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Testemunha diz que Lula cobrou via caseiro andamento da reforma

O sítio de Atibaia é alvo de ação penal da Operação Lava Jato contra o ex-presidente

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CARLOS NARDI/WPP/ESTADÃO CONTEÚDO
Sítio em Atibaia frequentado por Lula
1 de 1 Sítio em Atibaia frequentado por Lula - Foto: CARLOS NARDI/WPP/ESTADÃO CONTEÚDO

O encarregado de obras Misael de Jesus Oliveira, da OAS Empreendimentos, revelou nesta segunda-feira (18/6), em depoimento ao juiz federal Sérgio Moro, uma “cobrança” do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação ao lago do sítio de Atibaia (SP). Misael narrou que o caseiro “Maradona” passava recados do petista.

A propriedade é alvo de ação penal da Operação Lava Jato contra o ex-presidente. Lula é acusado de corrupção e propina nas reformas do sítio. O ex-presidente nega ser o dono do imóvel e, também, que tenha recebido valores ilícitos.

Misael foi ouvido como testemunha de defesa de outros dois réus no mesmo processo, o empresário Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, e o executivo Paulo Gordilho. O encarregado citou a ex-primeira-dama Marisa Letícia, morta em fevereiro de 2017, que teria pedido uma avaliação. Ele relatou que ela solicitara uma avaliação de um forno na churrasqueira.

“Ela (Marisa) me pediu para ver com ela para colocar o forno, me pediu para a gente olhar, dar uma opinião para ela”, disse. Misael disse que trabalha na OAS desde agosto de 2013. “Todas as quartas ela (Marisa Letícia) ia com o segurança e nos finais de semana. O ex-presidente eu vi duas vezes lá”, afirmou.

Segundo Misael, Lula não interferia diretamente, só mandava recados.”Ele (‘Maradona’) falava: o presidente tá perguntando quando vai ficar pronto o lago, quando que vai mexer no lago, o que está acontecendo no lago”, acrescentou.

O encarregado de negócio contou que Marisa e “Maradona” nunca perguntaram os custos da reforma, custeadas pela OAS. O encarregado de obras estimou as obras em “R$ 400 mil a R$ 500 mil” entre material e mão-de-obra.

“Quando eu saía da OAS, do escritório da Avenida Angélica, eu levava um valor em dinheiro. Junto com esses valores em dinheiro, eu fazia as compras e guardava as notas. Tudo que eu comprava lá em Atibaia, nos depósitos da região, eu prestava contas quando eu voltava para a empresa”, afirmou.

Ele relatou que comprava o material com dinheiro em espécie. De acordo com o funcionário, a operação não é praxe na companhia. “Normalmente, é comprado pela empresa. Quando eu faço algum serviço pela empresa, eu faço três cotações, orçamentos e compra do fornecedor mais barato e a gente executa. Mas isso tudo é pela compra da própria empresa, do setor de compras”, disse.

O funcionário relatou que não usava o nome da OAS para as compras. “Normalmente, eu pedia no meu nome, ‘Misael’. Pedia para entregar no endereço que era no sítio”, explicou. Ao juiz Moro, o funcionário disse que participou das obras do sítio de Atibaia em 2014. A reforma teria começado logo depois do carnaval e durado até as eleições daquele ano.

“Meu gerente Luis Alberto me chamou na área dele, com mais três pessoas que trabalhavam comigo, e falou que a gente ia fazer uma reforma num sítio em Atibaia, seria uma reforma no sítio do presidente”, narrou a testemunha.

Misael disse que ia “todos os dias” à obra em Atibaia. Ele contou que havia um projeto para construção de uma capela para 12 pessoas na propriedade, que não chegou a ser realizado. “Assim que passasse a eleição, (ia) começar o serviço da capela”, afirmou. “Conversando com o pessoal da empresa, eles pediram para esticar um pouco, para deixar a eleição passar até para ver se a presidente Dilma ia ser reeleita. (…) Pelo que eu entendi, se a Dilma ganhasse, a gente fazia a obra.”

No depoimento, ele afirmou ainda que o caso era tratado em segredo “desde o começo”. Segundo ele, os funcionários que trabalhavam na obra iam para o sítio sem o crachá da OAS, deixavam “guardado na empresa”.

“Eles pediram para a gente fazer sigilo porque a gente ia trabalhar no sítio do presidente. (inaudível). Ninguém pode ficar sabendo disso, nem aqui na empresa, nem fora. (Inaudível) que a gente não usasse o uniforme da empresa. Foi feito um uniforme sem o nome da empresa”, relatou.

Defesa
Em nota, o advogado Cristiano Zanin Martins, que defende Lula, afirmou: “A testemunha, que é funcionário da OAS esclareceu que as supostas intervenções ocorridas no sítio de Atibaia que pertence a Fernando Bittar teriam ocorrido em 2014, quando Lula não exercia qualquer cargo público.

Também confirmou que jamais conversou com Lula ou recebeu qualquer valor proveniente de contratos da Petrobras, que é a base da acusação contra o ex-presidente e o argumento dos procuradores para escolher o juiz Sergio Moro para julgar a ação. Lula jamais praticou qualquer crime antes, durante ou após exercer o cargo de Presidente da República”.

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