Mãe denuncia racismo em shopping: “Pior dia da vida do meu filho”
A operadora de caixa Aline Cristina diz que a criança de 11 anos foi barrada por seguranças ao tentar entrar no estabelecimento
atualizado
Compartilhar notícia
A operadora de caixa Aline Cristina Lucas Santos, de 29 anos, fez um boletim de ocorrência na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), em São Paulo. A denúncia feita por ela é de que o filho, de 11 anos, foi barrado por seguranças ao tentar entrar no Bourbon Shopping, na zona oeste da capital, na última quarta-feira (25/09/2019).
Aline relata que o menino a acompanhava, mas precisou pegar um brinquedo que a irmã de 2 anos tinha deixado cair. Ao tentar entrar sozinho no estabelecimento, foi impedido por dois seguranças. O shopping diz que os profissionais são orientados a abordar menores de idade desacompanhados que ingressem no local.
“Era o meu dia de folga e aproveitei para ir ao Sesc, que é perto, e fui ao McDonald’s para comer um lanche. Falei que a gente ia comprar algumas coisas no shopping e caiu um brinquedinho da neném. Como estava frio, entrei no shopping e pedi para ele voltar para pegar.” Dentro do local, ela conta que viu a abordagem do primeiro profissional.
“Vi o segurança dar um toque para o outro sobre o meu filho. Ele fez uma barreira (com o corpo) na hora que meu filho foi passar. Meu filho pediu licença e ele não deixou passar. Depois, apareceu outro segurança atrás do meu filho e eles fizeram um tipo de escudo. Falei: ‘é o meu filho’. Um dos seguranças veio falar comigo e disse que tem muita criança que vai lá para pedir”, conta Aline Cristina.
Em nota, o Bourbon Shopping São Paulo disse repudiar qualquer forma de racismo ou ato discriminatório e afirmou que “os seguranças agiram em conformidade à orientação de abordar qualquer menor de idade desacompanhado que ingresse no shopping”. O estabelecimento informou que a medida “visa única e exclusivamente à proteção deste público”.
“Era o meu dia de folga, fomos passear e meu filho passou por esse constrangimento. Ele ficou bastante abalado e falou que foi o pior dia da vida dele. Ele disse que não quer mais ir para shopping. A forma como ele abordou meu filho me chocou bastante. Fizeram isso porque ele é negro e está com o cabelo grande. Mas como seria se eu não estivesse com ele? Como ele iria enfrentar essa situação sozinho?”, questiona.
Advogado da família, Ariel de Castro Alves diz que o boletim de ocorrência foi feito com base no artigo 20 da Lei nº 7716/89, que engloba os crimes de preconceito de raça ou de cor. “As crianças não podem ser impedidas de entrar onde todos têm acesso. O menino estava bem vestido. Se ele estivesse com a mesma roupa e fosse branco, provavelmente não teria o mesmo problema. Várias crianças com uniforme de escola entram tranquilamente desacompanhadas. Eles achavam que o menino estava ali para pedir por ser uma criança negra”, diz. Segundo ele, a família deve pedir uma indenização por danos morais.