Mães e filhos separados pela adoção ilegal se unem em buscas de famílias
Durante 7 meses, o Metrópoles acompanhou histórias que começam em adoções irregulares e terminam com adultos à procura da própria identidade
atualizado
Compartilhar notícia
Entre pedidos de músicas e propagandas, o locutor da rádio anunciou: “Jovem de 15 anos doa uma menina para adoção. Quem tiver interesse procure a rádio Educadora para pegar o endereço”. Era 1988, mesmo ano do nascimento da Constituição Federal, que previa o processo de adoção mediado pelo poder público, mas já nasceu desrespeitada.
A menina anunciada na rádio tinha 4 meses, mais tarde ganharia o nome de Vanessa Oliveira Gomes. Atualmente, aos 33 anos, ela, como milhares de outras pessoas, procura por sua família biológica. As crianças adotadas ilegalmente de ontem são hoje adultos que se olham no espelho e se perguntam de onde vieram, afinal?
Do outro lado, mães procuram por filhos que um dia lhes foram tomados. Relatos que circulam em grupos formados por quem foi adotado à brasileira – como é conhecida popularmente essa prática – dão a dimensão do drama vivido por incontáveis pessoas. Pelo modo que os processos ocorreram, e ainda ocorrem, às margens da lei, não é possível estimar oficialmente quantos casos como esse existem no Brasil.
Durante sete meses, o Metrópoles acompanhou as buscas em três desses grupos, um deles, no Facebook, tem 1,6 mil integrantes. São relatos de milhares de pessoas como Sérgio Leonardo, que também procura pela mãe biológica. Tudo que se sabe sobre ela é o que a mãe de criação contou: era uma adolescente, empregada doméstica negra, que engravidou do filho do patrão branco e foi obrigada a entregar o bebê para adoção clandestina.
O perfil das mães que denunciam terem tido filhos roubados, ou tomados sob pressão, é diverso, mas depoimentos sobre mulheres pobres, negras e empregadas domésticas, em sua maioria muito jovens quando deram à luz, se repetem.
Entre os casos, esquemas que envolvem médicos, supostas assistentes sociais e pessoas dispostas a pagar para ter um filho, em vários estados do Brasil. Boa parte dos relatos tem algum envolvimento com a região Sul do país, ponto de desarticulação de uma quadrilha famosa nos anos de 1980 por vender crianças para outros estados e até para o exterior.
“Não sei a minha data de nascimento”
Vanessa Oliveira Gomes, 33 anos, hoje vive no Japão
“Tudo o que está no meu registro saiu da cabeça da minha mãe, a que me criou. Eu nasci em 1987, ela falou que eu tinha 4 meses quando me pegou, em janeiro de 1988, depois de escutar um anúncio na rádio local de Coronel Fabriciano (MG) no qual estavam doando uma menina.
Disseram que quem quisesse era só ir lá pegar o endereço. Ela foi até o local e seguiu atrás da família, que estava na antiga Prainha de Coronel Fabriciano, perto da linha do trem. Quem atendeu era meu avô, um homem negro, alto, e minha avó, branca baixinha dos olhos azuis.
O meu avô falou que eles eram andarilhos e não tinham onde ficar. Estavam na casa de uma amiga e não moravam ali. Minha mãe biológica tinha 15 anos e estava me dando uma mamadeira de água com fubá. Ela se chamava Simone.
Minha mãe de criação perguntou se ela tinha certeza que ia me dar. Meu avô disse: “Aqui é assim mesmo, filho é pra dar pros outros”. Eles queriam me dar para uma família de São Paulo, mas me entregaram para a primeira a chegar. A minha mãe adotiva é de Coronel Fabriciano mesmo, então fui criada em Minas Gerais.
Eu soube com 5 anos de idade que era adotada, quando uma prima brigou comigo e me falou. Depois daquilo eu fiquei sentindo que aquela não era a minha família. Eu sempre quis saber a minha história, mas tinha medo de não sentir nada quando descobrisse, receio da minha mãe biológica me rejeitar. Eu sempre tive amor, mas eu queria que minha mãe de verdade tivesse me criado, nem que a gente só tivesse arroz e feijão. Minha mãe de criação dizia que Deus escolheu assim.
