Maior hidrelétrica de SP atinge “0%” do reservatório e chega ao volume morto
Estiagem prolongada levou reservatório a ficar 322,94 metros acima do nível do mar; mínimo para funcionamento é 314 metros
atualizado
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A estiagem prolongada no país fez com que a usina hidrelétrica de Ilha Solteira, a maior do estado de São Paulo, atingisse o volume morto do reservatório nesta quarta-feira (15/9). No site do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), responsável pelo funcionamento do setor elétrico no país, é informado que o reservatório chegou ao volume de “0%”.
Mas tanto a ONS quanto a empresa CTG Brasil, atual responsável pela operação de Ilha Solteira, alegam que o reservatório ainda opera, pois está na marca de 322,94 metros acima do nível do mar – qualquer posição abaixo de 323 metros, nessa usina, é considerada volume morto. Assim, mesmo neste cenário, a usina gera energia e não está desativada ou vazia.
A companhia e o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) alegam que a usina poderá funcionar até atingir o patamar mínimo previsto em projeto, que é 314 metros acima do nível do mar.
Especialistas avaliam que o país corre risco de enfrentar blecautes e racionamento de luz caso a estiagem se prolongue e os reservatórios das hidrelétricas se esvaziem para níveis críticos, insuficientes para suprir a demanda de empresas e domicílios.
Luiz Eduardo Barata Ferreira, ex-diretor-geral da ONS, avalia que a situação é “crítica, embora não seja desesperadora”. Isso porque o reservatório estava em 35,52% do volume útil há um mês, ou 324,88 metros acima do nível do mar. Há três meses, o reservatório da usina estava 325,49 metros acima do nível do mar.
“O nível mínimo (314 metros) não deve ser atingido, porque a ONS deve operar outras usinas no Rio Grande e Paranaíba para soltar água e não deixar cair mais o nível de Ilha Solteira”, afirmou Barata Ferreira ao Metrópoles, em referência ao controle de vazão de hidrelétricas da bacia do rio Grande e do rio Paranaíba.
A situação
A usina de Ilha Solteira é responsável por 1,81% da energia gerada nos reservatórios do Sudeste e Centro-Oeste. Barata Ferreira cobra rapidez do governo federal e das autoridades do setor elétrico. “Infelizmente, a crise não está sendo resolvida com a transparência e a celeridade necessária”, criticou.
O esvaziamento do reservatório de Ilha Solteira já fez com que fosse suspenso o transporte de cargas na hidrovia Tietê-Paraná.
Em nota, a CTG Brasil alega que cumpre determinações da ONS, conforme procedimentos aprovados pela Agência Nacional de Energia Hidrelétrica (ANEEL). “Em função da crise hídrica instalada no país, a CTG Brasil vem acolhendo na sua integralidade as determinações recebidas, cumprindo rigorosamente a legislação, procedimentos e normas do setor elétrico brasileiro, bem como a Política de Operação definida pelo ONS para as usinas hidrelétricas sob sua concessão, e colaborando com o ONS e demais instituições”, afirmou em nota.
Já a ONS diz que a marca de “0%” do reservatório de Ilha Solteira diz respeito ao volume útil para que seja mantido o nível de 323 metros que ainda permitiria o funcionamento da hidrovia Tietê-Paraná. “O valor de 0% registrado hoje no site do ONS significa que o volume de água já atingiu esta cota mínima para utilização da hidrovia, porém isso não quer dizer que o reservatório da usina esteja vazio. Se considerarmos o nível mínimo de projeto, cuja a cota é 314 metros, o reservatório encontra-se com 56,72% do seu armazenamento”, alega a ONS.