Marcelo Freixo: “Assassinato de Marielle foi atestado de óbito do Rio”
Erros cometidos pela polícia durante o primeiro ano de investigação foram muito comprometedores, avalia o político, amigo da vereadora
atualizado
Compartilhar notícia
Rio de Janeiro – Neste domingo (14/3), os assassinatos da vereadora Marielle Franco (Psol) e do motorista Anderson Gomes completam três anos. O crime que chocou o Brasil segue sem respostas para duas perguntas: “Quem matou?” e “Quem mandou matar a vereadora?”. Para o deputado federal Marcelo Freixo (PSol), companheiro de partido e amigo da vereadora, o crime é um “atestado de óbito para a cidade”. Dois acusados de terem executado os crimes foram presos, em junho de 2019, mas o mandante ainda não foi descoberto pela polícia.
Como avaliar esses três anos sem respostas?
Isso agrava qualquer situação. Nenhuma pessoa pode ser assassinada e não ter uma resposta. E com a Marielle não é diferente. O crime contra a vereadora não tem prioridade por ser ela, mas por dizer à sociedade que uma mulher negra, moradora de favela não pode ser vereadora. A morte dela é um atestado de óbito para a cidade. O Rio morreu com Marielle Franco.
E como avalia os esforços da polícia e do Ministério Público para solucionar o caso?
Eles avançaram, mas tivemos um primeiro ano de erros nas investigações, e isso é muito comprometedor. O crime tem elementos políticos, mas sua solução não pode depender de política, como acontece. E precisamos saber: que política é essa que permite que um crime desses, com esta amplitude, permaneça sem respostas? Temos confiança de que o caso será resolvido. Me reúno toda semana com a Delegacia de Homicídios do Rio, e acredito neles.
E daqui para frente, o que precisa ser feito?
É identificar os autores e solucionar o caso. O Ministério Público criou uma força-tarefa, dando mais suporte aos promotores do caso. É uma ação importante e que dá fôlego para as investigações, mas é algo que poderia ter sido feito antes. O que precisamos agora é acreditar que vamos chegar a esta solução.
Entenda o caso
Marielle Franco, vereadora carioca pelo PSol, foi executada no dia 14 de março de 2018, no bairro do Estácio, região central da cidade, junto com o motorista Anderson Gomes, que dirigia o carro. Acompanhada de uma assessora e do motorista, Marielle deixou um evento na Lapa e, por volta das 21h30, o carro dos assassinos emparelhou com o veículo que as transportava. Marielle, de 41 anos, tomou quatro tiros na cabeça. Os disparos foram feitos na diagonal, por isso também atingiram o motorista.
Criada na favela da Maré, zona norte da cidade, a vereadora era lésbica, ativista de direitos humanos e vinha denunciando a atuação truculenta da polícia em favelas do Rio de Janeiro.
De acordo com as investigações, o policial reformado Ronnie Lessa disparou 14 vezes contra o carro. A assessora Fernanda Gonçalves Chaves sobreviveu. Lessa estava em um Cobalt, dirigido por Elcio Vieira de Queiroz, ex-policial expulso da corporação e amigo de Ronnie.
Ambos foram presos em operação conjunta feita pela força-tarefa composta pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, e pela Delegacia de Homicídios (DH) da Polícia Civil da capital.
A motivação seriam as causas abraçadas por Marielle no seu trabalho como vereadora. O crime foi minuciosamente planejado por meses. Durante as investigações nos últimos três anos, buscas e apreensões foram feitas para apreender documentos, telefones celulares, computadores e armas, entre outros objetos que podem ajudar a esclarecer o crime. Foram ouvidas mais de 200 testemunhas e revisadas 760 gigabites de imagens das ruas por onde o Cobalt passou.
A arma utilizada foi uma submetralhadora MP5 9 mm, e os tiros foram disparados a uma distância de 2m. Polícia e Marinha fizeram buscas pela arma no mar da Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, e não encontraram nada.
No mês passado, a Justiça determinou que o PM reformado Ronnie Lessa e o ex-PM Élcio Vieira de Queiroz sejam julgados por júri popular. A defesa recorreu, o caso deve ir para o Superior Tribunal de Justiça (STJ). Os dois respondem por duplo homicídio triplamente qualificado por motivo torpe, emboscada e sem dar chance de defesa às vítimas.