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Lessa sobre corrupção na polícia do Rio: “Está contaminada há décadas”

Ronnie Lessa prestou depoimento de quase duas horas no STF. Ele afirmou que os irmãos Brazão possuíam grande influência na policia do Rio

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Ronnie Lessa
1 de 1 Ronnie Lessa - Foto: Reprodução

O ex-sargento da Polícia Militar (PM) Ronnie Lessa depôs durante duas horas, nesta terça-feira (27/8), em audiência virtual no Supremo Tribunal Federal (STF). No depoimento, Lessa comentou sobre os supostos esquemas de corrupção que acontecem na polícia no Rio de Janeiro.

Em fala no STF, Ronnie Lessa afirmou que se caso houvesse uma denúncia sobre os possíveis esquemas de corrupção dentro da polícia do Rio muitos delegados seriam investigados. “Não ia ter espaço. Meia dúzia que iria se salvar. Essa é a realidade da Polícia Civil. E não é diferente da PM, não. É a mesma coisa. As polícias no Rio de Janeiro estão contaminadas há décadas”, afirmou Lessa.

O autor do crime contra Marielle Franco ressaltou que quando os inquéritos eram exclusivamente em papel, era preciso somente pagar R$ 50 mil aos policiais civis “sumirem” com eles.

“Então, vai lá e fala com ele (policial) que tem um negócio assim assado pra andar ou tem um inquérito pra jogar fora. Agora, como digitalizou, tá mais difícil. Mas antes, era pegar inquérito, jogar debaixo do braço, jogar gasolina e tacar fogo. Era por aí. Funcionava. Então sumiam estantes inteiras de processos. Isso quando era físico. Então, depois que digitalizou, a coisa ficou um pouco mais difícil. O que eles fazem hoje? Eles podem tentar manipular o processo. O inquérito manipula, desvia pra outro foco, por aí. Mas, antigamente, não. Pegava o processo dessa grossura, um palmo de grossura, botava debaixo do braço, apertava a mão, deixava R$ 50 mil e ia embora”, disse Lessa.

O ex-sargento da Polícia Militar detalhou a influência dos irmãos Brazão dentro da polícia do Rio. Lessa explica que quem não ajudasse os Brazão nos supostos esquemas de corrupção eram transferidos de setor.

“Porque a corrupção tá em todas as esferas, pô! Então, simplesmente, o delegado não quer fazer o que eles querem, tira ele, pô! É assim que funciona. E eles, na verdade, deixa eu só concluir aqui, eles, na verdade, tanto o Chiquinho quanto o Domingos, eles próprios têm essa bagagem. Eles mesmos botam e tiram o delegado de onde quiserem”.

Pacto quebrado

O ex-militar falou sobre um pacto entre os envolvidos que teria sido quebrado.

“Como desde o início que deu origem a tudo isso, tinha um pacto de silêncio e esse pacto foi quebrado, então a coisa é muito delicada, todos os passos dessa teia , dessa trama toda, é tudo muito complicado, eu particularmente gostaria de sigilo. Já que é meu direito, gostaria sim. Porque me sinto mais à vontade, não estamos lidando com pessoas comuns, são pessoas de alta periculosidade, assim como eu fui. O fato de ter praticado um crime não me coloca como sendo mais perigoso que eles”, destacou.

Ele alertou sobre a periculosidade das pessoas ligadas ao crime. “No andar do depoimento, vamos perceber que as pessoas são mais perigosas do que se possa imaginar”, acrescentou.

Depoimento sem os irmãos Brazão

Na abertura da audiência, o advogado de Lessa, Saulo Carvalho, pediu que todos os outros réus deixassem a videoconferência, e não acompanhassem a declaração.

Somente os advogados dos réus estiveram presentes na audiência.

O pedido foi aceito pelo juiz Airton Vieira, auxiliar do STF e que preside a audiência. Esta seria a primeira vez que Lessa prestaria depoimento diante da presença, mesmo virtual, de Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE); Chiquinho Brazão, deputado federal; Rivaldo Barbosa, delegado da Polícia Civil do RJ; Ronald Paulo Alves Pereira, major da PM do Rio; e Robson Calixto Fonseca, o Peixe, PM e assessor de Brazão no TCE.

“Havia um pacto de silêncio, e gostaria que isso fosse respeitado. É tudo muito delicado. Não estamos lidando com pessoas comuns. São pessoas de alta periculosidade, assim como eu fui. São muito perigosos (os réus), mais do que se possa imaginar”, alegou Lessa.

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