#VazaJato: Dallagnol teria usado grupos políticos para pressionar STF
O procurador teria orientado o Vem Pra Rua e o Instituto Mude sobre quem seria o melhor nome para assumir relatoria da Lava Jato no Supremo
atualizado
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Em novas conversas vazadas, publicadas pelo The Intercept Brasil nesta segunda-feira (12/08/2019), o procurador da República Deltan Dallagnol teria usado dois grupos que surgiram a partir de 2013 para causas políticas pessoais e em defesa da Operação Lava Jato. De acordo com o site, Dallagnol teria pautado atos e manifestações, além de publicações nas redes sociais de forma oculta.
A procuradora Thaméa Danelon, que fazia parte do grupo paulista da Lava Jato, teria servido como ponte entre Deltan e o movimento Vem pra Rua. O outro grupo seria o Instituto Mude – Chega de Corrupção. Este foi criado para coletar assinaturas a favor das 10 medidas contra a corrupção.
Por meio dos dois movimentos, Dallagnol teria estimulado a rejeição dos ministros Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli para assumir a vaga de relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), antes ocupada por Teori Zavascki. O magistrado morreu em um acidente de avião em janeiro de 2017.
“De início, agradeci o apoio do movimento etc. Falei que não posso posicionar a FT [força-tarefa], mesmo em off, quanto a ministros que seriam bons, porque podemos queimar em vez de ajudar”, teria dito Dallagnol a Fabio Alex Oliveira, líder do Mude. “Falei os quatro que seriam ruins, Toff [Toffoli], Lewa [Lewandowski], Gilm [Gilmar Mendes] e Marco Aur [Aurélio]”, completaria.
De acordo com o site, dias após a morte de Zavascki, a organização do Mude teria pedido ao procurador uma orientação sobre quem seria “ideal para assumir a posição do Teori”.
Além de orientar os grupos políticos, Dallagnol teria conversado com colegas procuradores sobre quem assumiria a relatoria da Lava Jato. “Deltan, fale com Barroso. Insista para ele ir para a 2ª Turma”, teria dito Anna Carolina Resende. “Ele ficou alijado de todo processo. Ninguém consultou ele em nenhum momento. Há poréns na visão dele em ir, mas insisti com um pedido final. É possível, mas improvável… Por favor, não comente isso com ninguém”, teria respondido Deltan.
A relatoria da Lava Jato foi entregue a Fachin e a vaga de Teori a Alexandre de Moraes. Cerca de um ano depois, o ministro foi alvo dos procuradores, pois ainda não tinha proferido voto sobre prisão em segunda instância. Na ocasião, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região havia confirmado a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no caso do triplex. O petista poderia ir preso a qualquer momento.
“Temos que reunir informações de que no passado apoiava a execução após julgamento de segundo grau e passar para os movimentos baterem nisso muito. Para o Vem pra Rua e Nas Ruas. Mostrar que a mudança beneficia Aécio [Neves] e PSBbistas”, teria orientado Deltan a colegas.
O procurador teria encaminhado a troca de mensagens a um assessor do Ministério Público Federal (MPF) para pedir ao profissional que o ajudasse a reunir material que pudesse constranger Moraes.
Deltan teria dito ainda à procuradora Thaméa que havia aderido a um abaixo-assinado restrito a juízes e procuradores a favor da prisão em segunda instância. E teria pedido que houvesse outras listas da sociedade: “Se você topar, vou te pedir para ser laranja em outra coisa que estou articulando. Kkkk”.
PGR
Dallagnol também teria usado os dois grupos para pressionar o então presidente Michel Temer a indicar o primeiro nome da lista tríplice para o cargo de procurador-geral da República.
“Vocês conseguem articular com VPR [Vem pra Rua] e outros uma campanha para a escolha do mais votado, com hashtag e tal? Há um risco de Temer querer nomear amanhã mesmo, para evitar essa pressão… por isso o quanto antes, melhor”, teria comentado Deltan com procuradores.
Procurado, o MPF informou ao The Intercept que “é lícito aos procuradores da República interagir com entidades e movimentos da sociedade civil e estimular a causa de combate à corrupção”. E explicou ainda que “o procurador Deltan Dallagnol não lidera nem integra o Mude, mas apoia o instituto que é apartidário; conhece seus integrantes e seu compromisso com a causa pública e fez doações, que permitiram o desenvolvimento de um curso online de cidadania”.
O Mude explicou que “o contato com o coordenador da maior operação de combate à corrupção já realizada no Brasil é natural”. Já o Vem pra Rua disse que “na campanha a favor das 10 Medidas Contra a Corrupção buscou parcerias de outros movimentos, entidades e pessoas alinhadas com seus ideais, mantendo sempre sua autonomia”.