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Mãe de menino trans de 7 anos relata transição em perfil no Instagram

Em conta com 16 mil seguidores, mãe e filho compartilham trajetória e rotina; Gustavo, de 7 anos, realizou a mudança aos 4

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Jaciana, de 34 anos, e o filho Gustavo, de sete anos, têm um perfil conjunto no Instagram
1 de 1 Jaciana, de 34 anos, e o filho Gustavo, de sete anos, têm um perfil conjunto no Instagram - Foto: Fábio Vieira/Metrópoles

São Paulo – Gustavo é um menino transexual de 7 anos. Ele realizou a transição aos 4 anos de idade, com todo o apoio da mãe, Jaciana, 34. Hoje, a dupla, que vive em São Paulo, divide sua história e rotina em um perfil no Instagram e auxilia outros na mesma situação.

A mudança se deu de vez há três anos, quando a mulher foi chamada com urgência à escola da filha. Surpreendeu-se ao receber dos profissionais da instituição um encaminhamento para que a pequena buscasse tratamento para depressão.

O primeiro passo para a cura foi atender o desejo da menina de ser tratada como menino. Após trocar todo o guarda-roupa e escolher um novo nome, a criança recuperou a alegria e disse que queria ser youtuber.

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A combinação do nome de ambos também é uma medida para se adequar as normas da rede social que só permite a entrada de usuários com mais de 13 anos
Criada em maio de 2020, a conta tem 16 mil seguidores que acompanham as coreografias, as dublagens e as brincadeiras típicas de contas infantis
A família unida
Jaciana, de 34 anos, e o filho Gustavo, de sete anos, têm um perfil conjunto no Instagram
Parceria familiar
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Entretanto, Jaciana também vê o espaço virtual como uma referência para outras de crianças transexuais

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A combinação do nome de ambos também é uma medida para se adequar as normas da rede social que só permite a entrada de usuários com mais de 13 anos

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Criada em maio de 2020, a conta tem 16 mil seguidores que acompanham as coreografias, as dublagens e as brincadeiras típicas de contas infantis

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A família unida

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Jaciana, de 34 anos, e o filho Gustavo, de sete anos, têm um perfil conjunto no Instagram

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Parceria familiar

O perfil no Instagram foi a maneira que a mãe encontrou para atender aos desejos de Gustavo. A combinação do nome de ambos (@jacianaegustavinho) é uma medida para se adequar às normas da rede, que só permite a entrada de usuários com mais de 13 anos.

Internet

Criada em maio do ano passado, a conta traz 16 mil seguidores que acompanham as coreografias, as dublagens e as brincadeiras típicas de perfis infantis. Entretanto, Jaciana também vê o espaço virtual como uma referência para outros transexuais mirins.

No perfil, a atendente, que já ajudou outras 35 mães, dá dicas sobre como obter atendimento médico especializado e serviços jurídicos.

“Eu permiti o perfil porque ele tem o mesmo direito que toda criança. Mas não deixo que acesse a tudo, porque, querendo ou não, do mesmo jeito que as redes sociais ajudam, elas são muito tóxicas”, contou Jaciana.

“Queremos que o nosso filho realize um sonho, mas também temos medo da exposição. Na redes, do mesmo jeito que as pessoas te amam, elas te machucam”, disse Jaciana, sobre o dilema dela e de sua esposa. Ela acredita que a notoriedade pode servir como uma prevenção para violências mais graves. “É bom ter visibilidade porque as pessoas ficam com medo de te atacar.”

A atendente relatou que recebe ataques frequentes por meio de mensagens diretas. “É só porque ele é trans. Existem milhões de crianças que desde bebês possuem perfis, que os pais tiram fotos e ganham com isso, e nunca existiu polêmica”, argumentou. 

A mãe conta que o menino deseja virar artista, fala em se tornar ator e dançarino. Gustavo chegou a ser escolhido como o Mini Mister Trans Brasil e desfilou no concurso que ocorreu no último dia 9. “Ninguém é contra uma criança fofinha que desfila, que atua, mas é contra uma criança trans”, comentou.

