metropoles.com

Mãe de Hipster da Federal detalha surto antes de morte do filho

Policial federal Lucas Valença teve surto durante viagem de família e estopim foi briga entre cachorros. Mãe relatou histórico da família

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Reprodução/Instagram
mae hipster da federal goias
1 de 1 mae hipster da federal goias - Foto: Reprodução/Instagram

Goiânia – A mãe do policial federal Lucas Valença, o Hipster da Federal, morto aos 36 anos, defende que houve legítima defesa por parte do auxiliar de almoxarifado que o matou na noite de 2 de março deste ano, na zona rural de Buritinópolis, no nordeste de Goiás.

O episódio da morte do policial foi noticiado em primeira mão pela coluna de Guilherme Amado no Metrópoles.

A pastora Maurícia Valença contou o que sabia sobre a história e morte do filho em depoimento para a Polícia Civil, ao qual o portal teve acesso. Lucas morreu com um único tiro abaixo do peito, quando tentou invadir uma casa, em um aparente surto psicótico.

16 imagens
Enterro de Lucas Valença, o Hipster da Federal
O enterro estava lotado, mais de 300 pessoas compareceram
Amigos, colegas e familiares do agente da Polícia Federal (PF) Lucas Soares Valença, de 36 anos, compareceram ao sepultamento
Lucas e Trovão, cachorro que adotou
Agente da PF morto em Goiás era apaixonado por animais
1 de 16

Lucas Valença, o Hipster da Federal, ao lado do irmão Eduardo

Reprodução
2 de 16

Enterro de Lucas Valença, o Hipster da Federal

Hugo Barreto/Metrópoles
3 de 16

O enterro estava lotado, mais de 300 pessoas compareceram

Hugo Barreto/Metrópoles
4 de 16

Amigos, colegas e familiares do agente da Polícia Federal (PF) Lucas Soares Valença, de 36 anos, compareceram ao sepultamento

Hugo Barreto / Metrópoles
5 de 16

Lucas e Trovão, cachorro que adotou

Arquivo pessoal
6 de 16

Agente da PF morto em Goiás era apaixonado por animais

Arquivo pessoal
7 de 16

Hipster da Federal ao lado de Trovão, último cachorro que adotou

Arquivo pessoal
8 de 16

Hipster da Federal participou da caçada a Lázaro Barbosa

Hugo Barreto / Metrópoles
9 de 16

Lucas Valença, o Hipster da Federal, de 36 anos, morreu na quarta-feira (2/3), em Goiás, após invadir uma propriedade rural

Reprodução/Redes Sociais
10 de 16

Hipster da Federal morreu com tiro abaixo do peito

Instagram
11 de 16

Porta de chácara foi arrombada em Buritinópolis (GO)

PMGO
12 de 16

Agente federal desligou registro de energia antes de invadir chácara

PMGO
13 de 16

Arma usada por dono de chácara para matar Hipster da Federal

PMGO
14 de 16

Sua última postagem no Instagram foi com o presidente Jair Bolsonaro, no início de 2022, após curso de formação de novos policiais federais

Reprodução/Instagram
15 de 16

Ele era agente da Polícia Federal

Reprodução/Instagram
16 de 16

O policial reapareceu em 2021, quando participou das buscas pelo maníaco Lázaro Barbosa, em Goiás

Reprodução/Instagram

“Foi em legítima defesa. Esse rapaz é inocente. Eu não tenho nenhuma dúvida disso. Ele agiu porque não era fácil sustentar uma situação dessa. Ele agiu em legítima defesa. Ele não é culpado”, disse a mãe do Hipster da Federal em depoimento gravado.

A Polícia Civil indiciou o auxiliar de almoxarifado que matou Lucas por posse ilegal de arma, já que ele possuía uma arma de cano longo modificada e sem documentação. No entanto, o delegado Alex Rodrigues concluiu que houve legítima defesa ao atirar no policial federal. O inquérito foi remetido ao Judiciário na última terça-feira (12/4).

Histórico

Lucas Valença ficou conhecido nacionalmente depois de participar da prisão do ex-deputado federal Eduardo Cunha. Segundo a família, ele tinha uma vida normal e o surto que teve no período da sua morte foi sem precedentes.

“Dois anos atrás, ele teve um surto, mas não chegou perto do que aconteceu. Ele iniciou tratamento, mas o psiquiatra achou que ele estava muito bem, que poderia ser um episódio isolado. O médico teria dito que não era necessário (continuar o tratamento). Ele não tinha chegado em diagnóstico nenhum de patologia psíquica”, resumiu a pastora Maurícia.

A família de Lucas tem uma história de tragédias e perdas. O policial estava sendo acompanhado por uma psicóloga por causa disso. O pai biológico dele morreu quando Lucas tinha três anos de idade. Um irmão morreu aos 19, quando Lucas era adolescente. Outro irmão ficou paraplégico.

“Era muito peso na cabeça dele”, disse a pastora. Em outro depoimento, um amigo da PF disse que “ocorreu um turbilhão de emoções na cabeça de Lucas”, após ficar famoso por causa da prisão de Eduardo Cunha, o que teria ocasionado um quadro de depressão.

Uso de substâncias

Lucas teria aumentado o consumo de bebida alcoólica pouco antes do surto, segundo a mãe. “Ele começou a beber o tempo todo, [era] cerveja que ele bebia, e aquilo foi potencializando”. O jovem não estaria tomando remédio controlado, segundo testemunhas.

Além disso, na análise de urina do policial foi encontrada a presença de THC, princípio ativo da maconha. No exame toxicológico é descrito que a maconha dá sensação de relaxamento e bem-estar, sem a imprudência e agressividade associadas, ao contrário do álcool.

