Marcos do Val sai de depoimento à PF e culpa Silveira por reunião golpista
O senador Marcos do Val chegou por volta de 16h30 desta quinta para ser ouvido no âmbito do inquérito que apura atos golpistas
atualizado
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O senador Marcos do Val prestou depoimento à Polícia Federal, nesta quinta-feira (2/2), no âmbito da investigação que apura os atos golpistas de 8 de janeiro. Na saída, o parlamentar reafirmou que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ficou em silêncio durante uma reunião na qual o ex-deputado federal Daniel Silveira teria falado sobre um plano de golpe de Estado.
Ao sair da PF, o parlamentar reforçou a versão de que Silveira seria o responsável por, no final do ano passado, arquitetar um plano para grampear o gabinete do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, em tentativa de provar suposta interferência do magistrado no processo eleitoral para beneficiar Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Inicialmente, o senador afirmou que a reunião com o ex-deputado e Bolsonaro teria ocorrido no Palácio da Alvorada.
“O Daniel que puxou o assunto. A ideia dele é que pudesse resolver um problema dele e do presidente”, afirmou.
“Eu não sei o que eles conversaram entre eles [Bolsonaro e Silveira]. Eu não posso colocar aqui a fala do que o presidente estava pensando.”
A oitiva na PF durou cerca de quatro horas. O parlamentar chegou à sede da corporação, em Brasília, por volta das 16h30 e deixou o prédio às 21h.
A PF pediu para ouvir Do Val após o senador acusar o ex-deputado federal Daniel Silveira de arquitetar um plano para reverter a derrota do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nas últimas eleições. Segundo ele, o ex-mandatário estava presente na reunião em que o então parlamentar fez a proposta.
Marcos do Val chegou a dizer que renunciaria ao mandato, mas acabou desistindo. O parlamentar afirmou que desistiu da ideia após ouvir apelos de outros senadores, como Flávio Bolsonaro (PL-RJ). “Meus colegas do Senado foram muito solícitos, pediram para eu ficar, disseram que eu era importante. Até as próprias unidades policiais pediram que eu continuasse […]. Ele [Flávio Bolsonaro] ligou hoje pedindo pelo amor de Deus para eu não parar de ser senador.”
Nesta tarde, a PF também colheu depoimento do presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto. O ex-parlamentar afirmou em entrevista recente ao jornal O Globo que minutas de teor golpista, como a encontrada na casa do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Anderson Torres, circulavam com frequência entre o núcleo próximo a Bolsonaro.
Aos agentes da Polícia Federal, Valdemar tentou amenizar a declaração. Ele afirmou ter utilizado uma metáfora ao afirmar que “todo mundo” tinha uma minuta do golpe em casa.
As contradições de Marcos do Val
Assim como em outras ocasiões nesta quinta-feira, o senador não soube especificar onde teria acontecido o encontro com Daniel Silveira e Jair Bolsonaro, em 7 de dezembro de 2022. Inicialmente, o senador relatou que o encontro havia acontecido no Palácio da Alvorada, mas depois negou. Segundo o parlamentar, a reunião teria sido realizada na Granja do Torto.
“Eu nunca fui lá. Nem como turista. Nem na casa, nem no campo, na casa do vice, onde estava Mourão, Paulo Guedes, eu nunca fui nesses lugares”, disse Marcos do Val ao ser questionado por jornalista na saída da PF, em Brasília.
Porém, a principal contradição nos relatos de Marcos do Val sobre o encontro com Bolsonaro e Silveira está na atitude do então presidente na ocasião. Em entrevista à revista Veja, antes da posse dos novos congressistas (1°/2), o senador afirmou ter ouvido diretamente de Jair Bolsonaro detalhes do plano para gravar clandestinamente o ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O que corrobora a primeira versão dada pelo parlamentar, mas vai na contramão da segunda -de que Bolsonaro teria ficado calado enquanto Silveira dava detalhes sobre o plano para grampear Moraes.
Na gravação feita pelo veículo, ele é questionado se o próprio Bolsonaro pediu para que a gravação ilegal fosse feita. “Disse, sim. Que o GSI ia me dar o equipamento para poder montar para gravar. Aí eu falei assim, quando eu falei que ‘mas não vai ser aceito’. ‘Não, o GSI já tá avisado’. Quer dizer, já tinha validado a fala comigo. ‘Eles vão te equipar, botar o equipamento de escuta, de gravação e a sua missão é marcar com o Alexandre e conduzir o assunto até a hora que ele falar que ele, que ele avançou, extrapolou a Constituição, alguma coisa nesse sentido.’ Aí ele falou ‘ó, eu derrubo, eu anulo a eleição, o Lula não toma posse, eu continuo na Presidência e prendo o Alexandre de Moraes por conta da fala dele, que ele teria’”, explica, em áudio.
O áudio divulgado pela revista vai de encontro com a live realizada por Marcos do Val na madrugada de quinta, na qual o parlamentar revelou o caso. Na ocasião, o senador afirmou que houve uma “tentativa de Bolsonaro” de “coagir para que eu pudesse dar um golpe de Estado junto a ele”. Veja a cronologia da contradição:
- Entrevista à revista Veja (antes da posse de deputados e senadores eleitos, em 1°/2): Marcos do Val afirma que Bolsonaro teria participação direta no plano para gravar Alexandre de Moraes;
- Live realizada na madrugada de quinta-feira (2/2), após a posse de parlamentares: “Eu ficava p*to quando me chamavam de bolsonarista. Vocês me esperem, que vou soltar uma bomba. Sexta-feira vai sair na [revista] Veja a tentativa de Bolsonaro de me coagir para que eu pudesse dar um golpe de Estado junto a ele. Só para vocês terem ideia. E é lógico que eu denunciei”;
- Entrevista coletiva na manhã de quinta-feira (2/2): Marcos do Val entra em contradição e diz que o ex-presidente teria ficado calado durante toda a reunião. Nesta versão, o parlamentar responsabilizou Silveira pelo plano, e ainda garantiu que denunciou tudo ao ministro Alexandre de Moraes;
- Declaração após depoimento à PF, na noite de quinta-feira (2/2): Do Val mantém a versão anterior de que Bolsonaro ficou calado durante encontro em que Silveira teria detalhado plano para gravar Moraes.