Juventude dos grandes partidos intensificará polarização em 2024
“As alas jovens têm poder de fogo grande”, diz especialista. Porta-vozes das alas do PT e do PL revelam planos para as eleições de 2024
atualizado
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As eleições municipais de 2024 terão início em 6 de outubro, primeiro domingo do mês. O segundo turno, caso necessário, está previsto para 27/10 nas cidades com mais de 200 mil eleitores, desde que nenhum candidato tenha atingido maioria absoluta. Entretanto, para os principais partidos brasileiros, o processo eleitoral municipal começa muito antes de outubro.
O Metrópoles conversou com porta-vozes das alas jovens do Partido Liberal (PL) e do Partido dos Trabalhadores (PT) para entender como a polarização política é alimentada pela juventude brasileira e como o PL Jovem (PLJ) e o Juventude do PT (JPT) se preparam para a disputa eleitoral de 2024.
“O papel dos jovens é um dos mais primordiais no desenvolvimento da política, porque ela é algo que está sempre em renovação. Se os jovens não acreditarem na política, não militarem em prol da democracia, independentemente da ideologia e ideias, não teremos a renovação do ideal democrático”, alerta Rubens Beçak, professor associado de Direito Constitucional, Teoria do Estado e Direitos Humanos, da Universidade de São Paulo (USP).
Aos 18 anos, Nádia Garcia, hoje com 28, se filiou ao PT. Ela nasceu em uma cidade do interior do estado de Goiás. Nádia conta que procurou o partido para “tentar mudar a realidade das juventudes brasileiras”. Atualmente, ela é secretária Nacional de Juventude do PT.
Em 2022, Carmelo Neto se filiou ao Partido Liberal (PT), do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele foi o deputado estadual mais votado do Ceará no mesmo ano. Carmelo participou da fundação do PL Jovem (PLJ) e, hoje, coordena os grupos de trabalho focados na estruturação da ala jovem do partido. “O PLJ precisa ser o maior celeiro de novos líderes do Brasil, agora é hora de fazer germinar outras sementes”, defende o deputado.
Polarização política
Para o professor Rubens Beçak, em quase 40 anos de redemocratização, o Brasil esteve dividido. “Durante quase todo esse período, o país esteve polarizado entre PT e PSDB e, há cinco anos, nas eleições de 2018, houve o fenômeno Bolsonaro.”
“Na minha opinião, não é exatamente o PL, mas o fenômeno que se abrigou no PL, de um conservadorismo muito emblemático”, continua o especialista. “O que acontece no Brasil é que quem vestiu a camisa da representação desse ideal de ‘direita’ é o bolsonarismo, e acho que isso deve prosseguir em vários municípios brasileiros”, avalia Beçak.
Para Carmelo Neto, um dos motivos para essa polarização são as diferentes pautas defendidas por cada partido e a identificação do público com cada uma delas. Para Nádia Garcia, a própria estrutura dos processos eleitorais no Brasil acaba por incentivar a polarização.
De acordo com Carmelo, as principais pautas defendidas pelo PL são a seguridade da vida desde a concepção, a propriedade privada, o direito à legítima defesa, a não legalização das drogas e um Estado menos interventor.
Segundo Nádia, as principais pautas defendidas pelo PT são os direitos trabalhistas e sociais, o acesso à educação pública, gratuita e de qualidade, salário justo e direitos dos trabalhadores resguardados, moradia, acesso à transporte público, alimentação, liberdade de gênero e poder de compra e consumo.
Outras dúvidas
Para esta reportagem, foram feitas as mesmas perguntas para os dois entrevistados. Confira abaixo o posicionamento, na íntegra, de Nádia Garcia, da Juventude do PT (JPT), e de Carmelo Neto, do PL Jovem (PLJ), para cada um dos questionamentos.
Na sua opinião, qual é o papel dos jovens na manutenção da política brasileira?
Nádia – O [papel] de revolucionar, mudar completamente, não manter o que é a atual política brasileira. Penso que se trata exatamente do contrário, de não continuar com as mesmas práticas e criar um novo modus operandi. Acredito que os novos rostos do cenário político já tenham começado a trilhar esse caminho.
Carmelo – Nós somos o futuro, só não podemos esquecer que o futuro se constrói no presente; por isso, precisamos ser também o hoje, o agora… E é por meio da vida pública que podemos proporcionar grandes transformações na sociedade.
Como a atuação da juventude pode influenciar as eleições municipais de 2024?
Nádia – A juventude do PT é a maior juventude partidária do continente americano, estamos em todos os estados e na maioria dos municípios do país. Os jovens petistas conhecem as realidades das suas cidades, as mazelas e os anseios da população brasileira e, no próximo ano, essa juventude pretende protagonizar as eleições, seja como candidatas e candidatos, seja como militantes apoiando outros companheiros e companheiras, mas sempre representando a voz das juventudes brasileiras.
Carmelo – Primeiro, precisamos identificar o jovem que quer despertar para a vida pública. E isso é independentemente de eleição. Eu, por exemplo, comecei a me envolver em debates políticos de 12 para 13 anos, sem idade para votar. Precisamos nos comunicar com essa turma. O PL lançou recentemente uma plataforma de cursos, e o PLJ estará presente para preparar a capacitar esses jovens que querem participar de alguma forma do processo eleitoral.
Como a ala jovem tem se preparado para as eleições municipais de 2024?
Nádia – A JPT tem, desde o fim de 2018, o Movimento Representa!, projeto de incentivo e formação de jovens lideranças, candidatas e candidatos do Partido dos Trabalhadores. Desde a fundação, o Representa tem disponibilizado formações, seminários e espaços de incentivo, e tira dúvidas de forma presencial, híbrida e on-line, ajudando a juventude petista a quebrar recordes de eleição de jovens em 2020 e 2022, na maioria, jovens mulheres negras. Nossa meta para 2024 é seguir ocupando o parlamento e apresentando ao povo o modo petista jovem de legislar e governar.
Carmelo – Buscando identificar o jovem que quer se candidatar a vereador ou prefeito e preparando ferramentas dentro do partido, desde cursos até congressos regionais, para promover essa participação.
Para Rubens Beçak, associado da USP, a evolução e manutenção da democracia depende da participação de jovens na vida política brasileira. “Acho importante um jovem se aliar, no sentido de filiar-se e militar, a um partido, porque ali ele vai formando, junto com outros jovens, um determinado peso nas decisões do partido. Sem filiação e militância, de nada adianta uma pessoa ter determinadas ideias e não conseguir exprimir isso na sua preferência”, destaca Beçak.