Lula nega Brics como contraponto ao G7 e cobra “igualdade”
Presidente Lula está em Joanesburgo para a 15ª Cúpula do Brics, e defendeu a reforma do Conselho de Segurança e organismos multilaterais
atualizado
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Antes da participação da 15ª Cúpula dos Brics, nesta terça-feira (22/8), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) negou que o objetivo do grupo seja ser “um contraponto” a outros blocos, como o G7 (formado pelos sete países mais industrializados dom mundo) e o G20.
“Não queremos ser contraponto ao G7, ao G20, aos Estados Unidos. A gente quer se organizar. O Sul Global [por exemplo]: sempre fomos tratados como se fôssemos a parte pobre do planeta, como se não existíssemos. Estamos vendo que podemos nos tornar países importantes”, defendeu o mandatário.
A declaração ocorreu durante o programa Conversa com o Presidente, nesta terça-feira (22/8), em viagem do petista à África do Sul. Ele está no continente africano para participar da primeira cúpula presencial dos Brics desde a pandemia de Covid-19.
“O que a gente quer é criar novos mecanismos, que tornem o mundo mais igual do ponto de vista das decisões políticas. Estamos dizendo apenas: ‘nós existimos, estamos nos organizando e queremos sentar em uma mesa de negociação em igualdade de condições com a União Europeia, EUA e qualquer outro país'”, prosseguiu.
Governança global
Lula é um grande defensor da nova governança global – que representa a busca por organismos multilaterais mais equilibrados e inclusivos. Ou seja, uma reforma do contexto global marcado pela hegemonia dos Estados Unidos e Europa Ocidental.
O mandatário voltou a citar o caso do Conselho de Segurança da ONU para exemplificar a fala. “A questão dos membros permanentes [que tem poder de veto]. Por que o Brasil não pode entrar, a Índia, a África do Sul, ou a Alemanha?”
“Quem é que disse que são os mesmos países que foram colocados lá em 1945 continuem lá. O mundo mudou, e nós queremos essa mudança”, frisou.
Segundo ele, o Brics ter força não significa tirar nada de ninguém. “Significa um polo muito forte, que congrega muita gente. Isso é importante, porque vai permitir que a gente tenha um certo equilíbrio nas discussões, hoje as guerras são decididas sem ninguém participar, ninguém discute”.
Na fala, Lula também criticou a atuação da ONU, ao afirmar que o organismo multilateral não funciona mais. “Hoje, a ONU tem pouca representatividade, ela não consegue cumprir quase nenhuma tarefa. Hoje, o Conselho de Segurança não decide mais nada, porque existe o poder de veto, e os membros impedem”.
Expansão do Brics
Nesta terça-feira (22/8), o presidente brasileiro participa da abertura da 15ª Cúpula do Brics – bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – na capital sul-africana, Joanesburgo. Até a próxima quinta-feira (24/8), líderes dos países discutirão a expansão do bloco, que deve definir o futuro da aliança.
Questionado sobre a adesão de novos membros ao grupo e o posicionamento do Brasil sobre o tema, o petista defendeu que a aliança “precisa crescer” para se tornar uma instituição multilateral “que possa ter algo diferente”.
“Os Brics têm possibilidade de ampliação. Eu sei que a China quer, que a Índia quer, que a Rússia quer, e nós queremos. Mas, obviamente, você tem que estabelecer determinados procedimentos para que as pessoas entrem, pra que a gente não descubra amanhã que é contra o Brics”, explicou.
Agenda na África
Nesta terça, os líderes participarão de um fórum empresarial, e depois farão um retiro, um evento apenas com os chefes de Estado e governo e dos respectivos ministros das Relações Exteriores.
Na quarta-feira (23/8) acontece a reunião de cúpula entre os líderes do bloco, em duas sessões. No dia seguinte, na última etapa do evento, ocorre o encontro estendido com os países-membro do Brics e cerca de 40 países convidados, em sua maioria chefes de Estado e governo de nações interessadas em ingressar no bloco, vindos da África, da América do Sul, do Caribe e da Ásia.
Dos países do bloco, estarão presentes os presidentes Lula (Brasil), Cyril Ramaphosa (África do Sul) e Xi Jinping (China), e o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi.