Lula acerta últimos detalhes para colocar PP e Republicanos no governo
Articulação que se arrasta há semanas está perto de uma definição, mas ainda não se sabe quem sai nem para onde vai quem entra no governo
atualizado
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A novela da minirreforma ministerial que o governo Lula vai promover em busca de mais votos na Câmara dos Deputados tem chances de acabar nesta quarta-feira (30/8). Decidido a embarcar os deputados federais André Fufuca (PP-MA) e Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) no primeiro escalão de seu governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está analisando os últimos detalhes da mudança de peças. Ele precisa bater o martelo sobre quem sai e sobre para onde vai quem entra.
As semanas de demora nessa articulação são resultado da resistência de Lula em tirar aliados de cargos importantes e em admitir que a primeira escalação de seu time titular não resultou no apoio necessário no Congresso, especialmente na Câmara.
A maioria do Congresso eleito nesta legislatura está em partidos que foram base do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A coligação que elegeu Lula mal chega a 130 dos 513 deputados federais. E, para aprovar projetos de lei complementar, por exemplo, é preciso de 257 votos. Já mudanças na Constituição precisam de 308 votos.
Por causa dessa matemática, o governo Lula foi obrigado a negociar com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e está entregando a seu grupo político cada vez mais nacos de poder. Lula e sua equipe sabem que Republicanos e PP têm alas bolsonaristas e não vão entregar todos os seus votos ao governo, mas precisam que pelo menos metade da bancada de cada um desses partidos faça parte da base governista.
O que vai mudar na Esplanada
Lula pode ceder, mas passou as últimas semanas resistindo a entregar ao PP o que o partido pediu: o Ministério de Desenvolvimento Social, comandado pelo petista Wellington Dias e dono de programas de distribuição de renda que são enormes vitrines eleitorais, como o Bolsa Família.
Dias, porém, se reúne nesta quarta com Lula e os ministros palacianos Rui Costa, da Casa Civil, e Alexandre Padilha, das Relações Institucionais. A reunião está marcada para 9h, no Palácio do Planalto.
Uma opção que o presidente oferece ao partido de Lira é um novo ministério a ser criado, o das Médias, Pequenas e Micro Empresas e dos Empreendedores Individuais. Os caciques do partido acham pouco, mas podem ser convencidos por um grande “bônus”, o comando da Caixa Econômica Federal.
A Caixa é politicamente maior do que vários ministérios e dá a quem a comanda tudo que o Centrão gosta: verbas e visibilidade. Quem presidir o banco pode se beneficiar de políticas públicas operadas por ele, como o pagamento de benefícios de programas sociais; e pode abrir ou ampliar agências Brasil afora. Em um ano de eleições municipais, esses podem ser grandes trunfos para um partido que saiba usar esse potencial.
Sem bagagem política e com perfil muito técnico, a atual presidente da Caixa, Rita Serrano, não conseguiu explorar muito essas possibilidades e, tudo indica, terá de ceder seu lugar para a ex-deputada federal Margarete Coelho (PP-PI). No acerto, o PP deve levar ainda todas as vice-presidências da Caixa, o que se conhece em Brasília como entrega “de porteira fechada”.
Existe a possibilidade, ainda, de o Ministério do Desenvolvimento Social ser fatiado. Nesse desenho, Wellington Dias ficaria com o “filé”, que é o Bolsa Família, e o indicado pelo PP com os demais programas sociais.
Em nova opção que é considerada nos bastidores, o PP poderia ganhar o Ministério da Agricultura.
Dúvida também para o Republicanos
Já o Republicanos de Silvio Costa Filho mirou a pasta do Esporte, mas Lula inicialmente blindou Ana Moser e ofereceu o Ministério dos Portos e Aeroportos. Se essa for a decisão, o atual ministro, Márcio França, precisaria ser alocado em outro posto do governo. Ele é da cota do PSB, partido do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin.
Na noite de terça (29/8), porém, já se falava nos bastidores que Lula poderia mudar de ideia e ceder o Esporte na articulação.
Lula viaja para o Piauí nesta quinta-feira (31/8), para lançar o programa Brasil sem Fome e anunciar obras do PAC no estado. A expectativa em Brasília é que o presidente não embarque no avião sem “arrumar a casa”. Por isso a expectativa de alguma definição mais clara da minirreforma ministerial ainda nesta quarta.