Eu me pergunto com quem eu me pareço. O que mais quero saber é onde nasci, a minha data de nascimento, minha descendência. Entrei no grupo Gente procurando gente e comecei a divulgar a minha história na internet. Há voluntários me ajudando na investigação, mas até agora não tem nada.
Quando eu era criança eu me perguntava muito por que ela fez isso. Hoje tenho uma filha e entendo que minha mãe era muito nova, muito pobre. Dentro do meu coração não existe mágoa. Procuro a realidade da minha vida, que em partes é uma mentira.”
“Forçaram minha mãe a me dar”
Sergio Leonardo Soares Duarte, 46 anos, Rio de Janeiro
“A minha mãe adotiva não podia ter filhos porque teve câncer. Um médico conhecido da família, o Raimundo, indicou o Hospital Victor Ferreira do Amaral, em Curitiba, porque o filho dele também era adotivo e tinha vindo de lá. Ele perguntou ao meu pai se ele queria adotar uma criança, disse que era fácil porque muitas mães lá eram obrigadas a dar seus filhos. Meu pai quis e eles marcaram de ir a Curitiba.
Tinha uma “assistente social” que esquematizava tudo. Os casais ficavam em uma casa esperando uma moça menor de idade, em geral, ter neném. Minha mãe biológica era uma menina negra “de menor” e tinha engravidado do filho do patrão, que era de uma família estrangeira que morava em Curitiba. Isso tudo sei pela história que minha mãe que me criou contou para mim.
Uma freira ligava para a tal assistente social e ela fazia o contato com os adotantes. A assistente social dava o número do leito e o nome da mãe. Meus pais foram lá para pegar outra criança, mas ela tinha uma deficiência e eles não quiseram ela. Eu estava em outro leito, ao lado, aí meu pai disse: a gente veio do Rio para pegar uma criança para ter alegria ou tristeza? Aí me levaram para o Rio.
Meus pais adotivos são falecidos. Isso tudo aconteceu não só porque minha mãe era simplesmente pobre e não tinha condição de me cuidar, ela passou por isso também por ser negra. Eles eram brancos, isso teve o peso do racismo. Entrei na Justiça para ter acesso aos meus dados no hospital. Apareceram dois possíveis nomes de mãe: Maria dos Santos (viva) e Maria Otilia de Paula (já falecida). Mas não foi o suficiente para achar ninguém.
Nesse esquema, eles trocavam todos os dados das crianças para ninguém nunca encontrar elas. Descobri que era adotado com uns 20 anos, soube que eu não tinha nascido em janeiro, mas sim em dezembro. Entrei em depressão, comecei a tomar remédios.
Fiz o teste de DNA e entrei no My Heritage, um banco de dados no qual pessoas em busca de parentes cadastram seu DNA e esperam a correspondência com o de alguém, por meio do cruzamento das informações. Encontrei um primo que tem família em SP e Minas. Minha mãe deve ter saído de um desses lugares para trabalhar em Curitiba.
Eu estou em busca da minha mãe biológica porque ela foi praticamente forçada a me dar. Sofro ao pensar que ela pode estar passando necessidade. O sentimento de filho para mãe não vai existir. Quem me criou foi minha mãe adotiva, meu pai saiu de casa e não foi presente.
Você olha uma pessoa na rua e procura nela o seu nariz, a sua boca, procura por você mesmo. Tenho sonhos nos quais estou abraçando a minha mãe, minha procura é um tiro no escuro.”
“Minha patroa vendeu a minha filha”
Maria Alaíde Pereira da Silva, 54 anos, Fortaleza
“Eu tinha 20 anos, já era mãe de duas filhas e estava grávida de cinco meses, quando meu marido me abandonou. Eu trabalhava em restaurante, não dava para pagar o aluguel, alimentar as meninas e bancar o transporte com um salário mínimo. Fiquei devendo 9 meses de aluguel e ia ser despejada.
Dos 12 até os 15 anos, eu trabalhei para uma família tradicional de Fortaleza, bem rica. Trabalhávamos eu e minhas duas irmãs, uma de 11 anos e outra de 15, éramos praticamente escravas deles, a gente veio do Maranhão para isso. Na época eu era grata, eles deram um teto, escola, cuidaram da gente, eu pensava.
