metropoles.com

Mãe declara amor ao filho adotivo que sobreviveu a um aborto

“Bastou recebê-lo em meus braços para o amor desabrochar, e minha vida tornou-se com ele uma festa”, afirma a mulher em texto tocante

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Facebook/ Reprodução
silvia grecco
1 de 1 silvia grecco - Foto: Facebook/ Reprodução

“Adotar não é caridade, é um ato de amor”, define a ex-secretária de assistência social Silvia Prin Grecco. Convidada para dar seu depoimento ao colunista Jairo Marques, da Folha de S. Paulo, ela conta como foi o processo de adoção de Nickollas, seu filho portador de deficiências decorrentes de uma tentativa de aborto. Confira o texto emocionante da mãe:

“Ser mãe, para mim, é dádiva, é mistério, é amor e ao mesmo tempo uma tarefa desafiadora. Como tantas mulheres, experimentei a maternidade gerada no ventre, e tive o privilégio de também gerar no coração. Isso me fez entender que o amor pelo filho é único, não tem distinção.

Dois filhos, duas histórias, Márjori e Nickollas. Márjori, com 30 anos, uma linda filha. Arquiteta de formação, mãe, cúmplice, amiga, irmã dedicada, filha abençoada. Nickollas, com dez anos, um príncipe, lindo, meigo e surpreendente.

Veio ao mundo com apenas cinco meses de gestação, pesando 500g após a prática de um aborto provocado. Adotei o Nickollas com quatro meses de nascimento. O desejo de adotar levou-me aos trâmites legais junto à vara da Infância e da Juventude e entrar na fila de adoção.

Processo durou cerca de sete meses. Uma burocracia necessária; porém, não tão demorada como se pensa. Durante a entrevista com os técnicos do fórum, não fiz nenhuma exigência em relação a cor dos olhos, idade, sexo, nada. Desejava apenas receber em meus braços, aquele que chamaria de filho, gerado em meu coração.

Adotar não é caridade, é um ato de amor! Caridade é algo pontual, adotar é receber um filho para sempre. É ter a responsabilidade na criação, na educação. É enfrentar desafios. Soube desde o início que, por conta da prematuridade, não houve a formação da retina, tendo como sequela uma retinopatia da prematuridade grau 5, ou seja, meu filho tem deficiência visual, é cego completamente.

Isso não foi motivo para não adotá-lo. Embora entendesse que a tarefa não seria fácil, uma experiência nova, desafiadora, bastou recebê-lo em meus braços para o amor desabrochar, e minha vida tornou-se com ele uma festa. Uma euforia tomou conta de mim e da minha família.

Depois de seis anos, identificamos mais uma deficiência: autismo de grau leve. Novo desafio e aprendizado. Estava ele ali, precisando do seu tempo para assimilar todas as informações que circulavam ao seu redor.

Ele vivendo em seu mundo à procura do aconchego, do carinho, da atenção no momento certo, no momento dele. Apenas dele. Esse processo gerou no meu íntimo uma inquietação e muitos questionamentos em relação à deficiência e ao aborto.

Não quero entrar no mérito da religião quanto ao aborto, tampouco no julgamento da mulher que assim decidiu. Fui batizada e criada nos preceitos da Igreja Católica que é contra a prática do aborto. Eu, particularmente, também sou.

Porém a mulher acaba sendo vítima de julgamento e de preconceito perante o olhar de uma sociedade que julga, condena e não costuma perdoar. Não quero incorrer no mesmo equívoco. Pensei sobre as circunstâncias, sobre as razões pessoais daquela mulher que havia optado por dizer “não” a uma vida, a vida do filho que estava sendo gerado em seu ventre.

Razões que, com certeza, ela carregará em seu íntimo e que servirá para justificar ou não o seu ato por toda vida. De coração, não me cabe julgar. A minha única certeza é que aquele “não” transformou-se em duas vitórias. A vida que persistiu, pois o feto sobreviveu, e a nova vida que ganhei, uma vida que me faz a mulher e a mãe mais feliz do mundo.

Muitas mulheres, com certeza, carregam a culpa por entenderem, ainda que intimamente, que praticaram um ato pecaminoso – como rotula parte da sociedade – e que não serão “perdoadas”, o que causa, não raro, muitos transtornos psicológicos.

Muitas dessas mulheres são crucificadas, sim! Creio que necessitam de apoio, amparo, colo e não de julgamento. Sou cristã, defendo a vida em todas as circunstâncias, sou contra o aborto, mas jamais julgaria esse ato, até porque o Deus em que creio é o Deus que representa o amor.

Difícil esse tema; porém, necessário e relevante. É urgente que se coloque luz nesta discussão. Por mais complexa que seja. No caso do meu filho, ele sobreviveu! Sobreviveu e presenteia nossa família com a oportunidade do aprendizado, de humanidade, de amor.

Nickollas, meu filho, nos ensina, dia a dia…

Que o sentimento dele é o mais puro e sincero.

Que a beleza e o belo estão no contexto da bondade.

Que o toque, o abraço, as mãos, nos reconhecem e nos acariciam.

Que a música expressa o sentimento da alma e nos leva à outra dimensão.

Que a presença é marcante, que basta estar para sentir.

Que o sabor identifica a cor. Que o silêncio é necessário para escutar.

Que nossa voz e nosso cheiro nos tornam únicos.

Que todo dia é dia de recomeçar.

Que não devemos ter piedade, que basta oferecer oportunidades.

Que esse pequeno me torna maior, maior na minha coragem de seguir em frente.

Que é preciso enxergar com o coração.

Que a minha mão segura ensinará para ele o caminho a ser seguido para ser independente e feliz.

Que eu não serei eterna e, por isso, preciso ensiná-lo a seguir em frente.

A maior herança que meus filhos receberão de mim será a educação, os valores, os ensinamentos de respeito e amor ao próximo em todas as circunstâncias, a humildade e o agradecimento. Mas, principalmente, o amor.

O amor mais puro e verdadeiro,

O amor de uma mãe pelo seu filho.

Parabéns a todas as mães pelo nosso dia.

O dia de celebrar o amor em sua plenitude”.

 

 

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?