Médico usou dados de enfermeira para preencher cartão de esposa de Cid
Dados não foram aceitos no sistema de saúde do Rio de Janeiro, onde a mulher de Cid, teoricamente, teria tomado a vacina
atualizado
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O médico Farley Vinícius Alencar de Alcântara, alvo da mesma operação da Polícia Federal que Jair Bolsonaro, copiou os dados de vacinação de uma enfermeira não identificada de Cabeceiras, interior de Goiás, para falsificar um cartão de imunização para a esposa de Mauro Cid, Gabriela Santiago Cid.
No entanto, os dados não foram aceitos no sistema de saúde do Rio de Janeiro, onde a mulher teoricamente haveria tomado a vacina. Assim, Luis Marcos dos Reis, então um dos integrantes da Ajudância de Ordens da Presidência da República, pediu ao sobrinho, o médico Farley, que enviasse um cartão em branco para que fosse preenchido com dados do estado.
“Amanhã vejo se desenrolo isso. Cartão em branco né q ele quer?”, disse Farley em mensagem ao seu tio.
“Sim, ai a gente coloca o lote do Rio!”, respondeu Luis Marcos.
De acordo com as mensagens identificadas, o crime não se consumou, pois os lotes das vacinas contra Covid-19, utilizados para inserir no sistema do Ministério da Saúde, não foram distribuídos para o Rio de Janeiro. O crime identificado foi o de peculato eletrônico.
As mensagens foram obtidas como parte da Operação Venire. Segundo a corporação, falsificaram dados de vacina da Covid o ex-presidente Jair Bolsonaro; a filha mais nova, Laura Bolsonaro; Mauro Cid, um dos auxiliares de Bolsonaro presos; a esposa de Cid; e a filha de Cid.
Farley é servidor da Secretaria de Saúde do Distrito Federal. Como mostra o portal da transparência do governo, o médico alvo da PF está “desligado” de suas funções, mas consta como servidor em “situação ativa”. Alcântara, contudo, trabalha no Rio de Janeiro como médico em uma clínica particular de olhos, em São Gonçalo, cidade na região metropolitana do estado.
A operação
A Polícia Federal deflagrou a “Operação Venire”, cujo nome deriva do princípio “Venire contra factum proprium”, que significa “vir contra seus próprios atos”, “ninguém pode comportar-se contra seus próprios atos”. É um princípio-base do direito civil e do direito internacional que veda comportamentos contraditórios de uma pessoa.
Segundo a PF, os suspeitos da fraude inseriram dados falsos de vacinas contra a Covid-19 nos sistemas do Ministério da Saúde entre novembro de 2021 e dezembro de 2022.
O objetivo foi emitir certificados falsos de vacinação para pessoas que não tinham sido imunizadas e, dessa forma, permitir que elas pudessem viajar e acessar locais onde a imunização era obrigatória.