Quando eu me vi sozinha com três crianças, uma delas sendo um bebê, eu tentei pedir ajuda para os meus vizinhos, para todo mundo que podia, e as meninas passaram por muita coisa ruim. Eu fui pedir socorro para aquela família para quem eu trabalhei, pois eu confiava neles, era gente do bem, estava sempre em coluna social.
Pedi para que eles ficassem com a Roberta, só enquanto eu dava um jeito na minha vida. Eu nunca disse que queria entregar ela para adoção ou nada assim. Quando eu cheguei na mansão deles para deixar a Roberta, tinha uma mulher vestida de vermelho num carro preto com motorista de cap e tudo já esperando pelo bebê.
Me fizeram entregar a menina a ela e só me sobrou uma fralda de pano na mão e eu chorava muito. A dona Nilda, a dona da casa, me consolou dizendo que eu não chorasse porque eu podia buscar a menina quando eu quisesse. Lembro de atravessar o jardim da casa, era um lugar muito bonito, e de ir embora chorando.
Eu ligava toda semana e ela me dava notícia da menina, dizia que estava muito bem. Meses depois, quando fui buscar a menina, dei de cara com um terreno vazio. A família vendeu a casa e o imóvel foi demolido para construção de um prédio. Fiquei parada olhando e pensando como eu ia achar minha filha.
Liguei durante meses, eles começaram a não atender mais o telefone. Até que um dia a dona Nilda falou comigo e disse: eu dei mesmo a sua filha, ela está bem, está muito melhor do que com você passando necessidade. Só ali eu descobri que aquela família tinha o hábito de dar os filhos das empregadas. Ela me disse que já tinha dado 12 crianças. Falei com pessoas que também trabalharam lá e elas confirmaram outras histórias como a minha.
Há 34 anos eu procuro pela minha filha e às vezes acho que vou enlouquecer. Eu entrei nos grupos de busca, já fiz cinco exames de DNA com meninas que procuram a mãe, mas sempre dá negativo. A minha filha não deve nem saber que foi adotada. Os investigadores voluntários nos grupos de busca acharam os novos telefones de pessoas daquela família para quem trabalhei. Eu ligo, mas elas fogem de mim. Disseram que se eu registrar ocorrência ou for à Justiça vão usar tudo que têm para se defender.
Eu fui ingênua, tonta e tola. Uma vez, uma filha da patroa me disse: a minha mãe era rica, não precisava disso. Só então eu percebi que, na verdade, ela vendia os bebês. Até hoje eu guardo o umbigo da minha filha e a pulseirinha que ela usou na maternidade.”
“O médico foi quem levou meu menino para adoção”
Anália Cândido*, 66 anos, empregada doméstica
“Eu já tinha uma criança de 2 anos, a Adriana, e estava grávida de um menino. Morava na casa da patroa, um lugar muito grande, então fui escondendo a gravidez. Meu namorado ia assumir a criança e a gente ia se casar. Acontece que ele morreu quando eu estava com 8 meses de gestação.
O bebê nasceu e eu não tinha nem uma muda de roupa para vestir nele. Sentia uma tristeza, mas não sabia o que era depressão pós-parto. Eu era empregada, analfabeta e vivia em um cômodo, como eu ia chegar lá com outra criança? No hospital, um médico japonês chamado Matsu se ofereceu para arrumar uma família para adoção. Chegou um casal que não podia ter filhos, em 25 de novembro de 1979, no Hospital Universitário, em Londrina (PR). E eu nunca mais vi o menino.
De lá para cá, nunca mais fui a mesma. Fui internada em uma clínica psiquiátrica, passei pelo alcoolismo, tomei remédios. Às vezes, as pessoas acham mais fácil julgar do que ajudar. Entrei nos grupos de busca, apareceu uma pessoa, fizemos DNA, mas não era.
É difícil achar porque quando entregam alguém para adoção assim eles mudam todas as informações, colocam até nome de hospital que não existe. Fica uma angústia, uma vida sem sentido. Parece que caiu uma agulha no palheiro e você tá procurando.”
*Depoimento enviado por meio de Adriana Cândido, filha de Anália.
“Nunca pude nem fazer um mapa astral”
Alexandre*, 37 anos, Santa Catarina
“Não sei a hora que nasci, nunca pude fazer um mapa astral, pode parecer bobagem para algumas pessoas, mas é muito mais que isso. Não sei nem de onde vim, como vou resolver meus problemas? Fui adotado por um médico. Segundo meu pai, um colega de faculdade dele falou sobre um esquema de adoção, em Curitiba, e ele quis me adotar.
