Médica denuncia que foi demitida por não prescrever kit Covid em Goiás
Plano de saúde faz monitoramento de profissionais que não indicam medicamentos sem comprovação científica sobre eficácia contra doença
atualizado
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Goiânia – Uma médica de um plano de saúde privado diz que foi demitida nesta semana, após ser incluída em “lista de ofensores” por se recusar a receitar kit Covid a pacientes internados com a doença em um hospital particular de Goiânia. A Organização Mundial de Saúde (OMS) não indica os medicamentos do kit, como cloroquina, azitromicina e outros.
“Não é explícito, porém a gente sente uma hostilização em relação à prescrição desses kits, muitas vezes a diretoria convoca reuniões, onde expõe as nossas porcentagens de prescrição, certo?”, disse, em reportagem publicada pela TV Anhanguera/Globo.
“Lista de ofensores”
De acordo com a denúncia, os profissionais do plano de saúde são monitorados para saber se estão, ou não, prescrevendo o kit. Em caso negativo, eles passam a ter o nome na “lista de ofensores”. “E muitos desses colegas que, porventura, têm esse índice baixo são retirados da escala. Então funciona dessa maneira”, acrescentou a profissional, que não foi identificada.
Em nota, o plano de saúde Hapvida disse que os médicos têm total liberdade para orientar cada paciente com Covid e que o tratamento precoce é feito em comum acordo.
O plano não informou sobre a situação dos médicos e a chamada “lista de ofensores” para quem não receita o kit. Também não se pronunciou sobre a denúncia de médicos contratados pelo plano e que forem demitidos por descumprir o protocolo (veja mais detalhes ao final desta reportagem).
Recomendação
A recomendação do Ministério da Saúde é que os pacientes procurem uma unidade de saúde ao sentir sintomas da doença e que os médicos podem receitar o tratamento que achar mais adequado aos pacientes.
Em uma das mensagens trocadas entre médicos do plano de saúde e divulgada pela TV, aparece um alerta: “Seu percentual de prescrição kit covid está abaixo da meta. Convido a participar da reunião!”, diz a mensagem.
O aviso é compartilhado com uma planilha com nomes e uma classificação: “médicos ofensores”. Refere-se aos profissionais que não prescrevem o kit Covid.
“Unidades ofensoras”
Em outra planilha do mesmo plano de saúde, aparecem gráficos de prescrição e dispensação do kit Covid em todo o país. Hospitais onde o kit é menos receitado são classificados em vermelho e chamados de “unidades ofensoras”.
A reportagem teve acesso também ao protocolo, que indica como deve ser o tratamento. A receita é sempre a mesma combinação de medicamentos.
De acordo com a médica, o CID para qualquer síndrome gripal, necessariamente, é vinculado à prescrição dos kits. No entanto, cada profissional tem a opção de prescrever, ou não, mas sua decisão é monitorada.
A Sociedade Brasileira de Infectologia alerta que as substâncias do kit têm agravado a condição de doentes internados em leitos de unidades de terapia intensiva (UTIs).
Os médicos, segundo a entidade, não podem ter uma receita padrão, muito menos com medicações para as quais não há comprovação científica sobre a eficácia deles em tratamento contra a Covid.
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OMS
A Organização Mundial de Saúde é contrária ao uso de medicamentos que ficaram conhecidos como kit Covid, depois de um grande volume de pesquisas feitas em mais de um ano de pandemia.
No entanto, mesmo assim, no Sistema Único de Saúde (SUS), centros de enfrentamento de Covid-19, que são custeados pelo Ministério da Saúde, seguem protocolos com a mesma combinação de medicamentos, com uma receita pronta.
Na página da Secretaria de Atenção Primária à Saúde, do Ministério da Saúde, estão os protocolos e materiais de apoio para os gestores e profissionais que estão na linha de frente. Um deles é intitulado: “Orientações para manuseio medicamentoso precoce de pacientes”.
O protocolo traz a recomendação para usar cloroquina, sulfato de hidroxicloroquina e azitromicina para pacientes com sintomas leves, moderados e graves.
Nota do plano Hapvida
Sempre respeitamos a soberania médica quando o objetivo é salvar vidas. Dentre os 4 mil médicos das emergências e urgências da rede, menos da metade adotou o tratamento precoce, conforme sugerido em protocolos dinâmicos, elaborados por um comitê médico internacional que se apoia em evidências clínicas e critérios do CFM – Conselho Federal de Medicina diante da excepcionalidade da situação, para prescrição em pacientes com sintomas leves no início do quadro clínico, em que tenham sido descartadas outras viroses (como influenza, H1N1, dengue), e que tenham confirmado o diagnóstico de COVID 19, desde que em comum acordo com os pacientes. A outra metade, utiliza outras drogas. Isso comprova a total liberdade de tomar uma condução terapêutica.
Neste momento, há, em nossa rede de atendimento em Goiânia, uma desmobilização de equipes extras devido, felizmente, à redução do atendimento de urgência por síndromes respiratórias.
Importante destacar que não há registros de internações resultantes de qualquer efeito colateral pelo uso do tratamento precoce. A empresa acompanha atentamente a jornada de todos os pacientes até o desfecho de cada caso.
Para nós, cada vida importa. Não hesitamos na hora de garantir o acesso à saúde, com os melhores protocolos médicos e medicações que se mostraram, em nossa experiência clínica, eficientes no enfrentamento do vírus, sobretudo no início dos sintomas.