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Lições do Favelado Investidor para enfrentar a crise e juntar grana

Para Murilo Duarte, momento é de cautela, mas com organização dá para investir. “Não adianta juntar milhões e sua saúde estar um lixo”, diz

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1 de 1 murilo duarte favelado investidor4 - Foto: Reprodução/Instagram

São Paulo – Morador da comunidade Jardim João XXIII, zona oeste de São Paulo, Murilo Duarte, fez, aos 20 anos, seu primeiro investimento financeiro, em 2015. Seu salário na época, como aprendiz em um cartório no centro da capital paulista, era de R$ 680, no limite para arcar com a mensalidade de R$ 680 da faculdade de contabilidade.

“Sobravam R$ 40. Disse para a minha mãe que não poderia ajudar em casa, e ela super entendeu, porque o sonho dela era que alguém da família fizesse a faculdade. Ela até me motivou”, diz Murilo.

Murilo viu a possibilidade de investir, com pouco dinheiro, após comprar o seu primeiro livro sobre o Tesouro Direto.  Juntou por três meses os R$ 40 que sobravam e aplicou R$ 120 no Tesouro Selic.

“Comecei a estudar sobre educação financeira desde 2015, e me apaixonei pelo assunto. Por várias limitações financeiras, a escassez que tive na minha infância, eu sempre me questionei como poderia ganhar mais dinheiro”, relata.

Murilo trabalhou ainda no Bradesco e na multinacional KPMG. E foi a partir de 2019 que passou a ser conhecido como Favelado Investidor, com o lançamento em março do canal no YouTube, atualmente com 277 mil inscritos. No Instagram, são mais de 400 mil seguidores.

Com a famosa saudação “Salve, quebrada”, influenciador digital, hoje com 26 anos, fala sobre educação financeira, investimentos, empreendedorismo e economia na linguagem da quebrada. Além das redes sociais, o projeto incluía, antes da pandemia, palestras em ONGs e escolas públicas.

Neste ano, ele o sócio, Vinícius Silva, lançaram ainda o Favelado Podcast, no YouTube. Segundo Murilo, a ideia é mostrar os talentos dentro da comunidade, como empreendedores.

“O objetivo de fato é compartilhar conhecimento para ajudar a diminuir a pobreza no Brasil”, afirma o influenciador digital, que integrou a lista de destaques “Under 30” da Forbes Brasil em 2020.

Segundo Murilo, quando o brasileiro vê a palavra investimentos pensa que precisa de milhões, ou, no mínimo, de R$ 10 mil. “Quando descobri que dava para investir em ações e no Tesouro Direto com pouco, questionei por que isso não é compartilhado. Refleti bastante e não cheguei na resposta. Ué, eu vou fazer minha parte”, conta.

Investimentos com a crise

Para Murilo, mesmo diante da crise econômica agravada pela pandemia, ainda é possível pensar em investir, mas isso não deve ser a prioridade. “A prioridade é ter uma segurança financeira. Se tem segurança financeira e ainda sobrou um dinheiro, dá para investir? Dá!”

O influenciador destaca que existem inúmeras situações financeiras na favela: “Uma família ou outra tem R$ 10 sobrando porque ocupou o barraco e o vizinho não tem, pois paga aluguel, por exemplo”.

“Eu mesmo evito generalizar. Já postei conteúdo falando que é muito difícil investir R$ 500 para alguém da favela e recebi muito feedback de comunidades falando: ‘Mas eu tenho R$ 500, porque eu tenho gato de luz, gato de água’. Ao mesmo tempo, sei que não é todo mundo assim”, afirma.

Na sua avaliação, já quem termina o mês com R$ 100 no bolso, por exemplo, deve ter como foco a organização financeira, evitar o endividamento e, se for preciso pegar empréstimo, buscar o menor juro possível.

“Tem que ser conservador na questão financeira, refletir sobre o consumo e também se cuidar na questão da saúde. Não adianta juntar milhões e sua saúde estar um lixo. Então, você gastará dinheiro em hospital”, afirmou.

Organização financeira

O primeiro passo dessa organização financeira é fazer um levantamento de todos os gastos durante o mês para identificar despesas desnecessárias. “Vai identificar coisas que nem lembra com o que gastou. Então, a gente vai pensar, mano, gastei com algo que não é importante. Se fosse importante, eu ia lembrar”, diz.