Foi o tal médico quem intermediou tudo. Uma vez o confrontei, tenho o vídeo da conversa, ele fala com muita naturalidade sobre o que fazia. O médico já tem 80 anos, pode ser considerado inimputável, mas o crime não prescreve, mas vou processar um senhor de 80 anos a troco de quê?
Talvez eu não tenha resposta do que quero saber, ele não é obrigado a criar provas contra ele mesmo. Cogitei abrir um processo contra ele porque, para mim, é balela que ele não tenha recebido nada em dinheiro. Quem é que vai se arriscar e cometer um crime a troco de nada?
A única informação que tenho é que minha mãe biológica foi paciente dele e ele fez aproximadamente 15 doações de recém-nascidos na época. Sou registrado em Curitiba, mas naquela época para registrar uma criança não precisava de muito, bastava ter um documento que saía do hospital, o registro de nascido vivo. Facilitava muito adoções indevidas.
Meus pais em momento nenhum cogitaram a possibilidade daquilo ser crime, era algo habitual, não existiam regras. Sempre tive uma boa relação com eles, sempre soube que era adotado. Eles têm um filho biológico, nunca fizeram distinção de nada. Minha mãe fala até que sou o preferido dela.
Ao mesmo tempo, sempre senti um vazio muito grande, tenho problemas com depressão. Meus pais adotivos sempre me apoiaram, mas sempre tinha uma desconfiança muito grande por eles não saberem quem são meus pais biológicos.
Fui pesquisar porque eu tinha alguns problemas emocionais e descobri que existe uma síndrome da criança adotada. Em vários momentos da minha vida tive sintomas dessa síndrome. Gostaria de saber de que barriga eu saí, quem era o pai. Desconfio que, de alguma maneira, a minha história pode ter a ver com casos que envolvem a Arlete Hilu.”
*Alexandre pediu para ter não o nome completo divulgado, pois os pais adotivos ainda são vivos.
Quem é Arlete Hilu?
Nos anos 1980, foi descoberta e desarticulada, na região Sul do Brasil, uma rede de tráfico de crianças brasileiras que estavam sendo levadas para diferentes estados e, principalmente, para países como Israel e nações da Europa. A rede envolvia, entre outras pessoas, médicos, juízes e assistentes sociais. A Polícia Federal estima que quase 12 mil recém-nascidos tenham sido vendidos para famílias do exterior.
Arlete Hilu ficou conhecida como a responsável por essa rede e foi denunciada pelo tráfico internacional de bebês, que tinham preços que variavam de 5 a 50 mil dólares por criança. Ela foi presa pelo menos duas vezes por causa do mesmo crime, mas depois foi libertada.
Nos grupos de busca por familiares, o nome dela aparece em diversas conversas, até os dias de hoje. A última aparição pública de Hilu foi em 2016, quando ela concedeu entrevista à Record e admitiu que ainda recebia propostas para venda de bebês.
Detetives voluntários
Os grupos de busca citados pelos entrevistados reúnem pessoas em redes sociais, como o Facebook, e no WhatsApp, nas quais são compartilhados relatos sobre adoções ilegais. Neles, pessoas comuns trabalham como detetives voluntários para ajudar a encontrar essas famílias de origem. Há casos de sucesso em que parentes voltam a se reunir após décadas de desencontros.
Uma das investigadoras é Andreia Maria Pifer da Silva, 47 anos, de Mato Grosso do Sul. Ela e outros voluntários tiram do próprio bolso os R$ 400 que pagam pelo acesso a bancos de dados nos quais eles fazem pesquisas sobre os parentes perdidos.
“Criei esse grupo porque eu tive uma filha roubada com 6 meses de vida. Quando eu contava a história eu era chamada de louca, mentirosa. Cheguei a ouvir que eu sonhei que tinha tido uma filha e eu com um baita sinal de cesárea”, relata.
Andrea não tinha dinheiro para pagar um investigador, então aprendeu a fazer buscas por conta própria e começou a ajudar outras pessoas. “Já vi até recibo de compra e venda, no caso de um menino que tinha sido adotado por R$ 3,5 mil. Fui juntando mais gente que queria colaborar e começamos a trabalhar”, relata.
