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Mapa sismológico: não é só a política que faz a terra tremer no Brasil

Especialistas mapeiam áreas com maior risco de ocorrências: em 2018, moradores de Brasília, SP e cidades do Sul e Sudeste sentiram abalos

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1 de 1 roads cracked - Foto: IStock

A ocorrência de terremotos não é algo comum no Brasil. No entanto, isso não significa que o fenômeno natural nunca tenha ocorrido no país ou, ainda, que os brasileiros jamais tenham sentido tremores de terra resultantes de abalos sísmicos originados em outras nações sul-americanas.

Um exemplo recente ocorreu em abril deste ano. Moradores de Brasília, São Paulo e diversos municípios das regiões Sul e Sudeste do país se assustaram ao sentirem o solo sob seus pés tremer. Sem entenderem o que ocorria, testemunharam prédios, janelas e móveis balançarem. O sismo do mês passado foi reflexo de um terremoto de 6,8 graus de magnitude na escala Richter ocorrido no sul da Bolívia. Ou seja, os fortes abalos iniciados no país vizinho conseguiram alcançar terras tupiniquins – entretanto, de forma menos intensa.

Segundo o coordenador do Laboratório de Sismologia do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), Marcos Ferreira, a energia liberada em um evento sísmico é propagada a partir do seu epicentro na forma de ondas mecânicas. “Elas viajam por meio da crosta terrestre e pelo interior da Terra, conseguem atingir grandes distâncias”, destacou. “Quanto maior for a magnitude do terremoto, mais energia é liberada”, explicou.

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Esse aumento de intensidade foi determinante em um evento registrado em fevereiro de 2010 no Chile. Além de matar 500 pessoas e deixar cerca de 2 milhões de feridos, os reflexos do tremor – de 8,8 na escala de magnitude – puderam ser sentidos no estado de São Paulo. De acordo com o professor do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (UnB) George Sand, esses abalos são considerados, até o momento, os mais fortes já sentidos no Brasil.

O segundo maior registro de tremores de solo percebidos em terras brasileiras ocorreu em agosto de 2007, mais precisamente pela população de Manaus. Um forte terremoto (de magnitude 8) ocorrido na costa central do Peru causou 510 mortes naquele país. De acordo com o CPRM, 80% dos abalos sísmicos ocorridos em outras nações da América do Sul e com reflexos sentidos no Brasil atingiram profundidade superior a 100km.

Efeitos residuais
O Serviço Geológico do Brasil informou que as cidades de São Paulo, Manaus, Curitiba e Brasília têm sentido com mais frequência os efeitos residuais de terremotos provenientes de outros países sul-americanos. Segundo o órgão, houve notável aumento de registros de reflexos de eventos distantes, nos últimos 10 anos.

Esse monitoramento de ocorrências é feito pela Rede Sismográfica Brasileira (RSBR), integrada pelo CPRM e pelas universidades federais de São Paulo (USP), de Brasília (UnB) e do Rio Grande do Norte (UFRN), além do Observatório Nacional (ON), que analisam atividades sísmicas no Brasil. Em todo o território nacional, há 80 estações sismográficas – equipamentos que medem a vibração do solo. Os dados são transmitidos em tempo real para as instituições da RSBR por conexões de satélite e por meio da internet.

Além disso, por meio do Mapa Tectônico da América do Sul, desenvolvido pelo CPRM, é possível identificar falhas terrestres situadas no continente. O mecanismo pode auxiliar estudos e previsões de tremores ou eventos associados, segundo a geóloga e pesquisadora em geociência do Serviço Geológico do Brasil Leda Maria Fraga.

O mapa aponta a idade das rochas e o ambiente no qual elas se formam. Isso é importante para monitorar regiões que podem subir e formar serras ou descer e gerar bacias hidrográficas, por exemplo. Essas informações também auxiliam a busca de bens minerais

Leda Maria Fraga, geóloga e pesquisadora do CPRM

Esse projeto foi proposto pela Comissão da Carta Geológica do Mundo – organismo internacional do setor – e é coordenado pelos pesquisadores do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (USP), Umberto Cordani, e da Universidade de Buenos Aires (UBA), Victor Ramos. “Lançamos o material impresso em dezembro de 2016. Agora, divulgamos o Sistema de Informação Geográfica do mapa tectônico”, complementou Leda.

Terremotos imperceptíveis
O Brasil está localizado no centro da placa sul-americana, região que raramente apresenta atividade sísmica. Contudo, desgastes na placa tectônica podem propiciar falhas geológicas. Esse fator está relacionado à origem de tremores de terra com menos força – os quais têm possibilidade de ocorrer, inclusive, de forma imperceptível.

A Região Nordeste apresenta a maior atividade sísmica do país. Ou seja, a área é mais sensível para possíveis abalos terrestres. Apesar de esse tipo de evento não ser recorrente, o coordenador do Laboratório de Sismologia do Serviço Geológico do Brasil, Marcos Ferreira, enviou ao Metrópoles registros históricos de casos dessa natureza ocorridos em território nacional.

Os mais intensos aconteceram em 1955. Na época, a Serra do Tombador (MT) sofreu tremores de magnitude 6,2. No mesmo ano, o litoral de Vitória (ES) foi atingido por um terremoto com força de 6,1 graus na escala Richter. As ocorrências não vitimaram pessoas.

A existência desse tipo de fenômeno natural no Brasil, no entanto, não pode ser comparada com terremotos ocorridos em Jujuy, Santiago del Estero e San Juan – na Argentina – ou no centro e na costa do Peru, por exemplo. Segundo o CPRM, os dois países fazem parte do grupo de regiões sísmicas da América do Sul que mais sofrem esse tipo de acontecimento.

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