Mãe de Miguel responde Sarí: “Não faria isso com o filho de uma amiga”
Em carta, Mirtes Renata Santana, mãe do menino que caiu do 9º andar de um prédio em Recife, disse que “perdoar seria matá-lo novamente”
atualizado
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A mãe do pequeno Miguel Otávio Santana, de 5 anos, – que morreu após cair do 9º andar de um prédio em Recife –, Mirtes Renata Santana da Silva, abriu o coração ao falar sobre uma carta escrita por Sarí Côrte Real com um pedido de perdão à ex-funcionária. A criança estava aos cuidados da então patroa quando o fato ocorreu.
Em uma carta de resposta, Mirtes afirmou que não será possível perdoar a ex-patroa antes da “aplicação de uma pena“. Segundo ela, “antes disso, perdoar seria matar o Miguel novamente”.
Mirtes alegou que “após poucos dias é desumano cobrar perdão de uma mãe que perdeu o filho dessa forma tão desprezível”.
A carta escrita por Sarí foi divulgada no dia 5 de junho, três dias após Miguel falecer. “Sabemos que ela [Sarí] não trataria assim o filho de uma amiga. Ela agiu assim com o meu filho, como se ele tivesse menos valor, como se ele pudesse sofrer qualquer tipo de violência por ser ‘filho da empregada'”, continuou Mirtes.
A trabalhadora doméstica voltou a afirmar que tomou conhecimento da carta escrita por Sarí por meio da imprensa. “Eu não recebi qualquer pedido de desculpas. A carta de perdão foi dirigida à imprensa, o que me fez pensar que eu não era destinatária, mas sim a opinião pública com a qual ela se preocupa por mera vaidade e por ser um ano de eleição”, disse.
Veja a íntegra da carte de Mirtes:
“Eu não recebi qualquer pedido de desculpas. A carta de perdão foi dirigida à imprensa, o que me faz pensar que eu não era destinatária, mas sim a opinião pública com a qual ela se preocupa por mera vaidade e por ser esse um ano de eleição.
Eu não tenho rancor. Tenho saudade do meu filho. O sentido da vida de quem é mãe passa pelo cheiro do cabelo do filho ao acordar, pelo sorriso nas suas brincadeiras, pelo “mamãe” quando precisa do colo e do abrigo de quem o trouxe ao mundo. Uma mãe, sem seu filho, sofre uma crise, não apenas de identidade, como também de existência. Quem sou eu sem Miguel? Ela tirou de mim o meu neguinho, minha vida, por quem eu trabalhava e acordava todos os dias.
Quando eu grito que quero justiça, isso significa que eu preciso que alguém assuma a minha dor, lute minha luta, seja o destilado da cólera que eu não quero e nem posso ser. Eu não tenho forças neste momento, não tenho chão. Não tenho vida!
Após poucos dias é desumano cobrar perdão de uma mãe que perdeu o filho dessa forma tão desprezível. Afinal, sabemos que ela não trataria assim o filho de uma amiga. Ela agiu assim com o meu filho, como se ele tivesse menos valor, como se ele pudesse sofrer qualquer tipo de violência por ser “filho da empregada”.
Perdoar pressupõe punição; do contrário, não há perdão, senão condescendência. A aplicação de uma pena será libertadora, abrandará o meu sofrimento, permitirá o meu recomeço e abrirá espaço para o que foi pedido: perdão. Antes disso, perdoar seria matar o Miguel novamente”.