Mais Valia: empresários eram avisados a “não mijarem fora do penico”

Rio de Janeiro – Se “mijarem fora do penico”, era o lema usado pelo advogado Marcello Zorzenon, filho do desembargador Fernando Antonio Zorzenon, ex-presidente do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRT-1), para pressionar as empresas de ônibus do Rio de Janeiro a pagar propina em dinheiro.

Nesta terça-feira (2/3), quatro dos 11 presos são magistrados da Justiça do Trabalho na operação Mais Valia. No total, 18 foram denunciados ao Superior Tribunal de Justiça por montar esquema de corrupção para beneficiar empresas e organizações sociais a receberem valores devidos pelo governo através do Plano Especial de Execução da Justiça do Trabalho fluminense.

Marcello e a advogada Eduarda Pinto da Cruz faziam parte de grupo de rede social de mensagem instantânea para negociar os pagamentos.

“Ele também não é bobo, né? Ele sabe que, pô, se mijar fora do penico vai acabar perdendo tudo”, afirmou Marcello em um áudio no dia 28 de agosto do ano passado ao informar sobre a pressão que estava fazendo sobre os empresários de ônibus.

Na mesma data saiu a operação Tris In Idem, que acusou pela primeira vez  o então governador Wison Witzel de corrupção. Em seguida, ele foi afastado do cargo .

“As mensagens de áudio são estarrecedoras e evidenciam a atuação conjunta do grupo e sua força em conseguir decisões judiciais favoráveis e desfavoráveis às empresas de ônibus, conforme seus interesses”, afirmou o MPF na denúncia.

Peça-chave no esquema de corrupção, Eduarda repassou para o irmão, o desembargador Marcos Pinto da Cruz, mais R$ 3,6 milhões em propinas de 2018 a 2020. Marcos se dizia “soldado” de Witzel, que teria montado o esquema de corrupção  no Judiciário durante seu governo.