Lula na ONU: Brasil volta para ajudar a enfrentar problemas globais
Lula faz seu oitavo discurso na ONU, nesta terça-feira (19/9), após 14 anos. Tradicionalmente, Brasil é o primeiro país a discursar
atualizado
Compartilhar notícia
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursou, nesta terça-feira (19/9), na 78ª edição da Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU). Tradicionalmente, o Brasil é o responsável por abrir os debates todos os anos na agência multilateral – sediada em Nova York, nos Estados Unidos, e que engloba 193 países.
Desde o início do seu discurso, Lula manteve a linha de que o Brasil estava “ausente” da geopolítica mundial, em crítica aberta à gestão de Jair Bolsonaro. “Como não me canso de repetir, o Brasil está de volta. Nosso país está de volta para dar a sua devida contribuição ao enfrentamento dos principais desafios globais”, apontou.
Lula afirmou que, para reduzir as desigualdades dentro dos países, é preciso incluir os pobres nos orçamentos nacionais. “E fazer os ricos pagarem impostos proporcionais ao seu patrimônio. No Brasil, estamos comprometidos a implementar todos os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável, de maneira integrada e indivisível.”, frisou.
Como era esperado, o presidente brasileiro falou sobre o problema da Amazônia e a questão energética no mundo. Estamos na vanguarda da transição energética, e nossa matriz já é uma das mais limpas do mundo: 87% da nossa energia elétrica provem de fontes limpas e renováveis”, discursou.
“Retomamos uma robusta e renovada agenda amazônica, com ações de fiscalização e combate a crimes ambientais. Ao longo dos últimos oito meses, o desmatamento na Amazônia brasileira já foi reduzido em 48%. O mundo inteiro sempre falou da Amazônia. Agora, a Amazônia está falando por si”, continuou.
Veja como foi:
O petista apontou o que será sua prioridade na presidência do G20: “não mediremos esforços para colocar no centro da agenda internacional o combate às desigualdades em todas as suas dimensões. Sob o lema ‘Construindo um Mundo Justo e Sustentável’, a presidência brasileira vai cobrar combate à fome, o desenvolvimento sustentável e a reforma da governança global”.
Lula aproveitou para falar sobre a fome e a desigualdade. O mandatário lembrou que tais temas estiveram em seu discurso há 20 anos. “A fome, tema central da minha fala neste Parlamento Mundial 20 anos atrás, atinge hoje 735 milhões de seres humanos, que vão dormir esta noite sem saber se terão o que comer amanhã”.
“O mundo está cada vez mais desigual. Os 10 maiores bilionários possuem mais riqueza que os 40% mais pobres da humanidade. O destino de cada criança que nasce neste planeta parece traçado ainda no ventre de sua mãe”, disse.
Ele também alfinetou o caso da guerra entre Rússia e Ucrânia. “A guerra na Ucrânia escancara nossa incapacidade coletiva de fazer prevalecer o nosso propósito e a Carta da ONU. Nenhuma solução será duradoura se não for baseada no diálogo”, finalizou.
Oitavo discurso de Lula na ONU
Esta é a oitava vez que Lula fala no palco da ONU como presidente do Brasil. Nas gestões anteriores, o petista só não viajou para Nova York em 2010, quando preferiu se dedicar à campanha da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
Durante o pronunciamento, o mandatário deve pedir reformas na instituição, cobrar mais protagonismo para os países em desenvolvimento no debate global e ressaltar a necessidade do financiamento de uma transição energética sustentável.
Antes de Lula, António Guterres, secretário-geral do órgão, fez o discurso de inauguração. Ele afirmou que o mundo passa por uma “transição caótica”. “O nosso mundo está ficando desequilibrado. Tensões geopolíticas estão aumentando. Os desafios globais estão aumentando, e nós parecemos incapazes de responder. Estamos frente a ameaças existenciais, desde a crise climática até as tecnologias disruptivas, e vivemos isso em um tempo de transição caótica”, discursou.
Comparação de Lula com Bolsonaro
Focado em restabelecer relações diplomáticas enfraquecidas nos últimos quatro anos, Lula busca ser um dos embaixadores do chamado Sul Global em discussões com os países desenvolvidos em questões econômicas, ambientais e geopolíticas. Contudo, não deve adotar um tom de enfrentamento.
O petista vem tentando se distanciar da postura do ex-presidente Jair Bolsonaro, que usou a tribuna da ONU durante seu mandato para fazer discursos duros, com teor ideológico voltado aos brasileiros – e não aos chefes de Estado presentes –, e recheados de polêmicas.
Lula discursa em NY e tenta contrapor passagens de Bolsonaro pela ONU
Agendas bilaterais
Além do tradicional pronunciamento, o presidente Lula aproveitará a reunião de líderes em Nova York para se reunir com diversos chefes de Estado. O mandatário recebeu pelo menos 50 pedidos de agendas bilaterais, segundo o Planalto, e tem encontros marcados com os presidentes Joe Biden (Estados Unidos) e Volodymyr Zelensky (Ucrânia).
Esta será a primeira vez que os presidentes brasileiro e ucraniano se reunirão, após um “desencontro” durante a cúpula do G7, no Japão, em maio. Na ocasião, assessores de Zelensky alegaram um “conflito de agendas”, enquanto interlocutores do governo brasileiro argumentam ter oferecido diversas opções de horário para o ucraniano, que não aceitou nenhuma.
O Brasil tem se posicionado como uma das nações que buscam negociar a paz no Leste Europeu, após a Rússia invadir o território vizinho e instaurar uma guerra com grandes proporções geopolíticas. O presidente Lula tem se mostrado a favor “da paz” e evitado condenar a Rússia pela guerra.