Lula se reúne com Xi Jinping: “Ninguém vai proibir que o Brasil aprimore relação com a China”
Lula e Xi Jinping se encontraram no Grande Salão do Povo, com direito a Hino Brasileiro e música de Ivan Lins
atualizado
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Pequim – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi recebido nesta sexta-feira (14/4) pelo presidente chinês Xi Jinping, em Pequim, com uma cerimônia coreografada nos mínimos detalhes, com mais de 400 militares em marcha e crianças uniformizadas e enfileiradas chacoalhando bandeiras do Brasil e da China. Lula afirmou, na abertura da reunião entre os dois, que “ninguém vai proibir que o Brasil aprimore sua relação com a China”, em uma calculada alfinetada nos Estados Unidos. Xi Jinping, por sua vez, chamou Lula de “amigo de longo tempo” e afirmou que a “China trata de maneira estratégica e com longo alcance a relação com o Brasil”.
A recepção a Lula teve ainda disparos de tiros de canhão e diversas bandas de música que executaram o Hino Brasileiro e, enquanto os dois presidentes passavam as tropas em revista caminhando sobre longos tapetes vermelhos, tocaram a canção “Novo tempo”, de Ivan Lins.
Veja a lista de acordos assinados em encontro entre Lula e Xi Jinping
Veja o encontro entre Lula e Xi Jinping:
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é recepcionado por Xi Jinping em Pequim. pic.twitter.com/GkVtTaBXJn
— Metrópoles (@Metropoles) April 14, 2023
Desde o instante em que Lula desceu do carro, ao som de música épica, a cerimônia durou 15 minutos. A recepção se deu diante da fachada principal do Grande Salão do Povo, o epicentro do poder chinês, bem em frente à mítica Praça da Paz Celestial.
Acompanhados das primeiras-damas, Xi Jinping e Lula cumprimentaram ministros dos dois países que os aguardavam na escadaria e, logo depois, entraram para o esperado encontro, programado para ocorrer em dois tempos – a primeira parte na companhia de vários auxiliares dos dois lados e a segunda, mais restrita e reservada.
Já nos primeiros instantes da conversa, Lula cutucou indiretamente os Estados Unidos, que estão em franca guerra comercial e diplomática com a China já há algum tempo.
“Ontem, fizemos visita a Huawei numa demonstração de que queremos dizer ao mundo que não temos preconceito com o povo chinês. E que ninguém vai proibir que o Brasil aprimore sua relação com a China”, disse Lula, reafirmando o discurso que fizera horas antes ao se reunir com o presidente da Assembleia Popular Nacional, o congresso chinês, Zhao Leji.
Nesse encontro, o presidente falou em fazer uma parceria com o gigante asiático para “mudar a governança mundial”. Disse ainda que os “interesses na relação com a China não são apenas comerciais”.
Na véspera do encontro com Xi Jinping, Lula visitou em Xangai um centro de pesquisas da Huawei, gigante de tecnologia chinesa que é alvo de sanções do governo americano – Washington acusa a companhia de servir a interesses escusos de Pequim, incluindo espionagem.
Mais que relação comercial
Lula falou do orgulho de visitar a China pela quarta vez e da emoção ao ver o espetáculo das crianças ao chegar para encontro: “Nós precisamos trabalhar muito para que a relação Brasil-China não seja uma relação meramente de interesse comercial. Tudo bem, o interesse comercial é política. Nós queremos que a relação Brasil-China transcenda a relação comercial”.
“Queremos uma relação no campo da ciência e da tecnologia, queremos ter uma relação conjunta entre as nossas universidades para que a gente tenha mais alunos brasileiros na China, mais alunos chineses no Brasil. Queremos ter uma relação forte para que os chineses compreendam melhor ainda a cultura brasileira e os brasileiros compreendam melhor a cultura chinesa”, emendou o presidente brasileiro.
O presidente disse que a relação com a China pode ajudar o Brasil na preservação ambiental e na transição energética: “O Brasil pode, praticamente, dobrar a sua produção agrícola, recuperando as terras degradadas, sem precisar derrubar nenhuma árvore. E queremos ter uma relação com a China para que a gente possa construir uma política de desenvolvimento no Brasil no campo da energia, já temos empresas chinesas trabalhando no Brasil”.
O petista mencionou reuniões com empresas chinesas que pretendem investir na produção de veículos elétricos e no desenvolvimento de inteligência artificial no Brasil.
Xi Jinping
Na parte inicial do encontro, que foi aberta para registro, Xi Jinping declarou que o Brasil está em lugar prioritário na política de relações exteriores da China. Ele falou em uma “nova era” que beneficiará ambos os povos.
O presidente chinês expressou solidariedade pelos problemas de saúde que fizeram Lula adiar a viagem ao país e elogiou o esforço para que a visita ocorresse o mais rápido possível. “Fico muito feliz ao ver o senhor recuperado. O senhor vem tão logo após a recuperação.”
“China e Brasil são os maiores países em desenvolvimento e importantes mercados emergentes, respectivamente, dos dois hemisférios. Temos, ambos, interesses comuns. A China trata de maneira estratégica e com longo alcance a relação com o Brasil e a coloca em um lugar prioritário nas nossas relações exteriores”, disse Xi Jinping.
O presidente chinês se referiu a Lula como “amigo de longo tempo, e bom amigo”. “Foi com sua atenção e apoio que as relações China e Brasil conseguiram um grande salto. Vamos juntos dar uma orientação para o novo futuro das relações China e Brasil e uma nova era que beneficiará ambos os povos”, prosseguiu.
“Um relacionamento China-Brasil em desenvolvimento constante, saudável, estável, desempenhará papel positivo importante para a paz, estabilidade e desenvolvimento próspero das regiões e do mundo”, disse ainda o presidente chinês.
Depois do encontro reservado, que demorou mais do que o programado, Lula e Xi Jinping se dirigiram para uma outra sala do palácio, onde acompanharam a cerimônia de assinatura, por ministros brasileiros e chineses, de 14 dos 15 acordos firmados entre os dois países.
Sobre a parte reservada do encontro, a imprensa estatal chinesa disse que Lula e Xi Jinping concordaram que “diálogo e negociação” são a única saída viável para encerrar a guerra da Ucrânia, iniciada pela Rússia de Vladimir Putin, grande aliada dos chineses.