Mauro Vieira recebe em Brasília o chanceler da Rússia, Sergey Lavrov
Ministro da Rússia é o primeiro representante do país a vir ao Brasil desde o início da guerra. Ele se reúne com Lula às 17h, no Alvorada
atualizado
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O ministro de Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergey Lavrov, chegou ao Palácio Itamaraty às 10h35 desta segunda-feira (17/4), para a primeira reunião bilateral de uma agenda extensa com o governo brasileiro. O chanceler russo foi recebido pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira.
Após o encontro restrito, na sede do Ministério das Relações Exteriores, Lavrov e Vieira participarão de uma reunião ampliada, com outros membros do governo e da chancelaria, às 11h.
Antes do almoço, o representante russo fará uma declaração à imprensa, acompanhado de Vieira. No fim da tarde, ele se reunirá com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no Palácio da Alvorada. O encontro com Lula foi adiado para as 17h e consta na agenda do chefe do Itamaraty.
Por volta das 12h30, um grupo de três mulheres levantou faixas em frente ao edifício do Itamaraty, com os dizeres: “Não aos acordos com a Rússia imperialista”, “Rússia fora da Ucrânia” e Rússia fora do Brasil”.
A vinda do principal diplomata russo a Brasília ocorre em meio às propostas de Lula para a criação de um grupo de mediação, com nações não envolvidas no conflito, com o objetivo de alcançar a paz no Leste Europeu. Os olhos do mundo estão atentos para o que pode ser um teste da neutralidade da diplomacia brasileira.
Além dos laços históricos de amizade e cooperação entre Brasil e Rússia, os países mantêm relacionamento comercial. A Rússia é o principal fornecedor de fertilizantes para o Brasil. Em 2022, o comércio bilateral atingiu o recorde histórico de US$ 9,8 bilhões.
Esta é a primeira vez que um representante do primeiro escalão do governo de Vladimir Putin vem ao Brasil, após o início da guerra na Ucrânia, em fevereiro de 2022.
Temas em pauta
Segundo o Itamaraty, a pauta do encontro bilateral inclui as perspectivas da cooperação em áreas de interesse comum, com foco em comércio e investimentos, ciência e tecnologia, meio ambiente, energia, defesa, cultura e educação, bem como o fortalecimento do diálogo político sobre temas bilaterais, internacionais e regionais.
“A visita também será ocasião para tratar do conflito na Ucrânia. O Brasil tem defendido, nos foros internacionais e em contatos bilaterais, a cessação imediata de hostilidades e a importância de conjugar esforços diplomáticos que facilitem o alcance de solução pacífica negociada”, informa o MRE.
A visita russa ao Brasil foi discutida e confirmada pelos chanceleres no início de março, durante reunião dos ministros de Relações Exteriores do G20, grupo formado pelas 20 maiores economias do mundo.
Negociação de paz
No último domingo (16/2), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) acusou os Estados Unidos e a Europa de prolongarem a guerra na Ucrânia e defendeu a criação de uma espécie de um G20 político para restabelecer a paz. A declaração ocorreu durante visita do mandatário brasileiro a Abu Dhabi, nos Emirados Árabes.
“A paz está muito difícil. O presidente [da Rússia Vladimir] Putin não toma iniciativa de paz, o [presidente da Ucrânia, Volodimir] Zelenski não toma iniciativa de paz. A Europa e os Estados Unidos terminam dando a contribuição para a continuidade desta guerra”, afirmou Lula, durante uma coletiva de imprensa no fim da viagem à capital dos Emirados.
O presidente também voltou a acusar a Ucrânia de ter participação no início do conflito. “A construção da guerra foi mais fácil do que será a saída da guerra, porque a decisão da guerra foi tomada por dois países”, disse.
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Desde o início do conflito, a diplomacia brasileira, sob a gestão de Jair Bolsonaro, adotou uma posição de neutralidade, sem condenar uma resolução bélica para qualquer desacordo. Do outro lado, Luiz Inácio Lula da Silva chegou a dizer, no ano passado, que Zelensky é tão culpado pela guerra quanto Putin.
Em janeiro deste ano, já no comando do Palácio do Planalto e em uma mudança de discurso, Lula disse que a Rússia cometeu um “erro crasso” ao invadir a Ucrânia, mas afirmou que, “quando um não quer, dois não brigam”.
Parceiro da Rússia em fóruns como o Brics, grupo composto por Rússia, Índia, China e África do Sul, o país é visto com bons olhos pelo Kremlin por não fornecer armas a Kiev, como têm feito países do Ocidente.