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Lula ressuscita medo do fantasma do comunismo entre seus opositores

Ao celebrar que conseguiu colocar no STF um “ministro comunista”, referindo-se a Flávio Dino, Lula espantou oposição conservadora

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Ilustração mão com 4 dedos manipula o fantasma do comunismo
1 de 1 Ilustração mão com 4 dedos manipula o fantasma do comunismo - Foto: Arte/Metrópoles

A batalha clássica entre capitalismo e comunismo ficou conhecida como Guerra Fria e terminou em 1991, com o colapso da União Soviética e a vitória do bloco das democracias liberais, liderado pelos Estados Unidos.

Entre os ganhadores, porém, há grupos que duvidam dessa vitória e acreditam que os comunistas se reorganizaram para alcançar seus objetivos e seguem sendo um risco para o mundo livre. E representantes dessa linha de pensamento no Brasil estão assustados com a forma como o presidente Lula (PT) celebrou a aprovação do nome de Flávio Dino para ministro do Supremo Tribunal Federal (STF): “Conseguimos colocar na Suprema Corte um ministro comunista”.

Fundador de um partido de esquerda, o PT, que tem entre suas inspirações o pensamento do filósofo Karl Marx (1818-1883), Lula não defende uma revolução armada para a tomada do poder pelo proletariado nem o fim das religiões ou da propriedade privada – algumas das ideias mais radicais do marxismo. Apesar disso, seus opositores mais à direita acreditam que o petista atua para construir um poder totalitário e para minar as liberdades individuais, como a liberdade de expressão.

“Os comunistas querem que você ache que o comunismo não passa de uma mera fantasia”, afirmou o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), em uma das várias manifestações motivadas pela fala de Lula sobre Flávio Dino, que aconteceu na noite de quinta-feira (14/12). “O maior truque já realizado pelo diabo foi convencer o mundo de que ele não existe”, seguiu Nikolas, em vídeo publicado em suas redes sociais, emulando o pensamento do escritor Olavo de Carvalho, morto em 2022, que é uma das maiores inspirações de políticos e militantes conservadores.

“A KGB [polícia secreta da URSS] dominou o cinema americano a partir dos anos 1940. Com uma escola de roteiristas, ensinava: ‘não faça um filme comunista, faça um filme normal com uma mensagenzinha comunista no meio'”, disse Carvalho, em março de 2020, em entrevista ao programa Pânico, da Jovem Pan. “Os efeitos dessa mudança cultural são imperceptíveis num primeiro momento e só se tornam notáveis ao fim de décadas, quando fica possível falar abertamente em criminalizar o cristianismo”, seguiu Carvalho, teorizando sobre o que chamava de “marxismo cultural”.

“E pensar que existem católicos e evangélicos que votam no Lula, abertamente defensor de um sistema assassino que sempre acaba por abolir a religião por onde passa, abortista e etc”, disse o também deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), em postagem feita após a declaração de Lula.

“O comunismo é uma tradição, é uma cultura que já tem mais de século e que segue mais viva do que nunca. E no Brasil o que nós estamos vendo, como o próprio presidente falou, é a aceleração da implementação dessa mentalidade comunista de concentração de poder, de autoritarismo, de perseguição a quem não pensa igual, ao fim da capacidade de iniciativa individual e assim por diante”, discursou, também em vídeo postado nas redes na última semana, o infuenciador digital Leandro Ruschel, um dos nomes mais importantes da bolha bolsonarista.

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Lula com a ex-presidente Dilma
Alckmin, Tarcísio e Lula em Brasília
Lula reforçou a necessidade de o PT "voltar a ser como era no começo para reconquistar credibilidade"
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Lula e Xi Jinping, em viagem do brasileiro à China
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Flávio Dino com o presidente Lula no Palácio do Planalto

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Lula reforçou a necessidade de o PT "voltar a ser como era no começo para reconquistar credibilidade"

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Joe Biden, presidente dos EUA, e Xi Jiping, presidente da China

Reprodução/Redes sociais

Lula é comunista?

As palavras de Lula sobre comunismo, como é possível ver nas timelines de perfis conservadores de direita, repercutem muito e viram fácil um dos principais assuntos. Fora da bolha da direita bolsonarista, porém, a ideia de um Lula comunista não ganha tração.

Para o cientista político Rui Tavares Maluf, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp-SP), o presidente do Brasil é um populista de esquerda, mas não um comunista ou socialista.

“Lula sabe conviver com os velhos comunistas, que ainda militam em partidos pequenos, como PCdoB, mas não tem nenhum projeto de quebrar o sistema democrático”, afirma ele, em entrevista ao Metrópoles. “E mesmo quem ainda se diz comunista em geral não defende luta armada e tem consciência de que a cena atual é outra. Comunistas de partidos atuais jogam o jogo democrático e, se chegam ao poder pela via eleitoral, sabem que não têm condições de fazer grandes reformas sociais, que são limitados pelos outros Poderes, pelas leis”, analisa o cientista político.

“Só porque Lula e seu entorno não são comunistas, não quer dizer que atitudes desse governo não fragilizem o processo democrático. Como populista de esquerda, Lula tem várias condutas que não são as melhores para fortalecer a democracia. Há uma vontade de concentração demasiada de poder, por exemplo. E isso pode e deve ser discutido, mas talvez esse ‘fantasma do comunismo’ atrapalhe um debate mais profundo”, avalia o professor.

Após celebrar comunismo, Lula reforça sua crença em Deus

Uma das facetas do “fantasma do comunismo” que mais assusta os conservadores é a condenação que o marxismo clássico faz das religiões. Travando uma disputa pelos eleitores evangélicos desde a campanha contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Lula voltou a falar em Deus um dia após celebrar seu “ministro comunista” no STF.

O presidente, que é católico, reafirmou sua fé em evento para entrega de obra no Espírito Santo na sexta-feira (15/12). “A gente vai provar que o que resolve o problema de um povo não é a instigação do ódio usando a boa-fé do povo evangélico para mentir, dizendo que a gente ia fechar igreja, fazer banheiro unissex, eles têm que saber: se tem um cara nesse país que acredita em Deus é esse que está vos falando aqui”, disse Lula. Veja:

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