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Porto Alegre — Com o escoamento da água nos bairros Cidade Baixa e Menino Deus, além do retorno da energia elétrica em muitos locais, a manhã deste sábado (18/5) foi de faxina em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul. Aproveitando o Sol e o tempo seco, moradores e proprietários de estabelecimentos atingidos pelas enchentes investiram esforço para limpeza, triagem dos móveis e reorganização.
Até o momento, chegou a 155 o número de mortes devido às fortes chuvas que causaram estragos em diversas cidades do Rio Grande do Sul. Segundo o último boletim da Defesa Civil do estado, divulgado às 9h deste sábado (18/5), são 806 feridos e 94 desaparecidos.
No total, há mais de 2 milhões de pessoas atingidas pela tragédia. Destas, 540 mil estão desalojadas e 77 mil em abrigos. As autoridades resgataram 82.666 vítimas.
O cenário em Porto Alegre é de muito lodo, lixo e árvores caídas pelas ruas laterais ao shopping Praia de Belas, que, desde o último dia 4, segue fechado. O local, cujo estacionamento serviu de refúgio para moradores da região guardarem veículos durante a enchente, abriu apenas para a retirada dos carros. No mesmo shopping, animais de um pet shop morreram por causa do alagamento.
Na Avenida Praia de Belas, a presença de equipes do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) e voluntários se somou à ação de moradores e trabalhadores locais. Com a ajuda de colaboradores e amigos, a dona do Empório Afrodite, Catiane Marques, limpava o barro das cadeiras, móveis e utensílios de beleza. No espaço onde reúne estética, agência de viagem e loja de roupas, ela planeja organizar um brechó para tentar recuperar parte do prejuízo. “Sem contar os eletrônicos e os dias que o local está fechado, contabilizo perdas na faixa de R$ 50 mil”, lamenta a empreendedora.
Na Avenida Ganzo, ainda no Menino Deus, os moradores começam a voltar para casa e fazem mutirões de limpeza nas garagens. Maria Claudete da Silva ficou hospedada com amigos por 12 dias e precisou levar parte da família para o interior, em um local seguro. De volta ao condomínio, ela apoia os vizinhos na limpeza. “Ficar fora de casa é muito ruim. Tem uma hora que temos de retornar”, conta.
Próximo dali, na Rua 17 de Junho, a água baixou há três dias, mas somente hoje foi possível usar lava a jatos por causa do retorno da luz. Moradora do térreo, Thais Oliveira buscou abrigo na casa de uma vizinha. “O que pude eu subi para o andar de cima. Mas perdi muitas coisas mais pesadas, como roupeiro, cama-baú, Hhck, armário e sofá. A gente não imaginava que o impacto seria tanto”, disse.
Na Quilombo Areal, comunidade negra situada no bairro Cidade Baixa, foram ao menos 85 famílias atingidas. Documentos históricos, banners e instrumentos musicais do projeto social Areal do Futuro ficaram submersos. Alexandre Ribeiro, presidente da associação comunitária, conta que estão todos bem abalados, mas que, com o apoio dos voluntários, a comunidade buscará se reerguer. “Estamos aqui lutando. Barro tem bastante, mas seguimos limpando, inclusive aceitamos doações de materiais de limpeza. Não podemos ficar parados. Seguimos na resistência”, destacou Alexandre.
Necessidades
Mangueiras para lava a jato, geradores e extensão elétrica para ligar equipamentos têm sido outra necessidade identificada pelo grupo que atua na limpeza solidária do Pacto Alegre. “O mais importante neste momento é a gente respeitar a velocidade da família, entender a necessidade do que cada uma está querendo e precisando”, explica Istefani Carisio de Paula, professora de engenharia de produção na UFRGS e voluntária.
Veja depoimentos de quem dedica o sábado aos mutirões de limpeza em Porto Alegre:
Ela menciona que outra necessidade para evitar o desperdício e ressignificar os itens impactados pela enchente são voluntários que apoiem na orientação das limpezas. “Precisamos dar instruções para as pessoas. As roupas precisam ser lavadas pelo menos duas vezes. Eletrônicos, plásticos podem ser lavados e transformados em outras coisas”, detalha.
Enquanto os moradores do Menino Deus aproveitaram o sábado ensolarado para iniciar a faxina, alguns bares e restaurantes da Cidade Baixa, bairro boêmio de Porto Alegre, chegavam ao quarto dia de limpeza. Eles consideram pelo menos uma semana de trabalho até deixar o espaço apto para voltar a atender o público. “Estava com o freezer preparado para o fim de semana quando a água começou a subir. Nem tivemos tempo de levantar nada”, lamenta um dos proprietários de bar na Rua João Alfredo.