Após incêndio, Chapada dos Veadeiros encanta com recuperação
Queda no comércio e nas hospedagens varia entre 60% e 80%. Com a restauração da natureza, empresários esperam a volta de visitantes
atualizado
Compartilhar notícia
Em meio às cinzas, às tristes lembranças da maior queimada da história do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, a Amarilis se ergue no Vale da Lua, área mais atingida entre os pontos turísticos da região. Algumas dezenas dessa flor característica do Cerrado vencem a devastação para mostrar que a vida pode renascer. O mesmo fazem os comerciantes de São Jorge, onde ficam as mais belas quedas d’água da região e as piscinas termais.
Ainda sob investigação, o incêndio que destruiu cerca de 15% do Parque Nacional prejudicou toda a economia de São Jorge. A queda média na arrecadação chega a 60%, mas há pousadas que falam em prejuízos de 80% nas reservas de hospedagens.
O motivo vai além da própria queimada. A repercussão na mídia convencional e nas redes sociais assustou os visitantes e turistas, que são principalmente de Brasília, Goiás, Minas Gerais e São Paulo. Reservas para os meses de outubro, novembro e dezembro – para as festas de final de ano — foram canceladas.
A presidente da Associação de Comerciantes da Vila São Jorge, Giovani Tokarski, conta que a maior parte do incêndio ocorreu dentro do Parque Nacional, longe da trilha que leva às quedas d’água. “A área onde as pessoas caminham até as cachoeiras está praticamente intacta. O comércio continua funcionando normalmente, restaurantes, lojas de artesanatos e hospedagens. Além do mais, com as chuvas que vieram após as queimadas, o cerrado está praticamente recuperado”, afirma.
Dono de um dos restaurantes mais badalados do distrito de São Jorge, o empresário Alexandre Cardoso Chaves conta que, nos fins de semana, seu estabelecimento chegava a ter fila para entrar, o que não vem ocorrendo há algumas semanas. Devido ao incêndio, muitos turistas desistiram de visitar o Parque Nacional dos Veadeiros. As imagens divulgadas assustaram a clientela.“As pessoas ligavam perguntando se o incêndio havia destruído muito, mas era possível transitar, ir até as cachoeiras. Nós vivemos apenas do turismo, por isso, a divulgação da forma que foi acabou prejudicando e muito o comercio local”, afirma Alexandre, que conta ter sido normal, até o dia 20 de novembro, todas as reservas de ano novo estarem fechadas. Mas, com as notícias sobre a devastação do fogo, elas foram canceladas ou não confirmadas.
O mês de novembro, por causa do tempo chuvoso, costuma ser mais vazio para o comércio e as hospedarias. Ainda assim, as queimadas potencializaram a crise.
Destruição e Recuperação
O guia turístico João Di Trindade trabalha na região há 3 anos. Antropólogo de formação, ele foi um dos fundadores da Casa da Universidade de Brasília (UnB) no local, ainda na década de 1990. Durante o percurso de 10 quilômetros de caminhada até as principais cachoeiras da região (5 quilômetros de ida e outros 5 quilômetros de volta), ele apresenta curiosidades sobre o misticismo do local, assim como a história de exploração dos cristais, mineral abundante em toda encosta.
Di Trindade explica que queimadas são comuns, feitas por agricultores, mas não na região e na proporção das que ocorreram durante o mês passado. Entretanto, segundo ele, o fogo não foi suficiente para destruir a área mais visitada.
Ex-garimpeiro de cristais, atualmente músico e guia do parque, Adelidio Ferreira de Almeida lembra que queimadas eram comuns em outros tempos. Elas eram realizadas para proteger os próprios animais da região de incêndios de grandes proporções. Com a relva mais baixa, o fogo não se alastrava com facilidade e os animais podiam procriar nas áreas protegidas.
Enquanto as áreas das cachoeiras e das termais ficaram quase intactas, o Vale da Lua teve sua paisagem devastada. Quem conheceu o local antes da queimada afirma que é desolador ver como ficou o cenário. A trilha de pouco mais de 1 quilômetro era cheia de árvores, transformadas em carvão.
Ainda assim, visitantes de primeira viagem se admiraram com o local e suas pedras que parecem fazer parte do cenário de um filme interespacial. “Vimos tudo queimado, mas ainda assim achamos lindo. No caminho, já percebemos muita coisa recuperada”, disse o servidor público Sávio Santana, 31 anos.