Magalu abre vagas de trainee exclusivas para pessoas negras; internet reage
Iniciativa da varejista é um sinal aos movimentos por inclusão e diversidade. Medida virou enorme discussão sobre racismo e compensação
atualizado
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A rede varejista Magazine Luiza anunciou nessa sexta-feira (18/9) a abertura de inscrições para seu programa de trainee 2021, que aceitará apenas candidatos negros. A iniciativa causou uma tempestade nas redes sociais, gerando discussões acaloradas sobre o mérito da medida, sobre racismo e políticas compensatórias.
O presidente da Fundação Cultural Palmares, Sérgio Nascimento de Camargo – que é negro, se identifica como de direita e já defendeu que não existe racismo “estrutural” no Brasil – chegou a dizer a decisão da empresa é “racismo” contra brancos.
O racismo do preto contra o branco não é reverso, é apenas racismo.
— Sérgio Camargo (@sergiodireita1) September 19, 2020
Camargo acumula polêmicas no cargo por conta de frequentes ataques ao movimento negro, às cotas raciais e a símbolos da luta negra no Brasil, como o próprio escravo fugido Zumbi dos Palmares, que dá nome ao órgão.
A Fundação Cultural Palmares foi criada em 1988 para promover e preservar os valores culturais, históricos, sociais e econômicos decorrentes da influência negra na formação da sociedade brasileira.
O anúncio da Magalu foi exaltado nas redes sociais, mas uma parcela de internautas chegou a falar, como Camargo, em “racismo reverso”, termo usado para descrever atos de discriminação e preconceito feitos por minorias raciais contra indivíduos pertencentes à maioria racial.
Alguns usuários chegaram a fazer piada sobre o assunto.
Como criar e alimentar o racismo? O Magazine Luiza te ensina.
Da série “Dividir para enfraquecer, enfraquecer para conquistar. pic.twitter.com/zIqil4ynuq— Daniel Silveira (@danielPMERJ) September 19, 2020
Será que teremos isso daqui na seleção do RH?
Eu sou moreno claro, mas quando pego um sol, fico “negão”….kkk pic.twitter.com/kOdN4f85hv
— Junior Ferraz 🇧🇷 (@juferraz77) September 19, 2020
A maioria dos comentários, por outro lado, foi parabenizando a decisão da empresa.
O povo indignado com a iniciativa da Magazine Luiza, se vocês soubessem o racismo nos processos seletivos. Imagina entrar em um ambiente/empresa onde menos de 5% do local é negro em um país onde mais de 50% é negra. Da licença né!
— Jonathan Vicente (@jonathanvicent) September 19, 2020
“Se a empresa falasse que só ia contratar gente branca, seria racismo?”
Sim.
“E só gente negra, não é racismo?”
Não.
“Nunca vou entender isso”
É que ao invés de estudar e falar com pessoas negras, vc prefere ficar vendo vídeo de Terra plana e teoria da conspiração.
— Felipe Neto 🇧🇷🏴 (@felipeneto) September 19, 2020
Magalu abre trainee para negros. Os brancos, espumando nas mentions do tweet, criticam um suposto”racismo reverso” na decisão, pois se dizem à favor da igualdade. Engraçado que não notei essa sede de justiça quando o Itaú fez progama de trainee e os aprovados foram estes aqui: https://t.co/a5xuYWzcnU pic.twitter.com/OWcA5lrOEz
— Bia Ferreira – 25/09 (@iglesbiteriana) September 19, 2020
Como será o programa
“O objetivo do Magalu com o programa é trazer mais diversidade racial para os cargos de liderança da companhia, recrutando universitários e recém-formados de todo Brasil, no início da vida profissional”, diz a empresa.
Serão aceitos candidatos formados entre dezembro de 2017 e dezembro de 2020, em qualquer curso superior.
A varejista informou que conhecimento em língua inglesa e experiência profissional não estão entre os pré-requisitos para a seleção.
A única condição é ter disponibilidade para se mudar para São Paulo. Caso o selecionado seja de outra cidade, receberá um auxílio-mudança.
O salário é de R$ 6,6 mil, com benefícios e bônus de contratação de um salário.
Atualmente, o Magazine Luiza tem 53% de pretos e pardos em seu quadro de funcionários, mas apenas 16% deles ocupam cargos de liderança.