Eles começaram a ter casos de sucesso e nunca mais pararam. “É como montar um quebra-cabeças. A gente pede ajuda para polícia, assistente social, enfermeiros. Monta uma corrente do bem. Ajudo qualquer um sem questionar se é verdade, fantasia ou um caso sério”, diz.
Atualmente são 14 administradores no grupo. “Tem dia que 2h da manhã estou fazendo busca. Já virei noites para achar uma pessoa. Usamos de tudo: Google, Facebook, Instagram, Twitter, as redes em geral, Infoseg, o site da Justiça, dados do Bolsa Família, do cadastro do SUS”, relata.
Andrea também fez um curso de investigação particular para se capacitar. Ela ressalta que é proibido cobrar qualquer quantia pelo serviço nos grupos que administra. “Pedimos só um vídeo de agradecimento quando dá tudo certo.”
2020: tráfico de bebês pela internet
Depois da Lei da Adoção, de 2009, qualquer pessoa que queira adotar uma criança no Brasil deveria estar, obrigatoriamente, inscrita no Cadastro Nacional de Adoção (CNA), que desde o ano passado, começou a ser feito pelo Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA). Dados do início desta semana mostram que há 5.153 crianças aptas à adoção no país e 35.478 pretendentes disponíveis.
A prática ilegal, porém, permanece arraigada na cultura do país. Há casos recentes de venda de crianças em grupos de Facebook sendo investigados pelo Ministério Público Estadual de São Paulo (MPSP).
O inquérito civil foi instaurado após a denúncia da existência de dois perfis na rede social dedicados a aproximar gestantes que pretendiam doar seus filhos recém-nascidos de casais interessados em receber essas crianças. Após esses dois perfis terem sido denunciados, outras acusações sobre grupos semelhantes chegaram ao Ministério Público.
“Sob o ponto de vista do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) isso é absolutamente ilegal. O ECA prevê o procedimento para a adoção. Os interessados precisam buscar a Vara da Infância e da Juventude e efetuar seu cadastro para que possam adotar crianças e adolescentes”, explicou a promotora de Justiça, Juliana Bérgamo.
As gestantes que pretenderem entregar seus filhos para adoção precisam ser encaminhadas para a Vara da Infância e da Juventude. “Não existe no nosso sistema legal essa possibilidade de crianças serem transacionadas ou negociadas diretamente entre gestantes e pretensos adotantes”, alerta.
Por meio da assessoria de imprensa, a Promotoria de Justiça da Infância e Juventude da Capital (Setor de Difusos) informou que segue investigando o inquérito civil sobre esses grupos de adoção.
Das 13 páginas denunciadas, nove já foram excluídas. Oito pela própria plataforma e uma pela administradora. “Foram identificados administradores de outros estados e os MPs desses Estados estão sendo comunicados. Também houve comunicação à Procuradoria de Justiça Criminal para apuração de eventual crime.”
Jurisprudência
O Superior Tribunal de Justiça (STJ) divulgou que nos últimos anos deu aval para casos pontuais de adoção à brasileira. Em outubro de 2016, permitiu que um casal ficasse com irmãos gêmeos, adotados irregularmente, aos 9 meses de idade.
Segundo a Justiça, a mãe biológica manifestou expressamente sua concordância com a adoção, e foi constatado que o pai e o avô das crianças, na família de origem, abusavam sexualmente das crianças mais velhas com a conivência da mãe biológica. Diante dessa situação, o relator do processo, ministro Raul Araújo, defendeu a permanência dos gêmeos com os pais adotivos.
Outro julgado, de agosto de 2017, resultou na guarda da criança pelos pais adotivos, de forma provisória, até ser concluído o processo regular de adoção. Nesse caso, a criança foi abandonada pela mãe biológica aos 17 dias de vida e foi encontrada em frente a uma casa, dentro de uma caixa de papelão.
Direito à verdade biológica
Mesmo nas hipóteses em que a adoção é feita de maneira legal, nos termos do ECA e da Lei da Adoção, é assegurado ao adotado o direito de conhecer sua origem biológica. Se o adotado desejar conhecer sua origem biológica, essa investigação não gera consequências de cunho patrimonial, como direito a herança.
Nos casos de adoção à brasileira, é assegurado ao adotado o direito à verdade e a todas as suas consequências, incluindo as de caráter patrimonial.