Lockdown, toque de recolher… Afinal, o que pode deter a Covid-19?
Com a decretação de regras mais duras, o Metrópoles ouviu especialistas e entidades médico-científicas sobre medidas mais eficazes
atualizado
Compartilhar notícia
Vivendo um dos períodos mais drásticos da pandemia de Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, o país enfrenta diversas medidas que limitam a circulação de pessoas. Lockdowns (fechamento e restrições mais rígidas impostas a atividades não essenciais) e toques de recolher (deslocamento restrito durante determinado período) são as principais ações, após a explosão de casos e mortes.
Sem uma coordenação nacional, cada estado tem adotado uma forma de diminuir o volume de pessoas nas ruas. O formato, contudo, muitas vezes coloca a população em dúvida. Fechamento noturno é mais eficaz que o diurno? Não seria importante adotar uma medida de restrição em período integral, durante todo o dia? O que traz mais riscos: escolas ou bares e restaurantes funcionando?
Com a decretação de regras mais duras, o Metrópoles ouviu especialistas e entidades médico-científicas sobre o que avaliam ser as melhores formas de frear a transmissão do vírus, evitar adoecimentos e mortes e desafogar o sistema de saúde.
Para Breno Adaid, coordenador do mestrado profissional em Administração do Centro Universitário Iesb e pós-doutor em ciência do comportamento pela Universidade de Brasília (UnB), no momento atual da pandemia no país, todas as formas de distanciamento social são necessárias.
“O lockdown à noite ajuda, mas é claro que o alvo maior são as aglomerações em bares – que, inclusive, são grandes mecanismos de transmissão. O transporte público é outro problema tão grande quanto, porque não tem máscara que sobreviva com tanta gente espremida e respirando junto”, pondera.
O especialista critica o uso do termo lockdown para as medidas adotadas no Brasil. “Lockdown é o que foi feito na Espanha, por exemplo. Não se podia pisar na rua sem justificativa”, explica.
Breno, contudo, defende todas as formas de estímulo do isolamento. “O que vivemos é mais para um ‘locklight’. Mas, sem sombra de dúvida, é melhor que não fazer nada. Quanto mais reduzir a movimentação, menos chance de contágio. Pouco ou muito, ajuda”, acrescenta.
Conceito
Estevão Urbano da Silva, presidente da Sociedade Mineira de Infectologia e um dos coordenadores da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), assinala que lockdown é quando a pessoa não sai de casa a não ser para comprar alimentos e remédios ou em caso de emergência médica.
O médico defende que as medidas restritivas só funcionam com ações diurnas. “O toque de recolher só faz sentido se somado a outras medidas aplicadas durante o dia, como fechamento de lojas, bares, restaurantes, academias e igrejas. É um contrassenso interromper as atividades à noite, com tudo funcionando durante o dia”, salienta.
Embora não haja estudos comparativos em relação aos índices de transmissibilidade nos estabelecimentos, o médico sustenta que bares representam perigo maior. “Isso, sobretudo, pela falta de máscara, o que não ocorre no transporte público, e do tempo que as pessoas ficam juntas, maior em bares”, conclui.
Medida individualizada
Com a resistência de parte da população em aderir às medidas restritivas adotadas por governadores, a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e a Associação Médica Brasileira (AMB) se posicionaram a favor do lockdown.
Para as entidades, a vacinação no país é lenta e uma parcela da sociedade brasileira ignora todas as ações preventivas. “Trata-se de uma medida extrema, mas de efetividade científica comprovada quando não há outras formas capazes de controlar a transmissão comunitária e reduzir rapidamente o número de novos casos e de óbitos”, diz o documento.
O grupo explica que o lockdown deve ser adotado apenas em locais com situação crítica, e por período determinado, com fiscalização rígida e punição a quem desrespeitá-lo. “É uma medida individualizada, na tentativa de evitar o colapso do sistema de saúde local”, escrevem.
Ainda de acordo com a nota, o fechamento de bares, restaurantes e boa parte do comércio não é uma determinação popular e pode agravar as dificuldades econômicas observadas no momento, mas é preciso “dar um passo para trás para, em seguida, dar dois para frente”.
Toque de recolher
No começo do mês, secretários estaduais de Saúde divulgaram uma carta em que criticam a forma como o governo federal está enfrentando a segunda onda de casos de Covid-19. Eles também pediram, no documento, um toque de recolher nacional, das 20h às 6h, e durante os fins de semana.
“O Brasil vivencia, perplexo, o pior momento da crise sanitária provocada pela Covid-19. Os índices de novos casos da doença alcançam patamares muito elevados em todas as regiões, estados e municípios”, aponta o texto.