Lula reduz tom sobre juros e inclui Galípolo em reuniões sobre gastos
Faltando um mês para Galípolo assumir a presidência do Banco Central, Lula tem empoderado seu indicado e reduzido as críticas sobre juros
atualizado
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A pouco mais de um mês para Gabriel Galípolo assumir a presidência do Banco Central (BC), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem empoderado seu indicado e reduzido as críticas sobre o atual patamar da taxa básica de juros, a Selic, definida pelo BC.
Em 2024, haverá apenas mais uma reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), nos dias 10 e 11 de dezembro. É o colegiado que decide a Selic válida pelos 45 dias seguintes. Na última reunião, o Copom acelerou o ritmo de alta de juros e elevou a Selic de 10,75% ao ano para 11,25% ao ano, gerando críticas entre petistas como o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, e a presidente do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffmann.
Galípolo é hoje diretor de Política Monetária da instituição e está em um período entressafra, aguardando a conclusão do mandato de Roberto Campos Neto e sua posse na presidência do BC, marcada para 1º de janeiro de 2025. Já aprovado pelo Senado Federal, ele tem acompanhado agendas no Palácio do Planalto e no Ministério da Fazenda.
Nesta semana, por exemplo, Galípolo esteve com Fernando Haddad na série de reuniões que o ministro teve com o ministro da Fazenda e outros colegas de Esplanada. “O Gabriel participou da reunião com o presidente, a pedido do presidente. Ele [Lula] queria ouvir a percepção do Gabriel sobre as matérias, como é que ele percebia o que ia ser anunciado. Então, ele convocou o Gabriel para uma reunião. Ele participou de toda a reunião”, disse Haddad a jornalistas na noite de segunda (25/11), ao ser questionado sobre a presença do diretor do BC.
Galípolo, inclusive, tem proximidade com Haddad, de quem foi braço direito na pasta da Fazenda no primeiro semestre de 2023, antes de ser escolhido para a diretoria da autoridade monetária.
Lula muda tom de críticas sobre taxa de juros
Nessa quarta-feira (27/11), em evento com empresários da indústria, que também costumam criticar a alta taxa de juros, Lula fez uma crítica mais leve sobre o assunto. “Qual é a explicação da taxa de juros estar do jeito que está hoje? Estamos com a inflação controlada. A economia está crescendo. O menor nível de desemprego desde 2012, quando ele começou a ser medido. O maior aumento da massa salarial”, iniciou o presidente em sua pregação.
Ele ainda aproveitou para dizer que a economia brasileira vai bem, com expectativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) acima de 3% e baixos níveis de desocupação. “Ou seja, se a gente pensar de forma positiva não há retrocesso nesse país”, disse.
“Eu não vejo nenhum motivo para as pessoas estarem desacreditadas. Eu não vejo nenhum motivo para as pessoas estarem pessimistas. Porque o mundo só pode dar certo, se a gente quiser dar certo”, completou.
O petista, porém, não fez menção à inflação em alta, que é o principal fator que interfere na Selic.
Atualmente, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do país, está em 4,76% no acumulado de 12 meses até outubro — 0,26 ponto percentual acima do teto da meta. No mês passado, a inflação cresceu 0,56%, puxada pela alta dos preços da energia elétrica e das carnes. A próxima divulgação referente a novembro ocorrerá em 10 de dezembro.
A taxa de juros é o principal instrumento de política monetária do BC, para manter a inflação sob controle, ou seja, dentro da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). A meta é de 3%, com variação de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, o que significa que pode oscilar entre 4,5% e 1,5%. O mercado prevê que a inflação estoure o teto da meta este ano.
Segundo o Relatório Focus do Banco Central divulgado nessa segunda-feira, a previsão para o IPCA passou de 4,64% para 4,63% — 0,13 ponto percentual acima do limite da meta inflacionária.