Testemunha diz que Lula cobrou via caseiro andamento da reforma
O sítio de Atibaia é alvo de ação penal da Operação Lava Jato contra o ex-presidente
atualizado
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O encarregado de obras Misael de Jesus Oliveira, da OAS Empreendimentos, revelou nesta segunda-feira (18/6), em depoimento ao juiz federal Sérgio Moro, uma “cobrança” do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação ao lago do sítio de Atibaia (SP). Misael narrou que o caseiro “Maradona” passava recados do petista.
A propriedade é alvo de ação penal da Operação Lava Jato contra o ex-presidente. Lula é acusado de corrupção e propina nas reformas do sítio. O ex-presidente nega ser o dono do imóvel e, também, que tenha recebido valores ilícitos.
“Ela (Marisa) me pediu para ver com ela para colocar o forno, me pediu para a gente olhar, dar uma opinião para ela”, disse. Misael disse que trabalha na OAS desde agosto de 2013. “Todas as quartas ela (Marisa Letícia) ia com o segurança e nos finais de semana. O ex-presidente eu vi duas vezes lá”, afirmou.
Segundo Misael, Lula não interferia diretamente, só mandava recados.”Ele (‘Maradona’) falava: o presidente tá perguntando quando vai ficar pronto o lago, quando que vai mexer no lago, o que está acontecendo no lago”, acrescentou.
O encarregado de negócio contou que Marisa e “Maradona” nunca perguntaram os custos da reforma, custeadas pela OAS. O encarregado de obras estimou as obras em “R$ 400 mil a R$ 500 mil” entre material e mão-de-obra.
“Quando eu saía da OAS, do escritório da Avenida Angélica, eu levava um valor em dinheiro. Junto com esses valores em dinheiro, eu fazia as compras e guardava as notas. Tudo que eu comprava lá em Atibaia, nos depósitos da região, eu prestava contas quando eu voltava para a empresa”, afirmou.
Ele relatou que comprava o material com dinheiro em espécie. De acordo com o funcionário, a operação não é praxe na companhia. “Normalmente, é comprado pela empresa. Quando eu faço algum serviço pela empresa, eu faço três cotações, orçamentos e compra do fornecedor mais barato e a gente executa. Mas isso tudo é pela compra da própria empresa, do setor de compras”, disse.
O funcionário relatou que não usava o nome da OAS para as compras. “Normalmente, eu pedia no meu nome, ‘Misael’. Pedia para entregar no endereço que era no sítio”, explicou. Ao juiz Moro, o funcionário disse que participou das obras do sítio de Atibaia em 2014. A reforma teria começado logo depois do carnaval e durado até as eleições daquele ano.
“Meu gerente Luis Alberto me chamou na área dele, com mais três pessoas que trabalhavam comigo, e falou que a gente ia fazer uma reforma num sítio em Atibaia, seria uma reforma no sítio do presidente”, narrou a testemunha.
Misael disse que ia “todos os dias” à obra em Atibaia. Ele contou que havia um projeto para construção de uma capela para 12 pessoas na propriedade, que não chegou a ser realizado. “Assim que passasse a eleição, (ia) começar o serviço da capela”, afirmou. “Conversando com o pessoal da empresa, eles pediram para esticar um pouco, para deixar a eleição passar até para ver se a presidente Dilma ia ser reeleita. (…) Pelo que eu entendi, se a Dilma ganhasse, a gente fazia a obra.”
No depoimento, ele afirmou ainda que o caso era tratado em segredo “desde o começo”. Segundo ele, os funcionários que trabalhavam na obra iam para o sítio sem o crachá da OAS, deixavam “guardado na empresa”.
“Eles pediram para a gente fazer sigilo porque a gente ia trabalhar no sítio do presidente. (inaudível). Ninguém pode ficar sabendo disso, nem aqui na empresa, nem fora. (Inaudível) que a gente não usasse o uniforme da empresa. Foi feito um uniforme sem o nome da empresa”, relatou.
Defesa
Em nota, o advogado Cristiano Zanin Martins, que defende Lula, afirmou: “A testemunha, que é funcionário da OAS esclareceu que as supostas intervenções ocorridas no sítio de Atibaia que pertence a Fernando Bittar teriam ocorrido em 2014, quando Lula não exercia qualquer cargo público.
Também confirmou que jamais conversou com Lula ou recebeu qualquer valor proveniente de contratos da Petrobras, que é a base da acusação contra o ex-presidente e o argumento dos procuradores para escolher o juiz Sergio Moro para julgar a ação. Lula jamais praticou qualquer crime antes, durante ou após exercer o cargo de Presidente da República”.