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Kalungas barram entrada de búfalos de fazendeiro em sítio histórico

Atraso na desapropriação de fazenda teria levado proprietário a retornar com animais para dentro do território quilombola em Cavalcante (GO)

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búfalo que integra grupo de animais que seria transportado para dentro do território kalunga em cavalcante, goiás
1 de 1 búfalo que integra grupo de animais que seria transportado para dentro do território kalunga em cavalcante, goiás - Foto: Elder Miranda Jr/AQK

Goiânia – Integrantes da Comunidade do Engenho II, no território quilombola de Cavalcante (GO), impediram a entrada de 21 búfalos de um fazendeiro dentro do Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga, nessa sexta-feira (9/4).

O regimento interno da comunidade proíbe a presença dos animais dentro do território, devido ao impacto ambiental que eles causam, destruindo nascentes e beiras de córregos, derrubando cercas e comendo plantações.

O fazendeiro dono dos animais é Marcos Rodrigues da Cunha, conhecido como Marcos Búfalo. Ele é proprietário da Fazenda Choco, que fica dentro do território kalunga, mas que consta na lista das áreas a serem desapropriadas, desde que foi feita a demarcação do sítio histórico dos quilombolas.

Com o atraso do processo e pagamento da desapropriação, que se arrasta há décadas no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), o fazendeiro decidiu retornar com os animais para o local, o que gerou a reação da comunidade.

“De repente, ele voltou para a região, e já voltou com os búfalos, mas o nosso regimento impede. A situação não está boa com esse fazendeiro e a gente percebe que ele está abrindo a porta para a volta de outros fazendeiros para a região. Além de o território ser sagrado, aqui é o que temos para viver. Se sairmos, vamos para onde?”, questiona o presidente da Associação Quilombo Kalunga (AQK), Jorge Moreira de Oliveira.

A reação dos quilombolas ocorreu na sexta-feira, quando a primeira remessa de búfalos já havia sido transportada para dentro do território. Quando perceberam que mais um grupo de animais estava sendo levado, com 21 cabeças, eles barraram e conversaram com o vaqueiro que fazia o serviço, também integrante da comunidade.

Depois de muito diálogo, conseguiram falar por telefone com o dono da fazenda, que não reside no local. Segundo os moradores da comunidade, o tom foi ríspido e ele não quis se prolongar na conversa. O Metrópoles não conseguiu contato com o representante do fazendeiro. O espaço segue aberto.

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21 cabeças de búfalos, pertencentes ao dono da Fazenda Choco, foram impedidas de passar. Kalungas alegam impacto ambiental que o animal causa e proibição do regimento interno
Animais foram levados para um pasto temporário até que a questão seja solucionada
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Moradores das comunidades Kalunga se concentraram para barrar a passagem de búfalos para dentro do sítio histórico, em Cavalcante (GO)

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21 cabeças de búfalos, pertencentes ao dono da Fazenda Choco, foram impedidas de passar. Kalungas alegam impacto ambiental que o animal causa e proibição do regimento interno

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Animais foram levados para um pasto temporário até que a questão seja solucionada

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Solução temporária

Os animais foram levados para um pasto temporário, já dentro do território quilombola, mas fora da propriedade onde ficam as comunidades do Choco (Buriti e Forno). Não restou opção ao vaqueiro que fazia o transporte dos animais a não ser atender a demanda dos moradores do grupo, do qual ele faz parte.

O caso, no entanto, segue inconcluso e sem solução. A AQK enviou um ofício para o secretário de Meio Ambiente de Cavalcante, Rodrigo Batista, solicitando providências para impedir a entrada dos búfalos no território e ressaltando as regras internas, descritas em regimento.

“Embora tal Regimento Interno não tenha força de norma para terceiros à comunidade Kalunga, é importante dizer que tal regra foi inserida dentro do texto normativo visando a preservação do modo de criação e produção de forma milenar dentro do Sítio Histórico Kalunga”, pontuou a Associação.

O território Kalunga tem cerca de 252 mil hectares, que se expandem por Cavalcante, Teresina de Goiás e Monte Alegre. Apesar de parecer extenso, Jorge Moreira explica que existem muitas montanhas e áreas secas.

“Quando você olha a dimensão, é grande, mas quando retira as montanhas e áreas secas, sem água, diminui muito. A moral da história é que as áreas que têm água e terra para que os kalungas possam produzir da forma que eles sabem e dentro do costume deles estão, a maioria, nas mãos dos fazendeiros”, afirma.

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