Levado por PMs, jovem foi agredido e ajoelhou antes de morrer; vídeo
Câmera flagrou abordagem de policiais militares goianos, e perícia revelou detalhes dos últimos instantes de Henrique Nogueira, 28 anos
atualizado
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A perícia da Polícia Científica revelou que o autônomo Henrique Alves Nogueira, 28 anos, foi agredido no rosto e ficou de joelhos antes de ser assassinado a tiros por policiais militares em Goiânia.
Inicialmente, a PM alegou que Henrique morreu em um suposto confronto com a corporação, mas uma câmera de monitoramento flagrou o momento em que ele foi abordado e obrigado a entrar em uma viatura, horas antes de ser morto, em 11 de agosto de 2022.
Veja o vídeo:
O vídeo de Henrique sendo levado na viatura teve bastante repercussão nas redes sociais. Quatro militares estão presos desde 16 de agosto e responderão por homicídio.
Detalhes finais
A reportagem teve acesso ao inquérito do caso, no qual constam mais detalhes dos últimos momentos da vítima com vida.
“Em momentos que antecederam a sua morte e em local diverso daquele ora analisado, a vítima sofreu impactação da hemiface direita, promovendo a formação de escoriações e equimoses”, diz trecho do laudo de perícia criminal.
O delegado André Veloso, da Delegacia de Investigação de Homicídios, confirmou que esse trecho do documento significa que Henrique foi agredido no rosto antes de morrer. Um segundo trecho do laudo de perícia indica que a vítima ficou de joelhos antes de ser morta a tiros.
“Em momentos que antecederam a sua morte e naquele cenário, a vítima tombou ou se colocou de joelhos por certo lapso temporal, promovendo a formação de sujidades na face anterior da calça”, detalhou outro trecho do laudo.
Relembre o caso
Henrique foi abordado por policiais militares no bairro Jardim Europa, na manhã de quinta-feira (11/8), após deixar o filho de 4 anos na escola e levar o carro em uma oficina. Um vídeo mostra ele sendo forçado a entrar na parte de trás da viatura. Segundo testemunhas, ele chegou a pedir socorro.
No mesmo dia, à noite, ele foi morto a tiros pela mesma equipe de policiais, em uma estrada de terra no bairro Real Conquista, também em Goiânia. Quatro militares acabaram indiciados por homicídio doloso qualificado, fraude processual e falsidade ideológica.
Henrique era ex-vigilante e, atualmente, fazia bicos como servente de pedreiro, segundo a viúva. Ele tinha sido condenado por receptação e havia feito trabalhos comunitários para cumprir a pena. Também havia sido acusado de tráfico, mas o caso foi arquivado.
Meses antes de ser preso, Henrique dizia que estava sendo perseguido por militares do 7º Batalhão da PM por causa dos antecedentes. Ele chegou a ser algemado cerca de 60 dias antes da morte e levado para uma região erma, mas conseguiu escapar com a algema.
Defesa
A Polícia Civil indiciou o sargento Cleber Leandro Cardoso, o cabo Guidion Ananias Galdino Bonfim, o soldado Kilber Pedro Morais Martins e o também soldado Mayk da Silva Moura Sousa.
Em depoimento na delegacia, os PMs presos alegaram que liberaram Henrique após a abordagem e que teriam se encontrado com ele novamente por causa de um informante, ocasião em que ele teria disparado contra a equipe.
À época do crime, a PM de Goiás divulgou em nota que “não compactua com nenhum tipo de desvio de conduta e que o caso será apurado com o devido rigor”.
Em nota ao Metrópoles, os advogados José Patrício Junior e Antonio Celedonio Neto informaram que por hora não vão comentar sobre os laudos mencionados na reportagem, pois não teriam tido acesso integral às provas produzidas no inquérito policial.
Ainda na nota, os advogados defenderam a presunção de inocência e afirmaram que os veículos de comunicação estão fazendo um pré-julgamento dos PMs. A defesa dos policiais presos também disse que vai enviar o vídeo da abordagem para uma perícia.