Sócia acusa empresa da família Queiroz Galvão de desvio de recursos
Companhia Constellation teria feito transferências milionárias para subsidiária, sediada no exterior, meses antes de quase falir
atualizado
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A empresa de aluguel de plataformas da família Queiroz Galvão é acusada por um sócio de fazer, de forma irregular, transferências milionárias para uma subsidiária sediada no exterior meses antes de quase quebrar. A Constellation, como foi rebatizada a Queiroz Galvão Óleo e Gás, entrou com pedido de recuperação judicial no início de dezembro para se proteger da execução de dívidas que somam US$ 1,7 bilhão – R$ 6,6 bilhões pelo câmbio atual.
A acusação feita pela brasileira Alperton está detalhada em ação que corre na Justiça das Ilhas Virgens Britânicas. No processo, ao qual o jornal O Estado de S. Paulo teve acesso, diretores da Alperton detalham a disputa e apontam o que consideram transferências “impróprias” feitas a mando da Constellation, controlada pelos Queiroz Galvão.
O negócio da Constellation é o aluguel e a operação de plataformas de petróleo, especialmente para a Petrobras. Em sua frota, há oito sondas. A Alperton é sócia, com 45%, de duas delas: a Amaralina e a Laguna. Como é minoritária, a Alperton tem representantes no conselho das duas empresas que controlam e administram essas plataformas, mas as decisões gerenciais ficam a cargo da Constellation, dos Queiroz Galvão.
De acordo com o documento, a Alperton tenta, desde outubro de 2017, obter informações detalhadas sobre o balanço financeiro de Amaralina e Laguna, ambas sediadas nas Ilhas Virgens Britânicas, mas a Constellation vinha se recusando a fornecê-las, alega a Alperton. O desconforto dos sócios aumentou quando perceberam uma movimentação suspeita: tanto Amaralina quanto Laguna faziam pagamentos recorrentes e milionários a uma companhia chamada Constellation Services, também sediada nas Ilhas Virgens Britânicas e igualmente controlada pela empresa dos Queiroz Galvão.
Os pagamentos, que em 2016 e 2017 somaram cerca de US$ 200 milhões (quase R$ 800 milhões), eram feitos a título de “adiantamentos”. O dinheiro seria usado para a compra de equipamentos e serviços para as plataformas, explicou a Constellation, na ação judicial. Ao reunir o dinheiro numa só conta, negociava compras em conjunto e conseguia preços melhores, alegou a Constellation no processo.
O problema, alegam os diretores da Alperton no documento, é que a Constellation não apresenta as notas fiscais e os contratos de compra para comprovar o uso dos recursos desviados do caixa de Amaralina e Laguna.
Além da ausência de documentos, diretores da Alperton afirmam que a suspeita de que as transferências são irregulares é reforçada diante do custo de operação e do valor de investimento “desproporcionalmente altos” para duas plataformas tão novas (as sondas ficaram prontas em 2012).
A Alperton nota ainda no processo que repasses mensais de US$ 3,5 milhões eram feitos para a mesma Constellation Services, sem uma justificativa clara.
Outro lado
Procurada, a Alperton confirmou, por meio de uma nota, que “vem buscando há um ano, sem sucesso, esclarecimentos acerca de transações entre partes relacionadas efetuadas pela Constellation”.
De acordo com a companhia, tais operações ocorreram “aparentemente em fraude e violação aos acordos firmados entre os sócios”. Disse ainda que não concordou com o ajuizamento da recuperação judicial e que seus diretos “são objeto de arbitragem iniciada em Nova York, cujo conteúdo é confidencial”.
Os Queiroz Galvão e a Constellation também foram procurados, mas não quiseram comentar.