Vaza Jato: força-tarefa teria ironizado morte de Marisa e luto de Lula
Diálogos revelam que procuradores da República teriam discutido ida do ex-presidente ao enterro do irmão Vavá, que morreu em janeiro
atualizado
Compartilhar notícia
Integrantes da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba teriam ironizado a morte da ex-primeira-dama Marisa Letícia, esposa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Além de relativizar o luto, os procuradores teriam divergido sobre o pedido do petista para ir ao enterro do irmão Genival Inácio da Silva, o Vavá, em janeiro deste ano.
As constatações aparecem em diálogos entre os procuradores, obtidos pelo The Interpect Brasil e publicados nesta terça-feira (27/08/2019) pelo site Uol Notícias. O material faz parte do acervo da Vaza Jato, obtido via fonte anônima.
Morte da Marisa
Em 24 de janeiro de 2017, Marisa Letícia sofreu um AVC hemorrágico. A internação no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, teria sido comentada em chat no aplicativo Telegram no mesmo dia.
“Um amigo de um amigo de uma prima disse que Marisa chegou ao atendimento sem resposta, como vegetal”, teria dito o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa em Curitiba. Em seguida, Januário Paludo responderia: “Estão eliminando as testemunhas…”
A morte da ex-primeira-dama foi confirmada em 3 de fevereiro. Um dia antes, a procuradora da República, Laura Tessler, teria sugerido que Lula faria uso político da perda da mulher. “Quem for fazer a próxima audiência do Lula, é bom que vá com uma dose extra de paciência para a sessão de vitimização”, escreveu. “Querem que eu fique para o enterro?”, teria comentado Jerusa Viecili, no dia seguinte.
Enterro de Vavá
A maneira com que Lula externou a perda de parentes e eventuais manifestações públicas de apoio ao ex-presidente nesses momentos teriam sido debatidas por procuradores em ao menos outros dois episódios em 2019: em 29 de janeiro, ocasião em que o irmão Vavá morreu em decorrência de um câncer, e, a partir de 1º de março, quando foi confirmada a morte do neto Arthur.
O procurador Athayde Ribeiro Costa, prevendo o pedido de Lula para ir ao enterro, teria feito uma ressalva em relação à possível repercussão internacional negativa que a proibição traria. “Mas se não for, vai ser uma gritaria e um prato cheio para o caso da ONU [Organização das Nações Unidas]”, teria dito.
O procurador Orlando Martello disse achar “uma temeridade ele [Lula] sair. Não é um preso comum, vai acontecer o que aconteceu na prisão”. E teria concluído: “A militância vai abraçá-lo e não o deixarão voltar. Se houver insistência em trazê-lo de volta, vai dar ruim!”.
No chat, Antônio Carlos Welter teria concordado com a PF, mas disse acreditar que Lula tinha o direito de ir ao enterro do irmão. “Eu acho que ele tem direito a ir, mas não tem como”. Januário Paludo, então, responderia: “O safado só queria passear e o Welter com pena”. Laura Tessler teria comentado: “O foco está em Brumadinho… logo passa… muito mimimi”.
Outro lado
Procurada pela reportagem, a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba disse que não poderia se manifestar sem ter acesso integral às conversas. As procuradoras da República Thaméa Danelon e Monique Cheker responderam, por meio das assessorias de imprensa do MPF em São Paulo e, no Rio de Janeiro, respectivamente, que não se manifestariam sobre as mensagens citadas na reportagem.