Transição

A aspiração a influenciador era impensável antes da transição de Gustavo. “Uma criança triste, que não gostava de tirar fotos, ficava o tempo todo calada, se transformou em outra“, comemorou a mãe.

Até mesmo para a escolha do novo nome, o garoto se inspirou em uma canal do YouTube chamado Gustavo TV, no qual o autor fala sobre games, pegadinhas e desafios. Mãe, Gustavo combina mais comigo, mas só Gustavo, não precisa do TV”, disse o pequeno, aos 4 anos.

No entanto, o processo começou anteriormente. “Com 2 anos, ele passou a rejeitar tudo que era feminino. Nessa época, eu não entendia absolutamente nada sobre crianças trans. Nem sabia que isso era possível”, lembra Jaciana.

A minha ficha começou a cair aos pouco. Não sabia por onde começar. Não é uma coisa fácil fazer uma transição em um estado nordestino, onde as pessoas são extremamente homofóbicas“, afirmou.

A mulher de 34 anos é lésbica e nasceu em Cajazeiras, na Paraíba, e foi criada em uma família evangélica. No entanto, abandonou a cidade natal, onde chegou a desmaiar após receber uma surra da avó por dizer que “gostava de uma menina”. 

Depressão

No período em que seu filho começou a rejeitar a identidade feminina, a família morava em Fortaleza. “Ele apanhava e chorava na escola, as crianças não brincavam com ele”, conta a mãe.

Uma atendente do colégio questionou a então garota o que poderia fazer para que ela se sentisse melhor e ouviu como resposta: “A senhora me tratar como menino. Porque eu não sou uma menina, sou um menino.”

Quando trocamos o guarda-roupa em um bazar, ele abriu a sacola e chorou. Depois, vestiu uma bermuda e uma camisa social, foi para o espelho, começou a sorrir e pedir para eu olhar para ele”, contou.

A partir daí, a família passou a fazer progressos. No entanto, ainda enfrentou episódios de transfobia, como a escola impor dificuldades para respeitar o nome social de Gustavo.

Então, decidiram se mudar para São Paulo. O pequeno começou, então, a receber atendimento psicológico, psiquiátrico e pediátrico no Ambulatório Transdisciplinar de Identidade de Gênero e Orientação Sexual do Instituto de Psiquiatria, do Hospital das Clínicas (HC).

A mãe também encontrou uma rede de apoio na ONG Casa Chama e no coletivo de acolhimento LGBTQI+ Mães do Arco Íris.

“Não existe isso de induzir uma criança a ser trans. Ela nasce trans. O que existe são pessoas que nascem em uma família tóxica, na qual desde criança explicam que ‘homem tem que ser homem, mulher tem que ser mulher’ e, se você for diferente disso, vai apanhar”, concluiu Jaciana. 

Cautela

Para o médico Alexandre Saadeh, coordenador do Ambulatório de Identidade de Gênero e Orientação Sexual do Instituto de Psiquiatria (IPQ), do Hospital das Clínicas (HC), a relação entre crianças, sejam cisgêneros ou trans, e redes sociais é sensível.

É ruim para qualquer criança. A hiper exposição na internet é complicada, porque coloca elas em um universo que não é real. Mas essa é uma decisão que cabe aos pais”, afirmou.

O médico analisa que os pequenos gostam da internet, porque se sentem importantes. No entanto, isso acarreta “um preço alto” depois, porque é praticamente impossível apagar um conteúdo da web.

O coordenador do IPQ também complementou, referindo-se a crianças trans: “Cria um universo muito ficcional para essa criança e ela não precisa disso. Precisa de apoio, confirmação e aceitação da parte dos pais”.

O especialista pondera que, caso haja um dom artístico, é preciso focar apenas nessa questão mais profissional e preservar assuntos pessoais.

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