C nas temperaturas anuais máximas caso a temperatura média do planeta seja mantida em 1,5 °C, e 2,5 °C, se a temperatura chegar a 2 °C. As consequências se estendem a uma diminuição das precipitações, concomitantemente ao aumento de chuvas extremas, projetando cenário de déficit hídrico para a região;
  • as regiões Sul e Sudeste registrarão um aumento na média pluviométrica anual e um significativo aumento de chuvas intensas, intensificando deslizamentos de terra e alagamentos; e
  • as metrópoles da região Sudeste, especialmente São Paulo, Rio de Janeiro, e Belo Horizonte terão problemas com escassez de água devido ao seu crescimento urbano.

Entre extremos

O país também está entre os mais vulneráveis para ondas de calor, como as observadas, mais recentemente, em países como a Índia e o Paquistão. Nesses locais, o calor ultrapassou a temperatura dos 50 °C, e chegou perto do limite suportado pelo ser humano — o que resulta, além de problemas de saúde, em um enorme custo econômico.

Caso o cenário se mantenha, partes do Norte, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil ficarão vulneráveis aos riscos provocados por tais condições de calor por até 30 dias por ano. Em consequência, as mortes por calor em território brasileiro aumentarão 3% até 2050 e 8% até 2090.

No topo da lista dos mais vulneráveis, está a população de baixa renda. A pesquisa da World Weather Attribubution ressalta que os deslizamentos de terra ocasionados por precipitações nos últimos meses afetaram desproporcionalmente essas comunidades, com “particular devastação em bairros de baixa renda”.

Em suma, a magnitude do desastre ocasionado pelas enchentes em 2022 sobre esses grupos foi exacerbada pela vulnerabilidade estrutural pré-existente na região.

“Do ponto de vista jurídico, para frear o agravamento desses fenômenos é importante a elaboração e efetiva implementação de políticas públicas voltadas para mitigação e adaptação às mudanças climáticas”, frisa o professor Rômulo Sampaio, de Direito Ambiental da Fundação Getulio Vargas (FGV) do Rio de Janeiro.

Na mira internacional

Pelo terceiro ano consecutivo, o mês de junho registrou alta no desmatamento ilegal na Amazônia. Foram 1.120 km² devastados no bioma, segundo a análise. Trata-se da maior marca desde 2016, início da série histórica. O dado foi revelado nessa sexta-feira (8/7) pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe).

O Brasil fechou 2021 como líder no ranking mundial de destruição de florestas tropicais, sendo responsável por mais de 41% da perda de vegetação primaria do planeta no ano passado, de acordo com a plataforma de monitoramento Global Forest Watch (GFW).

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