“Me sinto afrontada”, diz juíza em novo interrogatório de Jairinho
Ex-vereador, réu pela morte de Henry Borel, é interrogado nesta segunda-feira (13/6) em sessão marcada por novos embates
atualizado
Compartilhar notícia
Rio de Janeiro – Com mais de duas horas de atraso, o interrogatório de Jairo Souza Santos Júnior — médico e vereador cassado, conhecido como Dr. Jairinho, réu pela morte do menino Henry Borel — trouxe novo embate entre a defesa do ex-político e a juíza Elizabeth Louro, do II Tribunal do Júri, nesta segunda-feira (13/6).
Marcado para 9h30, o julgamento teve, às 11h20, um apontamento, feito pela promotora Bianca Chagas, de matéria que insinuava que a magistrada responsável pelo caso era “louca”. O texto teria sido repostado pelos advogados de Jairinho. A situação fez com que a defesa do médico ficasse em pé no plenário, o que incomodou a juíza.
https://twitter.com/Metropoles/status/1536402664354873344
“Eu me sinto afrontada com todos os advogados em pé em cima de mim, e não vou permitir”, disse a juíza Elizabeth Louro. A magistrada foi chamada de “Rainha de Copas” durante discurso do procurador-geral nacional de prerrogativas da OAB Federal, Alex Sarkis, em evento da OAB-RJ. Nessa ocasião, também foi insinuado que a magistrada era “impaciente e surtada”.
“Essa infeliz expressão não me atingiu. Nós, mulheres, estamos acostumadas com a misoginia, mas eu achei tão pobre, que não darei sequência”, disse Elizabeth Louro.
Advogado de Jairinho, Claudio Dalledone afirmou que a magistrada solicitou que a defesa do ex-vereador não se aproximasse dela durante o interrogatório.
“Nós iniciaremos hoje o ato sagrado de autodefesa, o interrogatório do acusado. Tivemos um dessabor ao início quando busquei um requerimento de pessoas que deveriam comparecer, e a juíza estranhamente disse que não permitiria que nós saíssemos da bancada de defesa, e que não nos aproximássemos dela. Também me presenteou com os adjetivos de cínico, deselegante, e disse que na audiência passada eu quase a agredi. As delegadas da ordem tudo presenciaram”, afirmou Dalledone, antes da sessão.
O caso
Jairinho e Monique são réus pela morte de Henry Borel, no dia 8 de março de 2021. Segundo laudo complementar de necropsia do Instituto Médico Legal (IML), a criança morreu em decorrência de hemorragia interna por laceração hepática, causada por ação contundente.
Na última sexta-feira (10/6), a Justiça negou o pedido do ex-vereador Jairinho de ouvir novamente as médicas responsáveis por atender o menino Henry Borel na noite de sua morte. A decisão veio da própria juíza Elizabeth Machado Louro.
O pedido da defesa pedia também que os peritos que realizaram a reprodução simulada da morte de Henry e um radialista que examinou o menino fossem ouvidos novamente.
Além disso, a defesa do ex-vereador solicitou que os exames feitos pelo radialista fossem incluídos nos autos do processo. Este foi o único pedido deferido pela juíza. “A defesa já esperava esta decisão da juíza, e novamente vai buscar no TJRJ o direito à ampla defesa do médico e ex-vereador Jairinho”, diz a nota assinada pelos advogados Cláudio Dalledone e Flávia Fróes.
“A mesma magistrada não queria ouvir os peritos que revelaram, entre outras coisas, uma série de contradições e omissões no laudo de necropsia de Henry Borel, além de comprovar com documentos do Barra D’Or que o menino chegou vivo ao hospital, contrariando assim a reconstituição do caso. A morte de Henry Borel é cercada de dúvidas que precisam ser esclarecidas e tais depoimentos são fundamentais para isso”, prosseguem os advogados.
Interrogatório
Jairinho e Monique foram interrogados pela primeira vez no dia 9 de fevereiro, mas o ex-vereador optou por permanecer em silêncio na ocasião. A professora, no entanto, depôs por onze horas.
“Só Deus, meu filho e Jairinho sabem o que aconteceu naquela madrugada”, disse Monique, em versão diferente da inicialmente sustentada.
Antes, o casal alegava acidente doméstico como causa da morte de Henry — versão confrontada com o laudo pericial, que apontou 23 lesões no corpo da criança e hemorragia interna causada por ação contundente.
Monique e Jairinho são acusados de homicídio triplamente qualificado com o emprego de tortura. Na noite do crime, Henry estava com o padrasto e a mãe em um apartamento no condomínio Majestic, na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio.
O vereador cassado está preso há mais de um ano, e Monique, em regime domiciliar, com uso de tornozeleira eletrônica desde o dia 4 de abril.
Discussões na última sessão
A sessão de instrução e julgamento do dia 1º de junho — quando peritos legistas foram ouvidos — foi marcada por uma séria de bate-bocas entre os advogados e a juíza Elizabeth Louro.
Na ocasião, o advogado Cláudio Dalledone, que defende Jairinho, e o assistente de acusação Cristiano Medina da Rocha, que representa Leniel Borel, tiveram diversas discussões e chegaram a ser separados por um PM.
Dalledone também arrumou briga com a juíza, que ameaçou deixá-lo fora do plenário: “Se o senhor continuar, o senhor vai sair daqui”, disse a magistrada.
O advogado de Jairinho, após a primeira etapa da sessão, afirmou que representaria contra a juíza no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), e que ela não está apta a julgar o caso. “Hoje ela deixou claro que não está com os controles emocionais dentro do que se espera de um juiz”, afirmou no dia.
Receba notícias do Metrópoles no seu Telegram e fique por dentro de tudo! Basta acessar o canal: https://t.me/metropolesurgente.