“Me senti incapaz”, diz dono de hamburgueria pichada com ofensas racistas
Bruno Fernando Theodoro, microempresário negro de Araraquara (SP), se deparou com a fachada do local com as palavras “macaco” e “senzala”
atualizado
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São Paulo – Bruno Fernando Theodoro, proprietário de uma hamburgueria em Araraquara (SP), se surpreendeu ao chegar para trabalhar na quarta-feira (11/8) e ler xingamentos racistas no portão do empreendimento.
A fachada do local apresentava as palavras “macaco” e “senzala” pichadas em tinta branca. Bruno, homem negro de 33 anos, inicialmente não soube como reagir ao ocorrido. Ele abriu o ponto físico em março deste ano com a sua esposa, Ana Alice, após dois anos trabalhando em casa.
“Por mais que eu tenha pensado estar preparado para ver acontecer com uma pessoa ou com a gente mesmo, me senti incapaz. Nem consegui assimilar o que aconteceu na hora”, conta ao Metrópoles.
O proprietário da lanchonete recentemente ofereceu aos seus clientes uma bolacha de brinde com os dizeres “fora, Bolsonaro”, em alusão ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Ele não suspeita quem pode ter sido o autor da ofensa, mas acredita que seu posicionamento político possua relação com o ato.
“Ele [Bolsonaro] é racista, homofóbico, tem uma série de pontos negativos. Mas o o mais agravante é o seu despreparo para ser presidente, não tem nenhum suporte que o ajude a conduzir o país”, avalia.
Resposta nas redes sociais
Depois do desconforto, o microempresário pintou novamente o portão e publicou um desabafo nas redes sociais que recebeu milhares de curtidas.
“Não consigo entender como em pleno século 21 ainda existam pessoas com essa mentalidade”, escreveu.
Desde então, Theodoro tem visto o número de pedidos crescer. Na quinta, ele afirma ter vendido 90 hambúrgueres, entre balcão e delivery. Em dias normais, as vendas não ultrapassam 30 unidades. O número de seguidores no Instagram saltou de 3 mil para 18 mil em pouco mais de 24 horas.
“O volume de pedidos foi muito grande, tive que bloquear o aplicativo. Foi uma loucura, acabou tudo aqui, mas deu tudo certo, o pessoal foi muito compreensivo”, declara, aos risos.
Theodoro não chegou a registrar boletim de ocorrência, e diz não possuir a intenção de fazê-lo. Para ele, a repercussão positiva do episódio tem se sobressaído e serve como uma forma de mostrar aos filhos, Manuela, de 4 anos, e Nicolas, de 1 ano, que ninguém deve se silenciar em casos de racismo.