No entanto, a substância “pode precipitar ou exacerbar a psicose em indivíduos com esquizofrenia ou transtorno bipolar”, segundo texto do exame toxicológico.

Viagem para o lago

Lucas, seu irmão e seus pais foram até uma chácara da família, em um condomínio de Buritinópolis, na beira do lago, para passar o último final de semana de fevereiro. Foi nessa chácara que ele começou a ter um aparente surto psicótico.

Antes disso, tudo estaria normal. Lucas passou dois anos morando próximo da família e era um filho extremamente obediente, segundo os pais. O padrasto inclusive era sempre tratado pelo termo “pai”.

“A viagem foi maravilhosa. (…). (Ele disse) Essa vai ser a vez que eu mais vou aproveitar o lago”, contou Maurícia.

Lucas e seu irmão levaram o porta-malas do carro cheio com instrumentos para praticar tiro. O policial federal inclusive estava com uma submetralhadora e duas pistolas usadas no trabalho.

Gatilho

A mãe do Hipster da Federal relatou que tudo mudou a partir de um gatilho, que alterou completamente o comportamento de Lucas.

Ele estava na companhia de um vira-latas chamado Trovão, que ele havia adotado em Brasília. No entanto, quando chegou na casa do lago, o animal foi atacado por um outro cachorro da família, de maior porte, chamado Sansão.

Lucas então teria agido de uma maneira desproporcional, dando um chute em Sansão e o imobilizando, chegando a se ferir e precisar tomar vacina antirrábica. Na sequência, ele já teria ficado extremamente emotivo e, nos dias seguintes, foi se tornando mais agressivo nas palavras, até o ponto de destruir o interior da casa do lago.

O policial federal passou a relembrar mágoas e traumas do passado, como a morte do pai. “Ele começou a desabafar todas as dores de alma que ele tinha, mas daquela forma surtado”, relatou a mãe.

Tentativa de resgate

Na época, Maurícia tinha feito uma cirurgia cardíaca recente e com toda aquela situação inusitada, foi levada de volta para a casa em Brasília, de onde acompanhou toda a situação à distância. Enquanto isso, Lucas ficou com o pai e o irmão na casa do lago.

A família então conseguiu uma vaga em uma clínica psiquiátrica em Brasília e três amigos de Lucas da PF foram até a chácara para resgatar o amigo surtado.

Como ele estava muito agitado, uma vizinha amiga da família deu alguns comprimidos de remédio de insônia para Lucas. O policial adormeceu enquanto falava com a mãe por ligação de vídeo pela última vez.

“Eu falei: Algema o Lucas! Vocês não vão conseguir controlá-lo, imobiliza ele. Com esse remedinho, ele vai acordar daqui a pouquinho. Eu dei a minha autorização para que eles fizessem qualquer tipo de contenção no Lucas”, disse a mãe. Ela contou que sabia que eles não iam conseguir lidar com ele, na hora em que acordasse. “O Lucas tinha força demais. E essa força em uma pessoa surtada, imagina”, contou a pastora em depoimento.

Surto na rodovia

Antes de ser levado para a clínica, os amigos tiraram as armas de Lucas. No momento de entregar a submetralhadora, ele teria dado uma rajada de tiros, segundo depoimentos.

Lucas estava sendo levado para a clínica em Brasília, dentro de um veículo com três amigos, quando de forma repentina teria acordado em um novo surto.

“Para a porra desse carro, senão vai morrer todo mundo!”, teria gritado o policial federal.

Segundo depoimentos, ele saiu do carro em movimento e correu no meio da rodovia. Os amigos foram atrás dele, com medo de que fosse atropelado. O policial federal só aceitou entrar no carro se voltasse para a chácara, onde garantiu que tomaria um banho e dormiria.

Próximo do perigo

Ainda segundo depoimentos, Lucas ficaria alternando entre momentos de surto e consciência. Em momentos do surto, ele chamaria as pessoas de “fracos” e dizia que estava com o pai incorporado. “Não era o Lucas que estava ali”, relatou o pai de consideração mais tarde para a polícia.

O policial federal teria sido deixado na porteira que dá acesso ao rancho da família e os amigos dele da PF teriam ido até o posto de saúde da cidade para tentar ajuda. Lucas teria então fugido e desapareceu. Posteriormente ele tentou invadir a casa do auxiliar de almoxarifado, que o matou com um tiro no peito em legítima defesa, segundo a polícia.

Fim trágico

A esposa do auxiliar de almoxarifado já havia realizado faxinas na casa da família de Lucas e ela ligou para a mãe do policial, de quem tinha o telefone.

“Ela estava desesperada: ‘Pelo amor de Deus, ele está aqui na minha porta, ele está aqui falando um monte de besteira e meu marido está perdendo a paciência’. Eu falei, fala para o seu marido não perder a paciência, tranca tudo, fica quietinha. Eu imaginava que ele ia para outras casas, para outros lugares”, contou a pastora.

Pouco depois, Lucas teria arrombado a porta e foi atingido pelo tiro. Ele caiu do lado de fora da casa e chegou a avisar que era policial. Um conhecido da família ligou para o autor do disparo pedindo para ele prestar primeiros socorros, mas ele ficou com medo de ser agredido e aguardou a chegada da equipe médica. Um amigo de Lucas pagou a fiança para tirar o auxiliar de almoxarifado da prisão.

A família de Lucas tem se consolado com a fé. “Nós somos servos de Deus. Lucas era apaixonado pelo Deus que ele serviu. sei que isso foi loucura, uma doença, um surto psicótico extremo”, disse a mãe.

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?