Leptospirose e tétano: risco de doenças aumenta com enchentes no RS
População enfrenta ameaças de leptospirose, tétano, hepatite A e dengue devido às fortes chuvas e enchentes no Rio Grande do Sul (RS)
atualizado
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As chuvas e enchentes que atingem o Rio Grande do Sul desde o início da semana passada levantaram sérias preocupações em relação ao aumento do risco de doenças transmitidas pela água. Alessandro Pasqualotto, presidente da Sociedade Gaúcha de Infectologia, alerta para os perigos iminentes representados por condições propícias à proliferação de enfermidades como leptospirose, tétano, hepatite A e surtos de dengue.
O especialista enfatiza que, apesar do foco prioritário no resgate e na assistência às vítimas, as doenças infecciosas emergem como uma grande preocupação diante do volume de água estagnada, contaminada por material orgânico, urina de ratos e dejetos humanos.
“As pessoas podem adquirir infecções, ao ingerirem água contaminada, ou mesmo pela pele, especialmente se tiverem algum machucado. Preocupam muito doenças como leptospirose, mas também hepatite A, tétano, infecções de pele e subcutâneas, e doenças diarreicas. Nos abrigos, há preocupação com surtos de infecções respiratórias, piolhos e sarnas. Uma tragédia”, diz o infectologista, em entrevista ao Metrópoles.
Leptospirose
A leptospirose, transmitida pela urina dos ratos, é uma das principais preocupações após as enchentes. Os sintomas, que incluem febre, dores musculares e de cabeça, geralmente aparecem após um período de incubação de 7 a 14 dias. O Infectologista alerta que, embora o quadro seja geralmente brando, a doença pode ser fatal em alguns casos.
A Sociedade Brasileira de Infectologia, a Sociedade Gaúcha de Infectologia e a Secretaria da Saúde do Estado do Rio Grande do Sul divulgaram uma nota conjunta no domingo (5/5), informando sobre as recomendações de profilaxia – uso de remédios antes dos sintomas – para casos de leptospirose. As entidades destacaram a possibilidade de benefício em certos cenários de alto risco, mesmo diante da escassez de estudos sobre o tema.
São considerados de alto risco e elegíveis para o uso desses medicamentos as equipes de socorristas de resgate voluntários com exposição prolongada à água de enchente, quando os equipamentos de proteção individual não são capazes de prevenir a contaminação. Também estão no grupo pessoas expostas à água de enchente por período prolongado com avaliação médica criteriosa do risco dessa exposição.
Tétano, hepatite A e dengue
As enchentes no Rio Grande do Sul podem também aumentar significativamente o risco de contaminação por tétano, hepatite A e dengue. Durante inundações, a água contaminada pode entrar em contato com cortes ou feridas na pele, facilitando a transmissão do tétano, uma vez que o Clostridium tetani, bactéria causadora da doença, está presente no solo.
Além disso, o aumento do acúmulo de lixo e esgoto a céu aberto durante as enchentes pode resultar na propagação de hepatite A, uma infecção viral transmitida principalmente pela ingestão de água ou alimentos contaminados. Quanto à dengue, as águas paradas provenientes das enchentes criam ambientes propícios para a proliferação do mosquito Aedes aegypti, vetor transmissor do vírus causador da doença.
Como prevenir
- Não entrar em contato com a água em caso de ferimentos abertos (caso não seja possível, tapar o local);
- Não ingerir a água;
- Se a única água disponível para consumo for a da enchente, fervê-la antes ou adicionar 2 gotas de água sanitária pura (hipoclorito de sódio a 2,5%) a cada litro;
- Não ficar submerso na água por mais de 15 minutos;
- Usar roupas que cubram todas as partes da pele (calças, botas, luvas).
Nos casos de dengue, o infectologista recomenda que a população mantenha os mesmos cuidados que já vinham tendo em relação a doença, “eliminando fontes de água limpa, em que o mosquito possa se multiplicar, além de usar repelentes”.
Chuvas no RS
O número de óbitos causados pelas fortes chuvas que atingem o Rio Grande do Sul desde segunda-feira (29/4) subiu para 95. Outros quatro estão em investigação. Até o momento, são 131 desaparecidos, 50 mil em abrigos e 159 mil desabrigados.
O número de municípios afetados chegou em 401. No total, são mais de 1,5 milhões de pessoas atingidas em todo o estado.