Murilo conta que antes se tornar investidor – bem antes da pandemia – saía sempre nos fins de semana, e reduziu para apenas um por mês. “Isso adiantou muito meu lado financeiro. E nesses fins de semanas que ficava em casa foi quando eu mais li sobre investimentos e finanças”, afirma.

Os cortes também devem passar pela redução de contas básicas, como o consumo de luz e água, segundo o influencer. “Com organização financeira, cortando alguns gastos, diminuindo o consumo, que, às vezes, está exagerado, isso vai fazer com que no fim do mês tenha ou dinheiro sobrando ou uma situação mais estável.”

Sobrou uma grana?

Mesmo com a possibilidade de investir com pouco dinheiro na Bolsa ou em um fundo imobiliário, por exemplo, a recomendação de Murilo é, em primeiro lugar, usar o que sobrou na construção de uma reserva de emergência. Isso porque investimentos considerados mais arriscados só trarão retorno no médio e no longo prazo.

“Ser cauteloso é também ter uma reserva financeira. É ter um dinheiro em caixa, seja no Tesouro Selic ou CDB com liquidez diária. Você vai ter sua segurança financeira, se perder o emprego ou tiver que fazer uma despesa relacionada à saúde, por exemplo”, sustenta.

Para Murilo, a pandemia mostrou a importância de manter essa reserva. Entre 2019 e início de 2020, ele lembra que “puxou a orelha” de alguns seguidores empolgados com a disparada da Bolsa de Valores, sem ter esse dinheiro para emergências.

“Veio a pandemia, e a Bolsa despencou. Aí, teve umas três pessoas, que aquele rostinho que você lembra, mandando direct (no Instagram): ‘Puta, mano, deveria ter te escutado. A Bolsa despencando e agora eu preciso do dinheiro'”, disse.

O influencer disse que levou dois anos para fazer uma reserva de emergência, de 2015 a 2017. Só depois de ter essa segurança financeira, decidiu investir em Bolsa. “Nunca ia sonhar que ia ter uma pandemia assim”, completou.

 

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Murilo Duarte mora hoje no bairro de Cotia

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Tem que trampar!

Murilo diz que é questionado por pessoas que querem investir, mas não têm trabalho. “Então, mano, tem que trampar. Não tem jeito, tem que ter um salário entrando. Só possível investir com uma parte do salário”, responde.

O influenciador digital recomenda ainda que as pessoas busquem uma renda extra diante das incertezas em relação à evolução da pandemia. “A gente não sabe como vai ser mês para cá ou mês para lá. Com a internet, hoje a gente consegue fazer uma renda extra. Se sabe fazer um bolo, vende esse bolo no Instagram. Aproveitar o tempo em casa para ter seu ganho. Não estou falando que é fácil, mas é uma possibilidade”, diz.

Ações, fundos imobiliários, dólar e bitcoins…

Com a vida financeira organizada e reserva de emergência, é possível partir com mais segurança para investimentos considerados mais arriscados. Mas toda aplicação, ressalta Murilo, tem um objetivo por trás. Se for aposentadoria, exemplifica, “um dos melhores caminhos são ações e fundos imobiliários”.

O influenciador divide a “vida financeira” em três partes: a proteção de reserva financeira, outra om foco em rentabilidade – como ações e fundos imobiliários – e a diversificação de risco.

“Meu dinheiro está muito no Brasil. E se o Bolsonaro falar merda?“, brinca. “Tem que ter uma exposição em outras moedas também. Pode entrar um pouco de dólar, que dá para comprar por R$ 50 ou se expor um pouco também ao bitcoin”, afirma.

As criptomoedas têm sido, inclusive, uma das apostas mais recentes de Murilo, que aproveitou a valorização dos últimos meses. “Para ter uma ideia, em outubro, coloquei R$ 5 mil, eu não vendi nada e virou R$ 23 mil. Para quem quer proteger o patrimônio, pode comprar uma fração de bitcoin a partir de R$ 50, R$ 60…”, afirma.

Para Murilo, o bitcoin vai crescer muito muito quando as empresas adotarem como moeda de troca. Ele cita os movimentos recentes da Tesla, de Elon Musk, e do Paypal, que ajudaram o bitcoin a superar a marca de US$ 50 mil em fevereiro. “Quando Google, Facebook, Apple começarem a aceitar, aí vai ter uma puta ascensão do bitcoin. Na minha visão, está barato ainda”, afirma.

“O que o brasileiro tem que entender é que os investimentos hoje são acessíveis. Minha maior luta é mostrar: ‘Gente, dá para você investir também'”, conclui.

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