“Massacanagem”, massagem com sexo, tem novo endereço: Sudoeste
Clínica Harmonia, que funciona no Conjunto Nacional, abre filial no comércio da Quadra 301, atendendo em horário comercial
atualizado
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Às 15h de uma quinta-feira, em pleno horário comercial, uma clínica de massagem no Sudoeste ferve com o entra e sai de uma clientela exclusivamente masculina. Naquela tarde, as sete cabines do local estavam ocupadas por adeptos de sexo rápido, sigiloso e que custa caro.
Alvo de uma série de reportagens do Metrópoles no ano passado, uma das clínicas de massagem instaladas no Shopping Conjunto Nacional ampliou os negócios. A Pura Beleza, que atualmente chama-se Harmonia e funciona normalmente no mall, mantém também uma filial em um dos endereços mais nobres do Distrito Federal: a Quadra 301 do Sudoeste.
No panfleto, a clínica Espaço Terapêutico oferece “massagens, depilação e limpeza de pele por R$ 79,99”. Mas, chegando ao estabelecimento, localizado em um prédio comercial, em cima de um supermercado, o cliente pode fazer sexo no local, que funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 20h, e aos sábados, até as 18h.
Quatro garotas trabalham por turno – uma equipe pela manhã e outra à tarde. Bem-equipada, higienizada e com ambientes decorados, a clínica tem quatro cabines temáticas nos mesmos moldes da Harmonia, localizada na sala 4.009 do Conjunto Nacional.
Em agosto do ano passado, o Metrópoles revelou o funcionamento de outras clínicas de massagem no shopping. Entre elas, a Toque Suave, que anunciava as garotas no site (veja abaixo). Depois da repercussão do caso, a página foi tirada do ar. A polícia também fechou o estabelecimento.
Movimentação intensa
No Sudoeste, no mesmo corredor onde funcionam escritórios de advocacia, imobiliários e psiquiátricos, está a clínica Espaço Terapêutico. Na última porta, de número 147, ficam as salas de “massacanagem”. Ao chegar, o cliente logo é recepcionado com suco, café, água e chocolates. Quem atende a porta é uma das oito profissionais do espaço, sempre simpática e com sorriso largo no rosto.
A casa vive cheia. Os telefones tocam a todo instante. Do lado de fora do prédio comercial, a movimentação também é grande. São homens jovens, de meia idade e até idosos. Usando bermudas e chinelos ou ternos bem-cortados, o objetivo é o mesmo: pagar pelo programa feito em um local discreto.
Na recepção com apenas duas cadeiras, o tempo de espera é de, no mínimo, uma hora. As cabines são decoradas com elementos da cultura oriental, papéis de parede de flores de cerejeira, iluminação especial em neon vermelho, estátuas, almofadas e música ambiente. Tudo para tornar a experiência mais relaxante.
Antes de começar, é preciso que o cliente tire a roupa, deite na maca e “fique à vontade”. A massagem dura em torno de uma hora e custa R$ 120. Ao final, além da água, do cafezinho e de uma ducha, a atendente oferece “outro serviço”. Por um “adicional de R$ 100”, é possível fazer sexo com uma das profissionais.
Quando o cliente deixa a clínica, apesar da lotação, não vê outro freguês. A preocupação das moças com um possível “constrangimento” é constante. A fim de haver maior discrição, aqueles que chegam sem hora marcada não podem ficar na recepção. As atendentes pedem educadamente que o cliente agende um horário e retorne mais tarde.
Ameaça e exploração
Uma fonte ouvida pela reportagem descreveu os métodos usados pelas duas clínicas para recrutar garotas. Contou ainda como funcionam os pagamentos, a rotina de programas, além do assédio moral e a exploração sexual que ocorreriam no local. A dona dos dois estabelecimentos é Wênia Primo Silva. Segundo a denúncia, ela conduz o mercado do sexo com mão de ferro, faturando até 40% sobre o valor de R$ 220 cobrado em cada atendimento.
Todas as garotas são orientadas a fazer uma “venda casada”, oferecendo a massagem e, em seguida, uma sessão de sexo. As funcionárias que resistem, querendo apenas trabalhar com procedimentos estéticos, são demitidas em pouco tempo. Aquelas que seguem à risca as ordens da cafetina conseguiriam faturar entre R$ 5 mil e R$ 6 mil mensais.
Nenhuma das meninas tem qualquer tipo de benefícios ou vínculo empregatício com o estabelecimento. Os pagamentos são feitos em dinheiro vivo, que a dona do local transporta em uma bolsa. “Não existe qualquer formalidade entre a clínica e as garotas. Para não deixar rastros, a Wênia não faz nem transferências eletrônicas. Tudo é acertado com dinheiro”, contou.
Caso ocorra algum desentendimento, a proprietária costuma ameaçar as funcionárias, ainda de acordo com a fonte ouvida pelo Metrópoles. Por medo de represálias, ela preferiu ficar no anonimato. “A principal arma dela é dizer que vai contar para a família da garota que ela faz programas. Muitas jovens são casadas ou moram com os pais, e nenhum deles sabe dessa atividade”, disse.
Mudança na rotina
Após a denúncia publicada pelo Metrópoles em 30 de setembro do ano passado, a clínica que funciona no Conjunto Nacional passou a tomar algumas precauções para manter a atividade de prostituição cada vez mais velada. Entre elas, proíbe as garotas de programa de jogarem preservativos usados nas lixeiras do estabelecimento.
A ordem, segundo a fonte ouvida pela reportagem, era colocar a camisinha dentro de um saco plástico e descartar em qualquer local distante da localidade. “Todas eram orientadas a descer da clínica, sair do shopping e jogar os preservativos em algum lixeira bem longe”, contou a denunciante.
A reportagem teve acesso a prints de um grupo de WhatsApp formado pela dona do estabelecimento e suas funcionárias. Nas conversas, fica clara a preocupação em manter o esquema de prostituição no mais absoluto sigilo.
As conversas travadas pelo telefone entre as massagistas e os clientes também são cercadas de cuidados. A dona do estabelecimento determinou que jamais alguém fale sobre as “massagens completas”, as quais incluem o sexo. “Nunca foi permitido falar abertamente no telefone sobre os serviços. O programa deve ser oferecido apenas pessoalmente e ao pé do ouvido do cliente, quando já estiver recebendo a massagem normal”, afirmou a fonte.
No Brasil, prostituição não é crime, mas rufianismo ou exploração do sexo, sim. A pena prevista no Código Penal para o delito é de 1 a 4 anos de reclusão, mais multa.
O outro lado
O Metrópoles entrou em contato com a clínica Espaço Terapêutico para ouvir a proprietária do local. No entanto, após atender a ligação, uma recepcionista negou que a casa de massagem seja de Wênia Primo.
De acordo com a interlocutora, Wênia teria se desfeito da clínica e vendido o negócio há cerca de quatro meses. No entanto, horas depois, Wênia entrou em contato com a reportagem para negar que o estabelecimento oferecesse sessões de sexo aos clientes.
“Nunca orientei ninguém a esse tipo de coisa. Todas são contratadas para procedimentos terapêuticos e estéticos”, assegurou a mulher.