Lula critica extrema direita e fala em “dívida histórica” com a África
Presidente Lula participou de reunião da União Africana em Adis Abeba, neste sábado (17/2). Ele também falou sobre combate à fome e guerras
atualizado
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Em discurso na abertura da 37ª Cúpula da União Africana, neste sábado (17/2), na Etiópia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou a extrema direita internacional e citou uma dívida história do Brasil com a África. Ele defendeu uma nova governança mundial através da atuação de países africanos e da América Latina, no que chama de “Sul Global”.
Apesar de salientar que o Brasil não tem “todo o dinheiro”, “todo o conhecimento científico e tecnológico” nem “a força” que ele gostaria que tivesse, Lula indicou que o país quer compartilhar tudo o que possui, “muito ou pouco”, com os países africanos.
“Porque nós temos uma dívida histórica de 300 anos de escravidão e a única forma de pagar é com solidariedade e com muito amor”, declarou, em trecho de improviso.
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“O Sul Global está se constituindo em parte incontornável da solução para as principais crises que afligem o planeta. Crises que decorrem de um modelo concentrador de riquezas, e que atingem sobretudo os mais pobres – e entre estes, os imigrantes. A alternativa às mazelas da globalização neoliberal não virá da extrema direita racista e xenófoba. O desenvolvimento não pode ser privilégio de poucos”, discursou.
Combate à fome
O petista ainda fez referência ao Bolsa Família como mecanismo de retirada do Brasil do mapa da fome e introduziu a Aliança Global contra a Fome, proposta do governo brasileiro para o G20.
“É inadmissível que um mundo capaz de gerar riquezas da ordem de US$ 100 trilhões de dólares por ano conviva com a fome de mais de 735 milhões de pessoas. Estamos criando no G20 a Aliança Global contra a Fome, para impulsionar um conjunto de políticas públicas e mobilizar recursos para o financiamento dessas políticas”, explicou.
Guerras
O petista ainda fez menção à guerra entre Israel e o grupo palestino Hamas. Em visita à Liga Árabe, na quinta-feira (15), Lula havia feito críticas à Organização das Nações Unidas (ONU) e discursou pelo Estado da Palestina.
Neste sábado, ele voltou a condenar os ataques do Hamas contra civis israelenses, mas também criticou o que chamou de “resposta desproporcional” de Israel.
“Ser humanista hoje implica condenar os ataques perpetrados pelo Hamas contra civis israelenses, e demandar a liberação imediata de todos os reféns. Ser humanista impõe igualmente o rechaço à resposta desproporcional de Israel, que vitimou quase 30 mil palestinos em Gaza – em sua ampla maioria mulheres e crianças – e provocou o deslocamento forçado de mais de 80% da população.”
Em seguida, ele voltou a defender o Estado palestino: “A solução para essa crise só será duradoura se avançarmos rapidamente na criação de um Estado palestino. Um Estado palestino que seja reconhecido como membro pleno das Nações Unidas”.
Sobre a guerra na Ucrânia, Lula citou o conflito para falar que ele “escancara” a paralisia do Conselho de Segurança da ONU e encarece o preço dos alimentos e fertilizantes no mundo todo.
“De uma ONU fortalecida e que tenha um Conselho de Segurança mais representativo, sem países com poder de veto, e com membros permanentes da África e da América Latina. Há dois anos a guerra na Ucrânia escancara a paralisia do Conselho. Além da trágica perda de vidas, suas consequências são sentidas em todo o mundo, no preço dos alimentos e de fertilizantes.”
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Contra a “solução militar”, ele defendeu que “é chegada a hora da política e da diplomacia” para resolver o impasse entre Rússia e Ucrânia.
Além das críticas à ONU, Lula criticou o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial pelo que chamou de “caráter obsoleto”. “Muitas vezes agravam crises que deveriam resolver”, disse ele sobre as instituições financeiras internacionais.
Inteligência artificial
O petista ainda tratou, em seu discurso da Inteligência Artificial (IA), dizendo que ela não pode tornar-se monopólio de poucos países e poucas empresas e expressou preocupação com seu uso. “Não podem também constituir-se em terreno fértil para discursos de ódio e de desinformação, além de causar desemprego e reforçar vieses de raça e gênero, que acentuam as injustiças e discriminações”, salientou.