“Linha de contato com inimigo”, disse ministro de Bolsonaro sobre TSE
Paulo Sérgio Nogueira, então ministro da Defesa de Jair Bolsonaro, usou expressão de guerra para se referir à relação com o TSE
atualizado
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O general Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa de Jair Bolsonaro (PL), disse, na reunião de 5 de julho de 2022, que estava “na linha de contato com o inimigo”, em referência ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Ele relatou aos integrantes da reunião a atuação da pasta que chefiava na Comissão de Transparência Eleitoral (CTE) do TSE. Em setembro de 2022, a Corte Eleitoral acolheu 12 dos 15 pedidos da Defesa para o pleito eleitoral.
“A comissão é para inglês ver. Nunca essa comissão sentou numa mesa e discutiu uma proposta. É retórica, discurso e ataque à democracia, e eles fazem o que tem que ser feito”, iniciou Paulo Sérgio, segundo vídeo divulgado nesta sexta-feira (9/2), após o Supremo Tribunal Federal (STF) levantar o sigilo.
O vídeo foi encontrado pela Polícia Federal (PF) em um computador apreendido em endereço do ex-chefe da ajudância de ordem de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid.
“Nunca numa mesa alguma levantou ‘essa proposta, da Polícia Federal, o que você acha?’ (…) É só conversa para boi dormir, tá bom? Que fique bem claro isso”, prosseguiu Nogueira.
“O que eu sigo, nesse momento, é apenas na linha de contato com o inimigo. Ou seja, na guerra, a gente tem linha de contato, linha de partida, vou romper aqui e iniciar a minha operação”, disse o então ministro da Defesa.
O auxiliar de Bolsonaro ainda cobrou o engajamento dos partidos políticos na auditoria e no teste de integridade das urnas eletrônicas. “Eu vejo as Forças Armadas e o Ministério da Defesa nessa linha de contato. Nós temos que intensificar e ajudar nesse sentido para que a gente não fique sozinho nesse processo.”
Ele também relatou reuniões realizadas “quase que semanalmente” com os Comandantes de Forças “para a gente ver o que pode ser feito, que ações poderão ser tomadas para que a gente possa ter transparência, segurança, condições de auditoria e que as eleições transcorram da forma como a gente sonha”.
Reunião com “dinâmica golpista”
A gravação se tornou pública nesta sexta, um dia depois da operação da PF que mirou diversas pessoas próximas ao ex-presidente Bolsonaro, e ele próprio, por suspeita de terem planejado uma tentativa de golpe de Estado.
A Operação Tempus Veritatis (“hora da verdade”, em latim) investiga suposta organização criminosa que atuou na tentativa de “golpe de Estado” para manter Bolsonaro no poder, após a derrota nas eleições de 2022.
Policiais federais estiveram em endereços nos estados do Amazonas, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Ceará, Espírito Santo, Paraná, Goiás e no Distrito Federal.
Os agentes cumpriram 33 mandados de busca e apreensão e quatro de prisão preventiva. A ação foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF.
Além de Bolsonaro, foram alvos o presidente do Partido Liberal, Valdemar Costa Neto; o ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Augusto Heleno; e o ex-ministro da Defesa e da Casa Civil Walter Braga Netto.
Segundo apurações da PF, o grupo investigado teria se dividido em dois núcleos:
- Construção e propagação da versão de fraude nas Eleições de 2022; e
- Prática de atos para subsidiar a abolição do Estado Democrático de Direito, através de um golpe de Estado.