Lira toma frente de reforma tributária e alivia pressão sobre Lula após derrotas na Câmara
Circunstâncias aproximam interesses de Arthur Lira e de Lula e aliviam o Planalto após turbulências na relação
atualizado
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Os desdobramentos do cenário político alteraram o equilíbrio de forças entre a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o Congresso. Arthur Lira (PP-AL), o presidente da Câmara que há algumas semanas impôs derrotas duras ao governo e expôs a debilidade da articulação lulista, agora é o mais empenhado defensor de uma pauta que renderá louros ao Planalto, a reforma tributária, e ajuda os governistas em outras frentes.
Em busca de uma agenda positiva também para si mesmo, Lira montou uma “super semana” na pauta da Câmara querendo aprovar, além da reforma, o marco fiscal e o voto de qualidade no Conselho de Administração de Recursos Fiscais (Carf). A repentina “boa vontade” de Lira com o governo Lula chega a incomodar parlamentares independentes (além dos da oposição), noticiou o Blog do Noblat, no Metrópoles.
A ofensiva, até agora, não foi totalmente bem-sucedida porque os deputados resistem à pressa de Lira para votar as pautas, mas o parlamentar alagoano tem conseguido desarmar as principais resistências ao texto da reforma entre governadores e setores econômicos. Ao articular com os colegas a aprovação da proposta, Lira afrouxa a pressão sobre a ala política do governo, que ele chegou a criticar em várias ocasiões.
➡ Reforma tributária: entenda o que é e no que implica
A PEC 45/2019 foi apresentada há duas semanas, pelo deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), na Câmara dos Deputados. Com isso, o projeto que pode ser votado nesta semana, ganhou destaque.
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— Metrópoles (@Metropoles) July 5, 2023
Apesar de o presidente da Câmara sempre ter defendido o avanço da reforma tributária, a mudança de comportamento de Lira em relação ao governo ocorre num momento em que ele está sob pressão devido a denúncias de supostos desvios de verbas.
Ele, indicou, em 2021, R$ 32,9 milhões em emendas do chamado orçamento secreto para a compra de kits de robótica em Alagoas. A compra dos kits se tornou alvo de investigação da Polícia Federal por suspeitas de fraudes, pois até escolas sem energia elétrica foram “beneficiadas”. Um dos alvos da apuração é Luciano Ferreira Cavalcante, ligado a Lira. O presidente da Câmara nega qualquer envolvimento ou irregularidade.
Arrumação
Articuladores do entorno de Lula avaliam que o presidente da Câmara enfrenta uma espécie de “ressaca” após ter emparedado o governo. Assessores palacianos acreditam que, ao tentar mostrar força política, Lira exagerou na dose e acabou por gastar muito capital político. Por isso, agora agora está aceitando uma arrumação.
Um dos alvos de Lira quando o governo estava perdendo, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse, em entrevista exclusiva ao Metrópoles na última terça (4/7), que mantém “a relação melhor possível” com o presidente da Câmara, a quem elogiou pelos esforços em levar à votação pautas de interesse do Planalto.
“Melhor possível [relação com Lira]. Primeiro eu sou deputado reeleito, votei no atual presidente da Câmara para sua eleição. A melhor possível. Eu nunca vi, reconheci ou ouvi crítica, seja do presidente da Câmara, do presidente do Senado [Rodrigo Pachego, do PSD-MG], das lideranças como uma crítica pessoal, como uma crítica individual”, disse o ministro.
“Quero saudar o presidente da Câmara, os líderes da Câmara, por fazer um esforço concentrado essa semana. Pautas cruciais para o país, um debate importante”, seguiu o ministro das Relações Institucionais.
Lula aproveita o momento
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aproveitou esse novo momento na relação com Arthur Lira para mostrar forçar ao negar publicamente uma vontade do presidente da Câmara. Nesta quarta (5/7), em evento do Ministério da Saúde realizado em Brasília, Lula falou pela primeira vez sobre a pressão para desalojar a ministra Nísia Trindade do comando da pasta e colocar alguém ligado a Lira.
Sem citar o presidente da Câmara, Lula fortaleceu Nísia após semanas de silêncio, pois a pressão foi revelada pelo Metrópoles no final de maio.
“Na semana passada, eu liguei para a Nísia”, discursou Lula. “Eu tinha lido uma nota no jornal, de que tinha alguém reivindicando o Ministério da Saúde. Eu fiz questão de ligar pra Nísia, porque eu ia viajar para fora do Brasil. Eu disse ‘Nísia, vá dormir e acorde tranquila, porque o Ministério da Saúde é do Lula, foi escolhido por mim e ficará até quando eu quiser'”, afirmou o presidente. Veja: