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Li o que você apagou. Os tweets deletados da gestão Bolsonaro

Em 2019, mais de 703 posts sumiram do Twitter de Jair Bolsonaro, de onze ministros e dos filhos mais velhos do presidente

atualizado

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Na manhã de 6 de março de 2019, em plena Quarta-feira de Cinzas, uma breve postagem feita no Twitter oficial do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) virou assunto e ultrapassou os limites da world wide web. “O que é golden shower?”, perguntou o chefe da república brasileira, desassossegando o já não tão calmo Carnaval.  Dias depois, como a ressaca, o post sumiu.

O polêmico texto foi apenas um entre os inúmeros apagados no último ano pelo primeiro escalão de “políticos-influencers” da república, composto por Bolsonaro, 11 ministros e os filhos mais velhos do presidente, usuários ativos da rede social do passarinho azul.

Por meio de um robô que monitora e captura posts deletados do Twitter, tornou-se possível avaliar e descobrir as publicações escritas e, em seguida, excluídas por eles. Seja para reescrever frases sem sentido, apagar ideias polêmicas ou remover erros de português, em 2019, mais de 703 posts (entre tweets e retweets) sumiram da rede do grupo. Isso sem contar os inúmeros que desapareceram após Carlos Bolsonaro sumir da rede social.

 

A análise foi feita pelo (M)Dados, núcleo de jornalismo de dados do Metrópoles, a partir dos registros do Projeto 7c0, que monitora os textos apagados de autoridades brasileiras.

Desconsiderando os compartilhamentos, um ranking dos mais arrependidos coloca o ex-ministro da Cidadania, Osmar Terra, como o campeão. Só ele deletou 128 posts em 2019. A maior parte sobre contagem de novos seguidores, gerado automaticamente por uma ferramenta online. “Tenho 937 novos seguidores, a partir de Brasil, EUA, Síria, e mais na semana passada”, escreveu dia 11 de julho de 2019. “Tenho 1925 novos seguidores, a partir de Brasil, EUA, Reino Unido, e mais na semana passada”, disse no dia 22 de agosto.

Depois de Terra, está o presidente Jair Bolsonaro. Ele apagou 73 textos. Para fechar o pódio, a ministra Damares Alves, com 50. A chefe da pasta da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos ficou só um tweet na frente de Eduardo Bolsonaro, que fechou o ano com 49 posts excluídos.

Erros

Entre os motivos identificáveis, o maior é por erro, tanto de digitação quanto de português (112). Nesse quesito, o presidente foi o campeão em números absolutos. “A agenda globalista mira a divisão de classes. Pessoas divididas e sem valores são fácelmente (sic) manipuladas”, tuitou em 4 de março. Em fevereiro, Bolsonaro trocou sessão por seção, ao falar das fisioterapias feitas após cirurgia feita em fevereiro.

Osmar Terra foi outra vítima de um erro corriqueiro: trocou “nada a ver” por “nada haver”. Ele apagou e quase ninguém viu.

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Polêmica

Além do inesquecível golden shower, a polêmica do senador Flávio Bolsonaro (sem partido) com as autoridades palestinas também sumiu do mapa (ou da web). “Quero que vocês se explodam!”, disse o filho mais velho do presidente, em resposta a uma nota de repúdio do grupo radical islâmico Hamas à abertura de um escritório de negócios pelo governo brasileiro em Jerusalém.

O ministro da Educação, Abraham Weintraub, foi outro a usar a função de deletar a seu favor. Pouco depois de compartilhar um tweet que chamava Jair Bolsonaro de “traidor”, por conta da sanção do pacote anticrime com vetos a propostas defendidas pelo ministro Sergio Moro, ele desfez a ação.

Damares não fez diferente. A ministra usou as redes para pedir para “mobilizar os profissionais de beleza, que lidam mais diretamente com a mulher”, na luta contra a violência doméstica. A frase não pegou bem e foi parar na lixeira.

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Metodologia

Para fazer a análise, o (M)Dados se baseou na lista do projeto 7c0, que arquiva os tweets apagados de 632 autoridades. A iniciativa tem “o objetivo de criar mecanismos para garantir que postagens realizadas por um ator político em um ambiente público como o Twitter sejam arquivadas e recuperadas caso sejam deletadas”.
Desse arquivo, foram extraídos os tweets de 11 ministros, do presidente Jair Bolsonaro e de seus filhos.
Ao ler a reportagem, o leitor pode ter percebido de que nem todos os ministros são citados. Isso acontece porque nem todos tem uma conta pessoal no twitter e nem todos os ministros que têm conta deletaram posts.

 

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