Massacre de animais: relembre outros casos de maus-tratos
Após a repercussão do caso do menino de 9 anos que matou 23 animais no Paraná, Metrópoles conversou com neurocientista sobre o incidente
atualizado
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O caso do menino de 9 anos que invadiu a fazendinha de um hospital veterinário e matou 23 animais em Nova Fátima, no norte do estado do Paraná, no último domingo (13/10), ganhou repercussão nacional e virou o assunto mais comentado nas redes sociais. Diante do choque inicial com a informação, surgiram dúvidas. Existe a prática de crueldade contra animais na infância em outros lugares? E de que forma esse problema pode ser abordado pela sociedade, preservando os direitos da criança em primeiro lugar?
Em primeiro lugar, é importante lembrar que a criança não pode ser punida pelo ato, por sua idade. Ela é inimputável. Nas redes sociais, o menino e sua família receberam ataques violentos, que motivaram até a manifestação do Ministério Público do Paraná. O órgão anunciou que irá identificar mensagens de ódio dirigidas ao menino. E, dependendo do caso, abrir investigação contra aqueles que disseminam o ódio.
Para entender a complexidade da situação, Metrópoles entrevistou o neurocientista Paulo Sérgio de Camargo e reuniu casos recentes de menores de idade que cometeram crueldade com animais em outros lugares do mundo.
Criança não tem cérebro desenvolvido
O neurocientista destacou que nenhum tipo de laudo médico pode ser dado ao menino de 9 anos no Paraná à distância. Mas adiantou que estudos científicos mostram que, apesar das atitudes cruéis, uma criança não pode ser diagnosticada como psicopata, pois “o cérebro da criança e dos adolescentes ainda não está completamente desenvolvido, especialmente o córtex pré-frontal, responsável pelas funções cognitivas, decisões etc.”.
“Visto de longe, não podemos fazer qualquer tipo de diagnóstico. Todavia, estudo científicos relatam que uma criança não pode ser diagnosticada como psicopata. Ela pode ser diagnosticada com transtorno de conduta. Ou seja, comportamentos que violam os direitos de outros ou as normas sociais”, afirmou o neurocientista.
“Porém, isto [diagnóstico] só deve ser realizado por psiquiatras e psicólogos especializados”, explicou Sérgio de Camargo.
Um exemplo de jovens que cometeram atos de violência contra animais aconteceu na Inglaterra em fevereiro deste ano. Duas crianças de 11 e 12 anos admitiram ter causado danos criminais e sofrimento desnecessário a animais durante uma invasão ao Capel Manor College, uma faculdade ambiental especial localizada em Londres.
Os meninos mataram mais de 20 animais, incluindo coelhos, cobras e pássaros. A Justiça determinou que eles deveriam pagar 200 euros após se declararem culpadas das acusações de crueldade contra animais.
Os pais de uma das crianças britânicas publicaram nota, com pedido de desculpas pelo ocorrido e afirmaram que estão lidando com a situação com a maior seriedade possível. Eles também lembram que a criança é um “membro vulnerável” da comunidade.
“Como pais da criança que foi acusada de maltratar animais em nossa comunidade, achamos importante que vocês saibam que ninguém está levando isso de ânimo leve e, independentemente do grau de envolvimento ou não de nossa criança, estamos levando isso a sério e estamos buscando o máximo de apoio disponível. Isto é para a segurança de todos nós, incluindo nossa criança. Uma criança, que também é um membro vulnerável desta comunidade, algo que alguns de vocês convenientemente minimizam”, afirmaram, no texto.
Apesar de não cravar diagnósticos, o especialista Sérgio de Camargo explica que maus-tratos a animais podem, sim, ser um dos sinais de psicopatia. “Maus-tratos e perversidade com animais são forte indicativo de psicopatia, a pessoa tem valores deficientes em termos do ponto de vista ético, moral, social”, explica Sérgio.
Vídeos de maus-tratos a animais no Reino Unido
Outro evento peculiar está atingindo a Inglaterra e deixando as autoridades atentas. Trata-se de uma nova tendência nas redes sociais em que crianças gravam vídeos matando e torturando animais.
Mais de 350 fotos e vídeos de animais feridos e mortos estão sendo compartilhadas em uma rede de 489 membros no Reino Unido, onde a maioria dos integrantes é criança ou adolescente.
Em um dos vídeos era possível ouvir uma voz de criança afirmando que atirou “direto na cabeça dele, rapazes, bem no crânio, nem um chute, nada, nem um pequeno movimento antes de ele morrer”. Outra diz que a bala “atravessa direto a cabeça do coelho”.
Outro caso recente de menores de idade com atitudes cruéis contra animais aconteceu em Toronto, no Canadá, em agosto. Um adolescente de 16 anos feriu e matou vários animais locais, incluindo um gato comunitário.
Diagnóstico leva em conta vários fatores
O neurocientista Paulo Sérgio de Camargo explica que o diagnóstico de psicopatia (nunca para crianças) não pode ser feito a partir de um fator só, como maus-tratos de animais.
“A laudo é um combinação de vários fatores: o psicopata demonstra menos emoções, ausência de remorso, dificilmente mostra arrependimento. Existe propensão a ser impulsivo e ter pouco medo do risco. O comportamento antissocial é repetido. Existe ousadia, desinibição e mesquinhez [especialistas chamam isto de modelo triárquico]. Outra característica fundamental é a falta de empatia.”
Paulo Sérgio de Camargo explica que a “psicopatia não tem cura, mas sim tratamento, entre os quais a terapia cognitiva comportamental e a terapia analítico-comportamental. O acompanhamento pode ser multidisciplinar, por meios de medicamentos”.