Médicos Sem Fronteiras diz que Brasil vive “catástrofe humanitária”
Em nota, a organização afirma que falta vontade política de reagir de maneira adequada à emergência sanitária que o país enfrenta
atualizado
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São Paulo – Nesta quinta-feira (15/4), a organização internacional Médicos Sem Fronteira (MSF) se manifestou quanto ao descontrole da pandemia no Brasil. E destacou que o país enfrenta uma “catástrofe humanitária” sem uma resposta efetiva, centralizada e coordenada do poder público, para lidar com a Covid-19.
A MSF apontou que “a falta de vontade política de reagir de maneira adequada à emergência sanitária está causando a morte de milhares de brasileiros”.
E apela “às autoridades brasileiras para que reconheçam a gravidade da crise e coloquem em marcha uma resposta centralizada e coordenada para impedir que continuem ocorrendo mortes que podem ser evitadas”.
Para o presidente internacional da MSF, Christos Christou, “medidas de saúde pública se transformaram em tema de disputa política no Brasil”.
Christos ainda afirma: “A consequência disso é que ações de política pública com fundamento científico são vinculadas a posicionamentos políticos, em vez de estarem associadas à necessidade de proteger indivíduos e suas comunidades da Covid-19.”
Bases científicas
O presidente da organização ainda aponta que “o governo federal praticamente se recusou a adotar diretrizes de saúde pública de alcance amplo e com base em evidências científicas, deixando às dedicadas equipes médicas a tarefa de cuidar dos mais doentes em unidades de terapia intensiva, tendo que improvisar soluções na falta de disponibilidade de leitos”.
E conclui: “Isto colocou o Brasil em um estado de luto permanente e o sistema de saúde do país à beira do colapso”
A diretora-geral da MSF, Meinie Nicolai, também se manifestou na nota, e disse que a resposta à Covid-19 no Brasil tem de começar na comunidade, não na UTI.
“Não apenas suprimentos médicos, como oxigênio, sedativos e equipamentos de proteção, têm de chegar onde são necessários, mas o uso de máscaras, o distanciamento físico, medidas de higiene e restrições a atividades não essenciais e à movimentação devem ser promovidas e implementadas no nível da comunidade, de acordo com a situação epidemiológica de cada região”, afirma Meinie.
A organização ainda apontou os dados estarrecedores de contágios e mortes referentes à Covid-19 no Brasil: na semana passada, 11% do total de novos casos e 26,2% das mortes ocorridas no período em todo o mundo aconteceram no país.
“Estas cifras estarrecedoras são um indicativo claro da falta de habilidade das autoridades em lidar com a crise humanitária e de saúde que atinge o país e do seu fracasso em proteger os brasileiros, especialmente os mais vulneráveis, do vírus”, define a MSF.
Atuação no Brasil
No Brasil, a organização atuou em abrigos para pessoas sem moradia e em 50 unidades de saúde, de oito estados diferentes. Atualmente, estão prestando atendimento em em Rondônia, Roraima e no Amazonas.
“A devastação que as equipes de MSF testemunharam primeiro na região do Amazonas agora se tornou realidade na maior parte do Brasil”, disse Pierre Van Heddegem, coordenador do programa de emergência de Covid-19 dos MSF no Brasil.
No país, equipes dos MSF trabalharam em abrigos de população sem teto, e em 50 unidades de saúde em oito estados. No momento, estão atuando em Rondônia, em Roraima e no Amazonas.
“A falta de planejamento e coordenação entre as autoridades federais de saúde e suas contrapartes nos estados e municípios está tendo consequências de vida ou morte”, afirmou Pierre.