Lira não se desculpa com Padilha, mas admite ter “erros e acertos”
Presidente da Câmara dos Deputados concedeu entrevista ao programa Conversa com Bial. Ele ainda disse “não ser antagonista de ninguém”
atualizado
Compartilhar notícia
O presidente da Câmara dos Deputados, deputado Arthur Lira (PP-AL), admitiu nesta terça-feira (23/4) ter “erros e acertos” políticos e disse não ser “antagonista de ninguém”, mas não se desculpou pelas ofensas públicas ao ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha. Lira o chamou de “desafeto pessoal” e “incompetente”. O alagoano deu entrevista, transmitida na madrugada de quarta-feira (24/4), ao programa Conversa com Bial, apresentado na TV Globo.
Reforçando o descontentamento com a forma de negociação do governo federal, Lira disse já ter alertado o governo sobre isto. “Eu já vinha apontando reservadamente ao governo que há alguns meses não funciona a articulação do governo.”
Em relação às ofensas que fez contra Padilha, Lira deu a entender que poderia ter utilizado outras palavras, mas não pediu desculpas ao ministro de Lula. “Eu poderia ter adjetivado melhor ou pior, sou humano, posso errar e acertar, mas para mim política tem que ser feita reta, nada em off, nada de vazamento”, disse, em referência ao suposto vazamento feito por Padilha de que Lira estaria angariando votos em favor da soltura do deputado Chiquinho Brazão. A Casa decidiu sobre a manutenção da prisão dele, acusado de ser um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco.
Sobre as notícias de que poderia colocar “pauta-bomba” para andar e abrir Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) para embaraçar o governo, Lira negou. “Em três anos de cargo, qual pauta bomba foi pautada? Em 2022 votamos a PEC da transição”, disse.
Mais uma vez, o presidente da Câmara valorizou o papel dele nos sucessos do governo diante de pautas prioritárias. “O presidente Lula teve um ano de 2023 espetacular por tudo que o congresso fez, especialmente a Câmara dos Deputados.” Lira listou a reforma tributária, marco de garantias, arcabouço fiscal e volta dos programas sociais.
Ao final da entrevista, perguntado sobre com quantas CPIs a Câmara terminaria o ano, o presidente da casa disse vai discutir se “vale a pena em ano de eleição ou não”. Neste ano há eleições para a escolha de prefeitos e vereadores.
Conforme Lira afirmou em rede social, o bate-papo foi gravado semana passada.
Cenário
Vendo a luz do mandado de presidente da Câmara dos Deputados se enfraquecer, a se encerrar no início de 2025, e com a perspectiva de poder se esvaziando pouco a pouco, Lira tenta dar demonstrações de força. O próximo se sentar na cadeira vai comandar a casa no biênio 2025-2026.
Neste contexto, a manutenção da prisão do deputado federal Chiquinho Brazão, suspeito de mandar matar a vereadora Marielle Franco, foi considerada por alguns observadores como uma derrota para Lira.
Lira ficou incomodado com isto, e as animosidades com o governo Lula se expandiram. “Essa notícia hoje, que você está tentando verbalizar, porque os grandes jornais fizeram, foi vazada do governo e basicamente do ministro Padilha, que é um desafeto, além de pessoal, incompetente”, disparou em referência ao ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha. Padilha é o principal responsável pela articulação do governo Lula com o Congresso.
Padilha negou haver “qualquer rancor” e disse que não há atritos na relação do governo com o Congresso.
Está em jogo a sucessão de Arthur Lira. Um dos prediletos do presidente da Câmara é o deputado Elmar Nascimento (União Brasil-BA). O nome não é bem aceito por parlamentares da base do governo. Apesar disto, o governo não tem força política para patrocinar uma candidatura e deve endossar um nome do Centrão.
O presidente da República, Luiz Inácio da Silva (PT), se reuniu com o presidente da Câmara no fim de semana, sem que isto constasse nas agendas oficiais de ambos. Os temas da conversa são mantidos em reserva por ambos.
Em um café da manhã com jornalistas na segunda-feira (23/4), Lula disse que não tinha recebido Lira como presidente da Câmara. O presidente disse se tratar de encontro “entre dois seres humanos”.