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Médicos relatam estresse e pânico com pandemia de Covid-19

Profissional de saúde disse que começou a ter pesadelos com pacientes diagnosticados com Covid-19 em estado grave

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1 de 1 Superlotação UTIs DF - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

Lucas* é médico há pouco mais de um ano, mas já sente a necessidade de tomar medicamentos contra ansiedade para seguir em pé na profissão, ante o agravamento da pandemia do novo coronavírus.

O profissional, que atua na linha de frente contra a Covid-19, relata que tem trabalhado até 108 horas por semana, o equivalente a pouco mais de quatro dias ininterruptos de trabalho, ou jornada diária de 18 horas (considerando uma semana com apenas um dia de descanso).

“É sempre muito puxado. A gente acaba pegando plantões extras para suprir a demanda, pois a quantidade de pacientes tem sido cada vez maior. Eu acabei de sair de um plantão de 96 horas, por exemplo”, relata o médico, que optou por não se identificar.

Lucas trabalha no Hospital Leonardo Da Vinci, em Fortaleza (CE), e em uma outra unidade de saúde, na cidade de Itaiçaba, a 265 km da capital cearense. O relato dele, contudo, não é exceção.

O agravamento da pandemia no país – que atingiu, na terça-feira (6/4), novo patamar recorde, de 4.195 óbitos nas últimas 24 horas – tem impactado fortemente as relações pessoais de médicos.

Pesquisa realizada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) revela que cerca de 23% desses profissionais relatam elevação no nível de estresse no trabalho.

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Pacientes com Covid-19 sofreram com a falta de leitos de UTI e de oxigênio, em Manaus (AM), no início deste ano
Pacientes com Covid-19 sofreram com a falta de leitos de UTI e de oxigênio, em Manaus (AM), no início deste ano
Pacientes com Covid-19 sofreram com a falta de leitos de UTI e de oxigênio, em Manaus (AM), no início deste ano
Pacientes com Covid-19 sofreram com a falta de leitos de UTI e de oxigênio, em Manaus (AM), no início deste ano
Pacientes com Covid-19 sofreram com a falta de leitos de UTI e de oxigênio, em Manaus (AM), no início deste ano
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Além disso, 14,6% dos médicos disseram que a pandemia do novo coronavírus gerou uma sensação de pânico diante do desconhecido.

O levantamento foi feito entre setembro e dezembro do ano passado, com um total de 1.549 médicos de todas as unidades federativas do país, e publicado nesta quarta-feira (6/4). A maioria dos entrevistados atua em atendimento hospitalar, atenção básica e UPAs.

Vice-presidente do CFM, Donizetti Dimer Giamberardino Filho explica, contudo, que a taxa de médicos que relatam estresse no trabalho pode ser maior ainda, uma vez que há profissionais que não admitem ou não conseguem identificar o problema.

“Existe um segmento maior de pessoas com alteração de humor, mas que não se consideram estressadas”, diz, em conversa com o Metrópoles.

“É uma doença desconhecida, grave, mortal, em condições de trabalho adversas e, muitas vezes, a capacidade instalada se esgotando, e os doentes não param de chegar… É uma situação que em qualquer ser humano causa estresse”, completa.

A pesquisa mostra também que 11,5% tiveram que alterar horários de refeições e de lazer com a família por causa da pandemia e 7,6% contam que o trabalho excessivo comprometeu as horas de descanso e a qualidade do sono.

Lucas, por exemplo, relata que teve dificuldades para dormir sobretudo nas últimas semanas. O estresse é tão grande, segundo ele, que, quando consegue descansar, sonha com o atendimento de pacientes graves.

“Já tive pesadelos, várias vezes, sobre a perda de pacientes graves. Até em momentos de descanso do plantão sonho estar atendendo algum paciente intubado”, conta.

O situação se agrava, segundo Lucas, devido às crises geradas em torno da pandemia, como a disputa entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e governadores e prefeitos, além da lentidão na vacinação e a falta de medicamentos e de materiais hospitalares.

“A gente tem observado que as vacinas chegam, mas não alcançam a população. Então dá uma sensação de desânimo. Outra frustação é a falta de materiais. Chega a ser inadmissível que um hospital de grande porte passe por isso”, afirma o médico.

Por sua vez, Giamberardino avalia que a falta de um grande comando central e a existência de uma “municipalização” da pandemia acabam gerando “muitos cérebros e muitas visões”.

“Essa desarmonia faz com que nós percamos na racionalidade do uso de recursos, que já são escassos. A expectativa que nós temos sobre vacinas, leitos hospitalares, insumos – que estão faltando –, em todo o momento, as condições não foram adequadas aos médicos”, relata o vice-presidente da CFM.

“Faz mais de um ano que estamos nesta luta contra a pandemia. A perspectiva de melhorar ainda é de médio prazo. Ninguém tem certeza de quando vai melhorar”, complementa.

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