Mauro Cid está envolvido nas tentativas de recuperar joias de Michelle
Sargento do Exército foi escalado pelo tenente coronel, que era ajudante de ordens de Bolsonaro, para tentar recuperar joias em Guarulhos
atualizado
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O tenente coronel Mauro Cid, ex-assessor-chefe militar da Ajudância de Ordens da presidência da República da gestão Jair Bolsonaro (PL), está envolvido nas tentativas de recuperar as joias trazidas ilegalmente ao Brasil pelo governo federal.
Investigado por suspeitas de caixa 2 no Palácio do Planalto, Cid escalou, em dezembro de 2022, o sargento Jairo Moreira da Silva, um sargento do Exército, para ir a Guarulhos, em São Paulo, conversar com agentes da Receita Federal e liberar os itens. O pedido está registrado no Portal da Transparência.
Os objetos estão sob controle do Estado desde 2021, quando uma comitiva presidencial do governo Bolsonaro tentou trazê-los ilegalmente ao país. De acordo com a equipe do ex-presidente, as joias seriam presente da Arábia Saudita à então primeira-dama, Michelle Bolsonaro. O caso foi revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo.
A reportagem publicada pelo veículo mostra que, após a retenção dos objetos, o presidente Jair Bolsonaro tentou recuperá-los em quatro ocasiões. As informações foram detalhadas em ofício obtido pelo jornal.
A última tentativa ocorreu em 29 de dezembro de 2022, dois dias antes do fim do mandato de Bolsonaro como presidente da República.
Segundo com o Portal da Transparência, a viagem ocorreu “atendendo demanda do chefe da ajudância de ordens do presidente da República”.
“O servidor Jairo Moreira da Silva, da ajudância de ordens, viajará de Brasília para Guarulhos, em voo da FAB, em 29 de dezembro de 2022, para atender demandas do senhor presidente da República naquela cidade e retornará em voo comercial on trecho Guarulhos-SP para Brasília-DF”, consta no portal.
A viagem teve custo total de R$ 2.324,16 e foi caracterizada como “viagem urgente”. Veja:
Ajudância de ordens
De acordo com o Diário Oficial da União (DOU), o militar Mauro Cesar Barbosa Cid foi designado ao cargo de assessor-chefe militar da Ajudância de Ordens da presidência da República em março de 2019.
Cid permaneceu no cargo até janeiro de 2023, e foi dispensado logo no início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Nas primeiras semanas de janeiro, o atual presidente assinou dezenas de exonerações de militares que estavam lotados na presidência da República.
Dados do Portal da Transparência mostram que a última viagem oficial realizada por Cid ocorreu em 31 de dezembro de 2022. O militar acompanhou Jair Bolsonaro na ida a Orlando, nos Estados Unidos, em viagem que antecedeu a posse de Lula à presidência. Três meses depois, Bolsonaro segue nos Estados Unidos.
O sargento designado para buscar as joias, Jairo Moreira da Silva, passou a integrar o Gabinete Pessoal do presidente da República em maio de 2022, segundo portaria publicada no Diário Oficial da União.
Jairo permaneceu na Ajudância de Ordens até 24 de janeiro deste ano, quando foi dispensado em uma das “levas” de exonerações de militares assinadas por Lula.
Caixa 2
Conforme revelou a coluna Rodrigo Rangel, do Metrópoles, Cid é alvo de investigação no Supremo Tribunal Federal (STF) por suspeitas de uma espécie de caixa 2 no Palácio do Planalto.
A reportagem mostra que a Polícia Federal mapeou as transações financeiras do militar e encontrou indícios de irregularidades no uso do cartão corporativo, que incluía saques em dinheiro. Os recursos eram usados, inclusive, para pagar contas pessoais da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e de familiares dela.
Presente da Arábia Saudita
Conforme mostrou o Estadão, as joias teriam sido presentes de Mohammed bin Saman, príncipe da Arábia Saudita. Em outubro de 2019, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou que ambos se tratavam como “irmãos”.
Os objetos – um conjunto de anel, colar, relógio e brincos de diamante – foram trazidos após viagem de comitiva brasileira ao Oriente Médio. O grupo desembarcou no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, e as joias foram encontradas na bagagem de Marcos André dos Santos Soeiro, assessor do ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque.
No Brasil, a lei determina que todo bem com valor acima de US$ 1 mil seja declarado à Receita Federal. Nesses casos, é necessário pagar um imposto equivalente a 50% do valor do produto. O agente do órgão reteve os diamantes após identificá-los na mochila do assessor pelo aparelho de raio-X.
Outro lado
Por meio de suas redes sociais, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro ironizou a reportagem de O Estado de S. Paulo. No Instagram, Michelle escreveu: “Quer dizer que eu tenho tudo isso e não estava sabendo? Meu Deus! Vocês vão longe mesmo hein?! Estou rindo da falta de cabimento dessa impressa (sic) vexatória.”
Ao Estado de S. Paulo Bento Albuquerque confirmou que as joias eram para Michelle, mas disse que não sabia o conteúdo dos estojos na época em que o caso ocorreu.
Em entrevista à CNN, divulgada neste sábado (4/3), o ex-presidente Jair Bolsonaro negou ilegalidade e disse que as joias iriam para o acervo da presidência da República.
“Estou sendo acusado de um presente que eu não pedi, nem recebi. Não existe qualquer ilegalidade da minha parte. Não pratiquei ilegalidade. Veja o meu cartão corporativo pessoal. Nunca saquei, nem paguei nenhum centavo nesse cartão”, afirmou.