Lava Jato denuncia Lula e irmão por receberem “mesada” da Odebrecht
Frei Chico, segundo a denúncia, teria embolsado R$ 1,1 milhão entre 2003 e 2015
atualizado
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A força-tarefa da operação Lava Jato em São Paulo denunciou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o seu irmão, Frei Chico, por corrupção passiva. Segundo os investigadores, o irmão do ex-presidente recebeu R$ 1,1 milhão como espécie de “mesada” da Odebrecht entre os anos de 2003 e 2015.
Além deles, foram denunciados os empresários Emílio e Marcelo Odebrecht e o ex-diretor da empresa, Alexandrino Alencar. No caso dos executivos, a denúncia é por corrupção ativa. A informação foi repassada pela assessoria de imprensa da Procuradoria Regional da República da 3ª Região, onde está instalada a força-tarefa da Lava Jato em São Paulo.
A “mesada” que o irmão do ex-presidente recebeu variou de R$ 3 mil a R$ 5 mil e, segundo os investigadores, era parte de um “pacote” de vantagens indevidas oferecidas a Lula, em troca de benefícios diversos obtidos pela Odebrecht junto ao governo federal.
“Sindicalista militante, Frei Chico – que teria sido quem levou Lula ao sindicalismo – iniciou uma relação com a Odebrecht ainda nos anos 90. No início daquela década, estava em curso o Programa Nacional de Desestatização, que sofreu forte resistência dos trabalhadores do setor. Ao todo, 27 químicas e petroquímicas estatais federais foram vendidas”, afirma a Procuradoria.
Segundo a Procuradoria, a empresa vinha encontrando problemas com sindicatos nessa área, a aproximação com o irmão de Lula foi providencial. “O então presidente da companhia, Emilio Odebrecht, buscou uma aproximação com Lula, e este sugeriu, então,que contratasse Frei Chico como consultor para intermediar um diálogo entre a Odebrecht e os trabalhadores”, informa a denúncia..
“Também participava dessas reuniões o ex-executivo da companhia Alexandrino Alencar. Frei Chico, neste contexto, foi contratado e passou a ser remunerado por uma consultoria efetivamente prestada para a Odebrecht junto ao meio sindical”, afirma a Lava Jato.
Com a chegada de Lula no poder e a privatização de partes do setor, a consultoria já teria perdido o seu objeto. Os pagamentos, no entanto, foram mantidos por Emílio “visando a manter uma relação favorável aos interesses da companhia”. “Os pagamentos começaram em janeiro de 2003, no valor de R$ 3 mil, em junho de 2007 passaram a ser feitos de R$ 15 mil a cada três meses (R$ 5 mil/mês), e cessaram somente em meados de 2015, com a prisão de Alexandrino pela Lava Jato”.
O MPF aponta que, ao contrário do que acontecia com a remuneração pela consultoria prestada por Frei Chico até 2001, a “mesada” que começou a receber em 2002 era feita de forma oculta, por meio do “Setor de Operações Estruturadas” da Odebrecht, responsável por processar os pagamentos de propina feitos pela companhia. Mais ainda, estes novos pagamentos eram tratados de forma especial, porque, embora houvesse ordens da empresa para que diretores não transportassem valores, Frei Chico recebia pagamentos pessoalmente das mãos de Alexandrino, para não haver risco de exposição à Lula, beneficiário indireto da “mesada”.
Estes pagamentos ocultos foram, inicialmente, autorizados por Emílio, e foram mantidos por decisão de Marcelo, mesmo com o término do mandato de Lula, em 2010.
De acordo com a denúncia, os pagamentos a Frei Chico eram feitos em razão do cargo de Presidente da República, então ocupado por Lula e, assim como outras vantagens por ele recebidas, visavam à obtenção, pela empresa, de benefícios junto ao governo federal.
Como exemplo do interesse da Odebrecht em manter boa relação com Lula, Marcelo Odebrecht, em seu depoimento, lembrou que a Petrobrás poderia atrapalhar seus negócios no setor petroquímico desequilibrando, de diversas formas, o mercado ao favorecer uma empresa em detrimento de outra.
Em seu interrogatório, Frei Chico admitiu que recebeu pagamentos da Odebrecht, alegando, em sua defesa, que as consultorias que prestava continuaram depois de 2003. Porém, mesmo dada oportunidade, não apresentou quaisquer provas nesse sentido.
Os crimes de corrupção passiva e corrupção ativa têm pena de 2 a 12 anos de prisão e multa. Na modalidade continuada, as penas podem ser aumentadas de um sexto a dois terços. Ou seja, se condenados, Lula e Frei Chico poderão receber sentenças de 2 anos e 4 meses a 20 anos de prisão. O MPF requer que os acusados sejam punidos na medida de sua participação no episódio.